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Memórias de um sertão desencantado: modernização agrícola, narrativas e atores sociais nos cerrados do sudoeste piauiense.

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Nos anos 70, novas áreas no Centro-Sul do Brasil começam a ser incorporadas à estrutura produtiva do agribusiness de carnes e grãos, em um processo que avança nos anos 80 até a região Nordeste, e mais especificamente rumo ao sudoeste do Estado do Piauí. Esse processo de incorporação produtiva é descrito neste estudo como o desencantamento de um sertão simbólico e a simultânea invenção dos cerrados enquanto fronteira produtiva. O foco da análise são as narrativas da modernização agrícola que são formuladas em termos do contraste entre o sertão e os cerrados, entre passado e futuro. O prisma teórico adotado baseia-se na ideia da memória' social como fonte de conhecimento da vida social e como um campo de disputas no qual sobressaem as narrativas mestras e as narrativas eclipsadas. O conceito de narrativas mestras aplica-se aqui ao discurso hegemônico do Estado e das corporações privadas, visto através de fontes predominantes escritas e referido ao Brasil, como um todo, ao Nordeste e, em particular, ao Piauí. As narrativas eclipsadas são vistas a partir do discurso eminentemente oral de camponeses e de seus mediadores, localizados nos cerrados do sudoeste piauiense. As narrações dominantes constituem peça fundamental, de um projeto desenvolvimentista que resultou na instituição social de uma fronteira agrícola para o capital, através da criação de um agroecossistema baseado nas chapadas, dominado pelos interesses do agribusiness. Já as narrações obliteradas emergem como falas sobre os cerrados que trazem à tona o mundo da vida que se desenrola entre o baixão e a chapada. Assim, enquanto as primeiras diagnosticam as chapadas como um vazio demográfico, cultural e econômico a ser desenvolvido, silenciando sobre os baixões, as narrações subalternas contribuem para uma compreensão dos cerrados como um lugar social e ecologicamente integrado, no qual tanto o baixão como as chapadas desempenham papéis humanos e ambientais. Fazem isso através de uma verdadeira anamnese do par sertão/cerrados, através da qual o passado é recuperado como pleno de historicidade. Essa recuperação do passado do ponto de vista dos sujeitos ameaçados é acionada para garantir a legitimidade de seus direitos e de seus projetos de inclusão, ante a ameaça de exclusão cada vez mais definitiva que paira no presente. Esperamos que o foco na dimensão superestrutural da vida social, trazendo à tona tanto as narrativas quanto processos e atores sociais, contribua para desvendar a prática social das populações dos cerrados e sua situação atual.