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Reinjeção compromete gás de Urucu

Jornal do Commercio-Manaus-AM
Autor: Margarida Galvão
01 de Ago de 2002

O representante da Agência Nacional de Petróleo (ANP), João Carlos Loss, disse ao Jornal do Commercio que a discussão em torno do gás natural de Urucu esbarra numa questão chamada licença ambiental, que está a cargo e competência legal do governo do Estado do Amazonas. Segundo Loss, legalmente a ANP não pode intervir neste caso, a menos que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) intervenha no assunto e delegue à ANP os poderes para resolver o problema.

João Carlos Loss participou do painel "Transporte de Gás na Amazônia" no seminário Meio Ambiente, Gás e Petróleo na Amazônia, promovido pela Comissão de Assuntos Nacionais do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), em parceria com o Conselho Regional do Amazonas (Crea-AM). O evento aconteceu na última terça-feira no Tropical Hotel Manaus.

Loss falou da importância do gás natural para a região amazônica; poderes constitucionais que cabem ao governo federal e ao Estado do Amazonas; vantagens e desvantagem de usar gasoduto e barcaça.

O representante disse que a ANP defende que o gás de Urucu seja transportado de forma mista. Para atender os grandes centros consumidores que o transporte seja realizado por intermédio da utilização do gasoduto, enquanto as pequenas regiões podem ser atendidas via balsas ou barcaça.

Ele disse também que a reinjeção do gás, pelas apresentações feitas dia 30 (no seminário) a coisa já começa a se complicar, porque a curva de produção de líquido já está declinando. Então daqui a pouco o custo de manutenção já não vai viabilizar se mantiver o produto, advertiu. Veja a entrevista a seguir.

Jornal do Commercio - O senhor falou que a questão do transporte do gás natural esbarra na questão da licença ambiental, a cargo do governo do Estado. Em não havendo uma definição com o passar dos anos a ANP poderia intervir?

João Carlos Loss - Legalmente a ANP não tem esse poder. A menos que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) intervenha no assunto e delegue à ANP os poderes para resolver o problema. Do jeito que está não tem como.

JC - O senhor conhece algum caso semelhante no país ou no mundo do produto existir e não ser vendido por falta da modalidade de transporte?

Loss - Não.

JC - Se o gás natural não chegar a Manaus nos próximos anos, existe a possibilidade de ser vendido para outros locais como Rondônia, por exemplo?

Loss - Claro, existe um gasoduto aí, já previsto. Se a Petrobras ou quem quer que seja que faça o transporte do gás via gasoduto, entrar com um pedido de autorização de construção do duto nós vamos autorizar.

JC - O transporte do gás é uma autorização ou concessão?

Loss - É uma autorização. Entrou com um pedido conforme determina a portaria 170/98, que trata da autorização de construção e de operação de dutos, será autorizado, desde que o interessado cumpra os requisitos estabelecidos na portaria.

JC - A Petrobras vem reinjetando parte desse gás - 6,29 milhões de metros cúbicos diariamente. Por quanto tempo o senhor acha que a estatal vai conseguir fazer isso?

Loss - Pelas apresentações feitas hoje (no seminário) a coisa já começa a se complicar, porque a curva de produção de líquido já está declinando. Então daqui a pouco o custo de manutenção já não vai viabilizar se mantiver o produto.

JC - Quanto tempo isso vai durar?

Loss - Não podemos opinar sobre isso, porque a Petrobras não nos informou sobre esse tempo.

JC - Em sua opinião, qual o volume de gás reinjetado até o presente momento?

Loss - Isso é fácil: é só pegar 6,29 milhões de metros cúbicos por 365 dias por ano, e aí se obtém um volume injetado de 2,295 bilhões de metros cúbicos/ano.

JC - No momento em que a Petrobras reinjeta esse gás, não estaria queimando parte desse bem natural?

Loss - Não. O índice de aproveitamento da região amazônica é um dos melhores que tem no país. É em torno de 95% de aproveitamento. A parte não aproveitada é muito pequena.

JC - É um média considerada boa?

Loss - Excelente. Em nenhuma parte do mundo chega a 100%.

JC - O senhor sabe quanto a Petrobras investiu na base petrolífera de Urucu?

Loss - Em torno de US$ 7,5 bilhões, segundo apresentação do técnico da empresa nesse evento.

JC - Em sua opinião já houve retorno desse investimento?

Loss - Parte sim, mas o total com certeza não.

JC - O que vem a ser Gás Natural Liquefeito (GNL)?

Loss - É o gás resfriado a 168 graus celsius negativos transportado em forma de líquido.

JC - Pode ser utilizado como opção de transporte no Amazonas?

Loss - Há possibilidade, inclusive existe tecnologia disponível mundialmente. É como se fosse transportar o óleo diesel, só que numa temperatura ambiente a menos de 168 graus celsius negativos.

JC - De quem deveria partir essa opção?

Loss - Tem que haver interesse da Petrobras, que deve analisar economicamente se é viável; se o mercado é acessível. Agora, em termos de tecnologia, é extremamente turbinada mundialmente.

JC - Como o senhor vê a criação de um pólo petroquímico no Estado por conta do gás de Urucu?

Loss - É uma questão mais de nível federal. Há necessidade de um estudo mais aprofundado para ver se realmente aqui é o melhor local. Existem alguns no país como o de Camaçari, na Bahia. Está sendo implementado o pólo petroquímico do Rio de Janeiro, mas por ser um investimento altíssimo tem que haver todo um estudo em torno do assunto.

Gás de Urucu

6,29 milhões de metros cúbicos são reinjetados diariamente.

2,29 bilhões de metros cúbicos por ano estão sendo reinjetados.

95% do gás extraído pode ser aproveitado economicamente.

7,50 bilhões de dólares é o investimento da Petrobras em Urucu.

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