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Tem que colocar dinheiro na mesa

O Globo, O País, p. 12
Autor: ADÁRIO, Paulo
08 de Jun de 2008

`Tem que colocar dinheiro na mesa'

Corpo a Corpo

Paulo Adário

O jornalista Paulo Adário é diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace, onde atua há 14 anos. Para ele, se o estímulo de desmatar é econômico, é preciso colocar dinheiro na mesa. Por isso aposta em melhorias a partir da criação de um fundo financeiro mundial para salvar a floresta.

O Globo: Por que o desmate na Amazônia cresce tanto?

Paulo Adário: Por fatores como pressão de mercado por preços mais competitivos de comida e um cenário de governança que deixa a desejar. A perspectiva no longo prazo é muito negativa. Os preços das commodities não vão cair tão cedo, a crise de alimentos chegou para ficar. O Brasil tem uma das poucas fronteiras agrícolas do mundo em expansão, que é a Amazônia. Então, o futuro da floresta está ligado ao papel que o Brasil jogará. Só que está sendo feita uma equação equivocada do ponto de vista político e idiota do ponto de vista ambiental. A destruição da Amazônia fragiliza a imagem do Brasil.

A agricultura poderia ajudar na redução do desmatamento?

Adário: O Brasil tem grandes extensões de terras já desmatadas, onde se pode mais que dobrar a produção. Mas não se faz isso porque o custo de recuperação de área desmatada é maior que desmatar mais. Em vez de corrigir solo, ataca-se mais floresta. Esse agricultor precisa de cultura ambiental, governança e estímulo. Qual a compensação que precisa para não desmatar? É uma questão financeira. Por isso se discute a criação de um fundo, centralizado no BNDES, para pagar compensações ambientais. Quando se resolve o financeiro e a governança, resolve-se o desmatamento. Se o estímulo de desmatar é econômico, tem que colocar dinheiro na mesa.

Quais são as propostas do Greenpeace?

Adário: Intensificar o uso das áreas já degradadas, melhorando a tecnologia da agropecuária. Investir em opções florestais com base na floresta em pé: raízes, fibras, óleos, coisas que só o Brasil tem.

E a indústria madeireira?

Adário: Hoje ela tem um papel de vilão, mas pode ter um papel melhor na geração de emprego e renda. O segredo é investir na economia de base florestal. (S.A.)

O Globo, 08/06/2008, O País, p. 12

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