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Seca faz Rio Negro bater recorde de 1963 e isola comunidades rurais

OESP, Vida, p. A18
14 de Set de 2010

Seca faz Rio Negro bater recorde de 1963 e isola comunidades rurais
O Rio Solimões também sofre com a estiagem e, em sua calha, sete municípios decretaram estado de emergência. Situação é mais dramática no interior, onde prefeitos reclamam da inércia do governo e dizem que ainda não receberam ajuda

Liège Albuquerque Correspondente / Manaus

A estiagem que castiga boa parte do Estado do Amazonas está fazendo com que o nível baixo das águas dos Rios Negro e Solimões isole comunidades rurais e assuste as autoridades. Em Manaus, o nível do Rio Negro continua batendo recorde em relação a 1963, ano da maior estiagem de sua história. No interior, sete municípios da calha do Solimões estão sob estado de emergência.
A estiagem do Rio Negro está secando até os igarapés dentro de Manaus. Na medição de ontem do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o Negro estava com 19,64 metros, 4 centímetros abaixo da marca da mesma data de 1963. A expectativa é de que o nível deste ano bata o recorde histórico de outubro de 1963, de 13,64 metros.
"Mas continuamos frisando que só podemos diagnosticar o ranking da seca em outubro", destacou o geólogo do CPRM Daniel de Oliveira.
A situação é mais dramática no interior. A Defesa Civil estadual a decretou estado de emergência em São Paulo de Olivença. Trata-se do sétimo município na calha do Rio Solimões e seus afluentes Purus e Juruá sob a medida. Pelo menos 3 mil pessoas de comunidades rurais estão isoladas.
Segundo a Defesa Civil, a ajuda ainda não chegou aos municípios porque o órgão espera resposta desde a semana passada a uma consulta ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre o que será permitido fazer num ano eleitoral.
Inércia. Prefeitos que não querem se identificar reclamam do que chamam de "inércia do Estado" - o que não ocorreu na seca de 2005. Além de São Paulo de Olivença, estão sob estado de emergência os municípios de Tabatinga, Benjamim Constant, Atalaia do Norte, Itamarati, Ipixuna e Guajará.
"Enviamos os relatórios de avaliação de danos (Avadan) ao governo, mas não recebemos nenhum aceno de ajuda. Há comunidades onde não estamos conseguindo chegar nem a pé, precisamos de helicópteros", disse ao Estado o secretário de Planejamento de um dos municípios atingidos.
Apesar da situação crítica, o Rio Solimões - que conduz à maior parte dos municípios do interior do Amazonas - começou a subir no final de semana. Medição feita por técnicos do CPRM marcou ontem 16 centímetros na régua em Tabatinga, a 1.105 quilômetros de Manaus.
No dia 9, o Solimões havia chegado a 32 centímetros negativos, ou seja, abaixo do zero da régua - medição menor que o pico recorde registrado em 2005, de 2 centímetros positivos em outubro. A previsão é de que as chuvas, ainda abaixo da média para o período, sejam mais frequentes a partir desta semana.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100914/not_imp609476,0.php

População tirava água com baldes dos igarapés

Liège Albuquerque Correspondente / Manaus

A cidade de Manaus sofrerá menos neste ano, mesmo se a estiagem do Rio Negro superar as marcas da grande seca de 1963. A avaliação é de quem vivenciou a situação nos anos 60 e hoje enxerga a água mineral engarrafada e os carros-pipas como facilitadores.
"A estiagem já está afetando bastante a navegação, mas hoje em dia temos a modernidade do avião para alguns casos", destacou o arquiteto João Teixeira, de 74 anos, membro da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam).
Em 1963, de acordo com o arquiteto, as bombas que transferiam água do Rio Negro para a cidade de Manaus tiveram de ser levadas para a Praia da Ponta Negra. Isso porque a água não tinha força nem volume para chegar até o reservatório do município.
A Manaus de 1963 era uma cidade pequena, com cerca de 200 mil habitantes, contra os quase 2 milhões de hoje.
"Embora muitos ainda não tenham água encanada, só quem morava no centro da capital possuía água na época", contou Teixeira. Na região central de Manaus moravam apenas 40% da população do Estado.
O arquiteto lembra que, na periferia da capital, as cacimbas (poços) secaram e a alternativa era pegar água em baldes dos poucos igarapés que ainda não tinham secado, como o Mindu - hoje um dos mais poluídos de Manaus.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100914/not_imp609477,0.php

OESP, 14/09/2010, Vida, p. A18

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