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Pastoral da Terra ataca declaração 'infeliz' de Lula

O Globo, O País, p. 14
02 de Dez de 2006

Pastoral da Terra ataca declaração 'infeliz' de Lula
Comissão critica tala do presidente sobre os entraves ao crescimento

Em manifesto divulgado ontem, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) criticou "as infelizes declarações" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao relacionar a preservação ambiental entre os entraves para o desenvolvimento econômico do país. Lula disse, na semana passada, que entre os entraves estão o meio ambiente, os quilombolas, os índios e procuradores do Ministério Público Federal.

As declarações do presidente já tinham levado integrantes do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), presidido pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a divulgar, na última quarta-feira, um documento de protesto. A CPT se associou às críticas dos conselheiros e defendeu a preservação ambiental:

"Com a fala do presidente; sentiram-se apoiados e contemplados os grileiros de terra, os madeireiros e os latifundiários travestidos de empresários do agronegócio, que depredam as nossas riquezas naturais, invadem reservas indígenas, de quilombos e áreas de preservação ambiental, e exploram os trabalhadores deste país submetendo-os, muitas vezes, a condições análogas à de escravo. Sua ação sim é que traz `desenvolvimento' para este país, na concepção do presidente", criticou a CPT. A nota é assinada pelo presidente da entidade, dom Xavier Gilles de Maupeou d'Ableiges, bispo de Viana, no Maranhão.

"Acreditávamos que esta fala teria sido um deslize"
No manifesto, a CPT diz também que esperou uma semana para responder ao presidente porque considerou que pudesse ser um deslize:

"Não imaginávamos que o presidente Lula, que fez questão de colocar um negro e um índio entre os apresentadores de sua campanha eleitoral, no horário gratuito de rádio e televisão, pudesse considerar que indígenas, quilombolas e as questões ligadas ao meio ambiente fossem entraves para o desenvolvimento. Por isso, acreditávamos que esta fala teria sido um deslize e estávamos aguardando uma explicação. Como até hoje o presidente não se manifestou, julgamos que este é realmente o seu pensamento", criticou.

Para a CPT, "as elites brasileiras desde sempre consideraram os povos indígenas como entraves para o progresso", observando ainda que, depois da Constituição de 1988, "com o início do reconhecimento de suas áreas, também os quilombolas passaram a ser vistos por essa mesma ótica".

Anteontem, a ministra Marina Silva disse que o meio ambiente não é o vilão do crescimento e que, se o desenvolvimento do país não for sustentável, o Brasil andará na contramão da História.

O Globo, 02/12/2006, O País, p. 14

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