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Sustentabilidade da lucro

JB, Economia, p. A18
Autor: ATHAYDE, Eduardo
20 de Ago de 2005

Sustentabilidade dá lucro

Eduardo Athayde

Pesquisa global realizada pela PricewaterhouseCoopers (PWC) entre os presidentes (CEOs) das maiores empresas do mundo e divulgada durante o Fórum Econômico Mundial de Davos mostrou que a adoção dos reconhecidos conceitos de governança corporativa, gestão de risco e conformidade às normas legais, batizados de GRC (governance, risk management and compliance), aliados a inovados conceitos de gestão holística, ajuda na valorização e na sustentabilidade das corporações.
Essa oitava edição da pesquisa da PWC reuniu 1.324 entrevistas realizadas entre setembro e novembro de 2004: 392 na Europa, 297 na Ásia, 257 na América do Sul, 224 nos EUA (80 no Canadá e 39 no México) e 35 na África. 76 CEOs foram ouvidos no Brasil.
Pesquisas do Banco Mundial, realizadas em universo exterior às empresas, podem complementar os dados da PWC. O banco mostra o relacionamento como uma forma de capital, o chamado capital social que, como o capital financeiro, rende juros. Laços sociais criam redes de reciprocidade e informações que lubrificam a atividade econômica. A ausência do capital social está ligada a um fraco crescimento econômico, afirmam economistas do banco.
Juntando as pesquisas, ampliamos os horizontes para entender como a transparência corporativa pode se relacionar com o tecido social em diversos níveis e contribuir para o aumento de valor das empresas e a melhoria das sociedades onde atuam.
A pesquisa da PWC mostra também que a responsabilidade ambiental é considerada crucial para 91% dos CEOs no Brasil. O desafio das empresas agora é tentar entender a responsabilidade ambiental num outro paradigma, o da responsabilidade sobre ativos ambientais, e capacitarem-se para transformá-los em econegócios, que, garantindo a preservação e o equilíbrio dos ecossistemas, gerem lucros sociais, econômicos e ecológicos de forma integrada.
Esse é um potencial que gravita despercebido nas corporações e nas suas cadeias de clientes e fornecedores. Se a estratégia migrar da visão de gestão ambiental para gestão dos potenciais ativos ambientais, pode desencadear ações voltadas a econegócios que atendam às conformidades legais e transformem riscos ambientais em oportunidades de geração de rendas adicionais, reduzindo impactos e valorizando as empresas.
O Dow Jones Sustainability Index (DJSI) dá exemplos concretos do lucro real da sustentabilidade. Revisado anualmente, o índice é composto por ações de empresas de reconhecida sustentabilidade corporativa, ou seja, aquelas que conseguem aproveitar oportunidades e ganhar com o gerenciamento de riscos econômicos, ambientais e sociais. O DJSI reúne 318 empresas em 24 países, que totalizam US$ 6,5 trilhões em valor de mercado.
– Hoje, apenas três empresas brasileiras fazem parte do DJSI. Outras das nossas 34 companhias listadas na Bolsa de Valores de Nova York poderiam usufruir dessa vantagem competitiva; (...) estão deixando de alcançar melhor cotação em suas ações – destaca Marco Fujihara, diretor de sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers para a América Latina.
Impulsionadas pela noção de que transparência dá lucro, empresas de capital fechado ampliam voluntariamente a divulgação das suas informações contábeis, entendendo que transparência e confiança andam juntas, revela a PWC. Confiança pode resultar em atração de mercados. A abertura (disclosure) adiciona valor e melhora a "marca" (brand) das empresas.
A preocupação com a sustentabilidade refletida nos inovadores CEOs é crescente em diversos níveis da sociedade. As universidades que geram capital sob forma de conhecimento são, na grande maioria, mal capacitadas para gestão desse conhecimento, deixando inativo nos estoques da academia exatamente o que falta nas empresas.
Alianças estratégicas entre universidades e empresas, além de contribuir para suas governanças, refletem positivamente na sociedade. Respeitadas as naturezas das instituições, é uma opção para universidades, empresas e CEOs insustentáveis.

Eduardo Athayde Diretor da Universidade Livre da Mata Atlântica (UMA) e do Worldwatch Institute no Brasil (WWI)

JB, 20/08/2005, Economia, p. A18

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