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KGT00006
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665
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2021
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Porto Alegre
O trabalho inscreve-se em um exercício de análise da colonialidade do poder entre os Kaingang que se encontram em processo de recuperação territorial no Rio Grande do Sul. Busca compreender as expressões da colonialidade a partir da sua reprodução no seio das relações históricas, políticas e de trabalho e aborda-se iniciativas no seio das quais se perfilam e almejam alternativas de vida que a desafiam. Para isso, realizou-se uma pesquisa desde a antropologia histórica, a partir tanto de fontes historiográficas quanto das narrativas orais e históricas dos Kaingang. Analisa-se as relações de trabalho passadas e atuais sendo que essas são diretamente vinculadas aos processos de despossessão dos Kaingang dos seus territórios. Visualiza-se nelas o eixo central da reprodução da colonialidade do poder entre os Kaingang. O regime tutelar que se constituiu sobre as populações indígenas junto à construção do Estado-nação brasileiro destacou-se como um dos pilares que possibilita a reprodução da dominação colonial. Utilizou-se o método etnográfico para a elaboração de uma pesquisa colaborativa com os Kaingang que, nas retomadas, buscam recuperar junto com o território, práticas sociais e rituais e assim também, sua história. Destaca-se a importância dos mais velhos (kofá), das lideranças espirituais (kujà) e das mulheres nos processos de recuperação territorial tanto na sua preparação quanto na elaboração de projetos futuros. No interstício entre a memória do despojo e da violência colonial e a memória dos antepassados, que no tempo antigo, vãsy, “antes da civilização”, viviam bem, os Kaingang rompem as grades, das propriedades, mas também do paternalismo tutelar e da dependência construindo alternativas de vida que almejam a retomada da sua autonomia.