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Dois exemplos

O Globo, Opinião, p. 6
07 de Jan de 2007

Dois exemplos

Ao mesmo tempo em que se prepara para sediar os Jogos Olímpicos de 2008, Pequim enfrenta o que parece ser o pior período da sua História em termos de poluição. Os hospitais estão repletos de gente com problemas respiratórios, as autoridades recomendam a quem puder que fique em casa, e os jornais advertem os que têm de sair às ruas a usar alguma forma de proteção no rosto.

É o preço da desertificação que resulta, entre outros fatores, do avanço contínuo do desmatamento imposto por um ritmo de progresso de que só recentemente se deu conta dos efeitos ambientais. 0 ar e os rios estão brutalmente poluídos, e os recursos naturais, inclusive a madeira, encontram-se em rápido

processo de esgotamento, enquanto o governo insiste num crescimento econômico anual em torno de 9%. Ou insistia, pois já começou a demonstrar que compreendeu que essa trajetória não pode ser mantida indefinidamente. 0 país já se volta para a energia solar, ao uso de diesel em carros a passeio, para a recuperação das águas e do ar.

Pois enquanto a China sofre as conseqüências ambientais do crescimento a todo custo, o Brasil está na posição paradoxal de prejudicar o meio ambiente - e também não crescer - por um tratamento dogmático da própria questão ecológica, dado em alguns desvãos do governo.

Um cipoal de leis e a burocracia ambiental fazem atrasar indefinidamente a concessão de licenciamento para a construção de hidrelétricas, que não emitem gases de efeito estufa nem poluem os rios; igualmente, por pretender proteger o ambiente (e a saúde), bloqueia-se na CTNBio a liberação de produtos transgênicos e até de vacinas veterinárias. Os ambientalistas radicais parecem desconhecer o mal muito maior causado pelas culturas tradicionais, com seu uso intensivo de agrotóxicos. A idéia de impedir a vacinação de rebanhos dispensa comentários.

Assim como os chineses já deixaram de ignorar a destruição que o progresso acelerado e inconseqüente causa ao ambiente, o Brasil não pode manter essa postura de ambientalismo ideológico. Explorar reciclando, preservar, reflorestar e, assim, proteger recursos naturais, enquanto a economia cresce de forma sustentada, é perfeitamente possível. Só o que exige é realismo.

O Globo, 07/01/2007, Opinião, p. 6

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