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Sinal verde para Angra 3

O Globo, Economia, p. 21
01 de Jun de 2010

Sinal verde para Angra 3
Sai última licença que faltava para usina nuclear ser construída

Ramona Ordoñez

Vinte e quatro anos, US$ 750 milhões (valores de janeiro de 1999) e muita polêmica depois, começam hoje oficialmente as obras de construção da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) concedeu ontem a licença de construção da central, a última que faltava para o início efetivo das obras, orçadas em R$ 8,4 bilhões. A expectativa é gerar, ao longo da construção, cerca de nove mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Quando a usina entrar em operação, em 2015, serão 500 funcionários.

A Eletronuclear, estatal responsável pela construção e operação de centrais nucleares no país, vai começar hoje mesmo os trabalhos de concretagem do prédio do reator da usina, que fixa o chamado marco zero do projeto. Já estão trabalhando no local, na mesma área onde estão em operação as usinas de Angra 1 e Angra 2, cerca de 1.200 operários. No ano passado, a Eletronuclear iniciou as obras de infraestrutura local com a preparação do terreno. Os recursos virão da Eletrobras e da própria Eletronuclear, além de financiamento do BNDES. O presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, destacou que há 30 condicionantes a serem cumpridas.

- As condicionantes podem ser fornecidas ao longo da execução da obra e não impactam o projeto como um todo. Mas, se não forem cumpridas, a obra será suspensa - advertiu Gonçalves.

A previsão é que a usina comece a gerar energia em meados de 2015 e entre em operação comercial efetivamente no fim do ano.

Para o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, a licença de construção marca o início de uma nova era na área nuclear no país.

Segundo ele, cada vez mais o Brasil vai necessitar de fontes complementares de energia, e as nucleares surgem como uma opção importante.

Othon Luiz estima que o custo médio da energia de Angra 3 será da ordem de R$ 150 por megawatt/hora. Nas térmicas a gás, por exemplo, este custo gira entre R$ 130 e R$ 140.

- É importante o país ter fontes complementares de energia, e a nuclear surge como opção mais limpa e barata - garantiu Othon.
Comissão vai inspecionar obras
Estudos mostram que, levando em conta todas as etapas da produção, incluindo a extração do urânio e a fabricação de equipamentos usados na geração de energia, a nuclear é a que menos emite CO2. Mas há incertezas quanto ao destino dos rejeitos radioativos. Como o combustível usado mantém elevado nível de radiação por milhares de anos, não pode ser descartado na natureza. É inicialmente mantido em piscinas de resfriamento nos próprios reatores e, depois, armazenado em depósitos intermediários para, enfim, ser colocado em repositórios definitivos. E ninguém sabe como manejar estes últimos.

O Brasil vai construir seu primeiro depósito intermediário para rejeitos de alta radioatividade até 2026. O projeto foi uma das condições impostas pelo Ibama para liberar a licença ambiental prévia para Angra 3, em julho de 2008.

O presidente da Cnen explicou que o órgão tem inspetores permanentes em Angra que acompanharão o cumprimento de todas as exigências ao longo das obras. Segundo ele, a comissão terá que dar ainda mais três licenças para a entrada em operação da usina. A próxima será para o uso de material nuclear. Essa licença será concedida na época em que o combustível com o urânio enriquecido será colocado no núcleo do reator. Mais adiante, a Cnen terá que dar a licença para operação na fase de testes, em 2015. Só depois, a Cnen concederá a licença definitiva de operação.

Gonçalves explicou que o órgão já está fazendo concurso para contratar pessoal e dar conta do aumento das atividades. Atualmente, a Cnen tem cerca de 2.700 funcionários, dos quais cerca de 400 técnicos e especialistas trabalham na área de regulação e fiscalização das usinas nucleares. A Cnen fez concurso para admitir mais 200 pessoas e deverá ter que admitir mais 500 em futuro próximo.

Segundo o presidente da comissão, o trabalho de elaboração da licença de construção de Angra 3 levou cerca de quatro anos e teve a participação de 42 técnicos e especialistas. O executivo explicou que, por ser semelhante ao de Angra 2, foi possível reduzir bastante os custos de elaboração.

Uma licença de operação de uma nova usina custa em média US$ 100 milhões, e a de Angra 3 custou cerca de US$ 20 milhões.

As obras de Angra 3 foram iniciadas em 1974 - apenas as escavações na rocha - e paralisadas em 1985. Uma parte dos equipamentos hidráulicos (bombas, compressores etc.) foi comprada na década de 1980 na Alemanha e está estocada em Angra. O país gastou anualmente cerca de US$ 20 milhões na manutenção e preservação desses equipamentos.

O Globo, 01/06/2010, Economia, p. 21

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