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Quilombolas discutem permanência na universidade

Universidade Federal de Goiás ufg.br
Autor: Carolina Melo
30 de Nov de 2017

No evento de abertura do II Encontro de Troca de Saberes dos Estudantes Quilombolas, que ocorreu nessa quarta-feira (29), acadêmicos e integrantes das comunidades se reuniram para discutir os processos de inclusão e permanência dos quilombolas na Universidade, assim como o retorno aos seus territórios de origem. Algumas reivindicações foram elaboradas ao longo da discussão, entre elas, a permanência do programa UFGInclui e seu aprimoramento, de forma a garantir o acolhimento necessário aos quilombolas no espaço acadêmico e impulsionar políticas de cotas também para as pós-graduações.

O presidente da Associação Quilombolas Kalunga, Vilmar Souza Costa, foi convidado para falar sobre o que a comunidade espera dos estudantes que ingressaram na universidade. Inicialmente, ele ressaltou a importância dos projetos e programas que possibilitam a entrada e o protagonismo das comunidades tradicionais no espaço acadêmico. "Quem me levou para o movimento de resistência foi a minha entrada na universidade, quando compreendi a necessidade de pesquisar a minha comunidade, resgatar a minha história e atuar em sua defesa. Ainda vejo muitos estudantes dispersos. Mas somos nós que temos que pesquisar nosso próprio território, nossas tradições. Temos que aprender também com as nossas lideranças e trazer esse conhecimento para a academia".

De acordo com Vilmar, a pesquisa sobre o território hoje é uma demanda importante para os quilombolas, indígenas e o campesinato. Para ilustrar, citou a ameaça de construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) na comunidade Vão de Almas, do sítio histórico dos quilombos Kalunga, assim como as lutas pela regularização para o direito real de uso das terras quilombolas. "É importante termos formação e retornar para ajudar as comunidades", afirmou.

Reinvindicação

Maria Madalena do Sacramento Rocha, quilombola e discente do mestrado em Performance Cultural da UFG, levantou a discussão sobre a dificuldade enfrentada pelos acadêmicos das comunidades tradicionais em entrar nos cursos de pós-graduação da Universidade. "Na minha comunidade temos 15 jovens que serão nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos, professores, entre outros. Mas isso não é tudo. Precisamos seguir, precisamos ter condições de entrar nas pós-graduações. Precisamos sair do espaço de ser pesquisado para ser pesquisador".

A pesquisadora questionou a seleção por mérito em algumas unidades, inclusive para a obtenção das bolsas de estudo, num cenário de desigualdade de condições históricas. "A educação como prática de liberdade é o caminho. Devemos explicar para as nossas comunidades que participar dos espaços é importante. Nossa fala deve estar em todos os lugares", disse.

A reivindicação de Maria Madalena foi reforçada pelas falas de Cecília Maria, do Instituto Afro origem Inaô Goiás, e de Julio Kamêr Apinajé, indígena, discente do mestrado em Antropologia. De acordo com Cecília Maria, muitos acadêmicos ficam de fora das seleções devido às exigências da língua estrangeira. "Essa é uma questão que nos atravessa e nos cerceia. Quais projetos o Centro de Línguas direciona para os indígenas e quilombolas?". Em sua exposição, Julio Kamêr fez a defesa do UFGInclui e da necessidade de formulação das políticas institucionais que beneficiem a entrada dos quilombolas e também indígenas na pós-graduação. "Graças à compreensão do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, os indígenas estão entrando no curso de mestrado, mas queremos essa chance em todos os cursos", afirmou.

Compromisso

A atual coordenadora da Coordenação de Ações Afirmativas (CAAF), Marline Dorneles de Lima, agradeceu todas as sugestões apresentadas pelos acadêmicos e reforçou o seu compromisso pela manutenção a aprimoramento do UFGInclui. Segundo ela, a garantia e acolhimento dos quilombolas e indígenas são uma preocupação e reconheceu a importância de a universidade ir até às comunidades tradicionais, como suporte e favorecimento da manutenção dos acadêmicos na instituição.

Eleita vice-reitora da UFG para o próximo mandato, Sandramara Matias Chaves, afirmou ser um prazer e emoção estar presente no evento, que reflete o histórico de lutas e atuações dentro da universidade. Relembrou o processo que participou de construção e constituição do programa UFGInclui, antes da Lei de Cotas, e que se tornou referência para o País, enquanto ocupava a pró-reitoria de Graduação em 2006. "Agora estamos reeleitos, coincidentemente, num momento em que o programa irá fazer 10 anos. A ideia é que o programa seja avaliado e aperfeiçoado, jamais vamos retroceder com as conquistas. Em relação à inclusão, nosso propósito é ampliar, aprimorar e aperfeiçoar as condições de permanência dos estudantes na universidade. No atual momento de desmonte, de um discurso de privatização com orientação do Banco Mundial, temos que fazer frente e nos unir em defesa da universidade pública em benefício de todas as comunidades que podem ter acesso", afirmou.

Participaram ainda da mesa-redonda as discentes Marta Quintiliano, do mestrado em Antropologia Social, que faz parte da União dos Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG, e Vercilene Francisco Dias, mestranda em Direito Agrário. Também estavam presentes a funcionária aposentada da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Maria da Graça Amaral, de Macanuda, primeiro quilombo do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e a professora da Universidade Federal de Pelotas, Georgina Helena Lima Nunes. Ambas estavam entre as convidadas das atividades ao longo dos dois dias de evento.

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