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Política e parentesco nos Xerente.

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A tese retoma os estudos sobre os Xerente, um povo indígena Jê do Brasil Central. O sistema de parentesco xerente foi classificado como omaha, mas sua estrutura terminológica oblíqua e assimétrica não foi explorada para entender o regime de trocas matrimoniais e o campo da ação política. O estudo parte da noção nativa de respeito que corresponde ao ponto de partida da sociabilidade, pois o respeito funda e organiza a vida social, preside os rituais e as trocas matrimoniais. As pinturas corporais, com os padrões de círculo e traço, despertam de forma imediata um sentido que os Xerente traduzem por wasiwaze ou "nosso respeito recíproco". A investigação, apoiada em uma ampla base de dados, correlaciona clãs e metades com as práticas de casamento e com os assentamentos no seu território. A análise do dualismo Xerente revela uma estrutura social que é idealmente representada como simétrica. Neste quadro, todavia, a assimetria se infiltra via relações de parentesco. Em presença de trocas unilaterais, os afins se bifurcam em doadores e tomadores de mulheres, produzindo uma estrutura triádica de troca. A interdição da linha materna e a impossibilidade de troca de irmãs projetam o indivíduo numa estrutura de troca assimétrica, ao longo de algumas gerações. A política se funda nos grupos moldados pelas relações de parentesco, mas aqui a ação política será melhor compreendida como um esforço para restabelecer a ordem simétrica ideal, neutralizando essas relações. Da ação política, porém, resultam grupos sociais eqüiestatutários, mecanicamente justapostos, onde a representação é sempre suspeita e muito fugazes os momentos de ação concatenada. Com raras formas de representação coletiva, a política, assim como os rituais, concerne à reprodução simbólica da diferença e persegue o ideal de autonomia de cada assentamento ou grupo social