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Mitopoética na percepção da natureza na aprendizagem Panará.

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A intenção da pesquisa é compreender como são percebidas as noções de natureza e aprendizagem sob o ponto de vista do povo Panará, por meio da inter-relação da mitologia com as práticas sociais. Este povo pertence ao tronco linguístico Jê e habita entre as cabeceiras dos rios Iriri e Peixoto de Azevedo, abrangendo os municípios de Guarantã do Norte (MT) e Altamira (PA). A fenomenologia de Merleau-Ponty e o interpretativismo de Geertz constituem a base teórico-metodológica na compreensão de outra maneira de pensar, sentir e agir na relação com o mundo, tornando o estudo uma tradução cultural orientado para a alteridade na compreensão interpretativa. Por meio da oralidade, de geração a geração, a mitologia, em seu dinamismo, tem valor pedagógico, atuando na construção de um específico ponto de vista sobre as existências do ambiente habitado. Diferente da epistemologia das sociedades industriais, os animais e os astros são dotados de intenção e capacidade reflexiva, posicionados como sujeitos sociais e interventivos, em permanente interação social com as pessoas panará. Nesta pesquisa, compreende-se uma cosmologia em que os animais foram sujeitos ativos em contextos de aprendizagem de vários conhecimentos praticados no cotidiano. Embora a condição antropomórfica não atue mais como possibilidade, os espíritos deles permanecem em situação de equivalência com os dos Panará, de modo que os pajés são os que detêm o saber e o poder de com eles continuarem se comunicando. A mitologia, por fim, assume relevância no ensino e aprendizagem deste povo, e por ela é engendrada uma percepção de natureza, inscrita nas condutas sociais, decisivas para a configuração do ambiente. A dimensão da espiritualidade presencia-se nessa percepção. Esse estudo, portanto, expande o universo teórico sobre natureza e, paralelamente, é instrumento para ampliar a base conceitual desta categoria nas políticas públicas, bem como nos projetos públicos e privados. Assim, legitimando simetricamente os saberes técnico-científicos e mitológicos, incorporando-os na construção de uma sociedade global inclusiva e híbrida.