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Marina, ambientalistas e o 'alvoroço' com a aliança de Lula com o agronegócio

O Globo - https://blogs.oglobo.globo.com/
20 de Jul de 2022

Marina, ambientalistas e o 'alvoroço' com a aliança de Lula com o agronegócio

Johanns Eller

20/07/2022

A aproximação entre a campanha do ex-presidente Lula e ruralistas com digitais em projetos caros ao presidente Jair Bolsonaro, como o chamado PL da Grilagem e a revisão do licenciamento ambiental conhecida como "mãe de todas as boiadas", tem provocado ruídos no momento em que o entorno do petista tenta uma reconciliação com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP).

Nos últimos dias, o PT declarou apoio enfático à candidatura de Neri Geller (PP) ao Senado pelo Mato Grosso. Nesta terça-feira, o partido celebrou em seu site o apoio de Carlos Fávaro (PSD-MT) à chapa Lula-Alckmin.

A equipe do blog entrou em contato com Marina, que disputou a Presidência duas vezes e é pré-candidata a deputada federal por São Paulo. Em resposta, a ex-ministra alertou que a aproximação do PT com o setor dificulta o respeito a compromissos já assumidos com indígenas e ambientalistas e indagou se a aproximação representa uma inflexão no posicionamento do partido.

Segundo apurou o blog, o apoio regional do PT a Geller, com o suporte de Lula e do pré-candidato a vice Geraldo Alckmin (PSB), já havia repercutido mal na Rede. Mas a confirmação da colaboração de Fávaro com a campanha causou "alvoroço", nas palavras de um membro importante do partido.

Geller, hoje deputado federal e ex-ministro de Dilma, é autor do projeto que ficou conhecido como "mãe de todas as boiadas" e consternou ambientalistas no ano passado. A pauta, aprovada na Câmara e que hoje tramita no Senado, na prática extingue o licenciamento ambiental em mais de dez atividades de elevado risco ambiental.

Já Fávaro é conhecido como o responsável pelo parecer do chamado PL da Grilagem, que definiu um novo marco da regularização fundiária em terras da União. O texto, que também tramita no Senado, amplia em quase dez anos o prazo para regularização de terras invadidas por meio de licitação e expande o processo regulatório por meio de autodeclarações sem a vistoria das autoridades.

"Não há escolha que não tenha consequência. Aliar-se àqueles que lideram a articulação dos PLs da destruição é criar amarras com o atraso, estimular vetos internacionais ao agronegócio do Brasil e manter o país na condição de pária ambiental, uma das grandes conquistas do governo Bolsonaro", declarou Marina.

"Com aliados desse tipo, ficará difícil cumprir as promessas feitas aos indígenas, aos ambientalistas, ao setor do agronegócio que quer se firmar na pauta da sustentabilidade e aos pequenos agricultores", seguiu a nota.

Outra liderança da Rede relata que declarações recentes de Lula já haviam provocado desconforto em Marina. Ela tem sido incentivada por quadros da Rede e do PT a reatar laços com a antiga legenda ainda no primeiro turno.

Um exemplo é a defesa do petista do projeto da usina Belo Monte, duramente criticado por ambientalistas. Lula declarou que faria a obra novamente, sem esboçar arrependimento. Marina foi uma das principais críticas ao projeto, que representou um dos estopins para sua saída do governo em 2008.

Para Adriana Ramos, porta-voz do Instituto Socioambiental (ISA), o PL da Grilagem e o projeto de lei de Geller representam um espelho da política ambiental do bolsonarismo, mas pondera que o peso do setor sobre o mundo político não é novidade.

"Os dois projetos contribuem para o desmonte do governo Bolsonaro e fazem parte da sua estratégia. São inaceitáveis. Porém, estamos confiantes de que precisamos ter um governo aberto ao diálogo, à democracia, com os espaços de participação da sociedade funcionando, para que possamos continuar fazendo essa resistência. É uma pena que o sistema político brasileiro nos leve a esse tipo de situação", afirma Adriana.

A também ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, que atuou no governo Dilma, avalia que as restrições às alianças são pertinentes, mas também argumenta que a composição amplia as chances de Lula.

"É preciso garantir a democracia para a conquista dos avanços necessários nas agendas de meio ambiente e clima. Os arranjos para a realização dos compromissos e de novas visões serão definidos numa pactuação política dos novos rumos do país", diz Izabella.

O aceno do PT a setores controversos do agronegócio inclui também diálogo com o empresário Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura de Temer conhecido como o "rei da soja". Entre ambientalistas e diferentes ONGs voltadas para a causa, o movimento causou rebuliço e manda sinais contrários para o mundo, mas não se compara ao desmonte promovido por Bolsonaro na área.

Interlocutores da causa ambiental também interpretam que o cálculo de atores políticos como Fávaro e Geller, que atuaram em prol da agenda bolsonarista no Senado, representa uma tentativa de promover um "banho de loja" na imagem do setor, muito atrelado ao bolsonarismo, em um eventual governo Lula.

A produção de soja no Mato Grosso, terra dos dois parlamentares, é um exemplo. A divisão nacional e estadual da Associação de Produtores de Soja (Aprosoja) tiveram suas contas bloqueadas pelo Supremo Tribunal Federal por suspeita de financiamento de atos antidemocráticos, incluindo os protestos de 7 de setembro.

A perspectiva, neste cenário, é que a aliança ao possível governo petista suavize a imagem do negócio, na mira de parceiros estrangeiros como a União Europeia (UE).

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