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Para defender a política ambiental do governo, Bolsonaro distorce informações na ONU

G1/Jornal Nacional - https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia
21 de Set de 2021

Para defender a política ambiental do governo, Bolsonaro distorce informações na ONU
O presidente disse que aumentou os recursos para a fiscalização, mas, segundo especialistas, o governo reduziu a capacidade de atuação dos órgãos ambientais, como o Ibama.

21/09/2021

Para defender a política ambiental do governo, criticada dentro e fora do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro distorceu informações.

Em seu discurso, Bolsonaro escolheu um dado positivo sobre o desmatamento na Amazônia: a redução de 32% registrada pelo Inpe em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado, o que é verdade. Mas o que o presidente não disse é que os números de desmatamento em agosto estavam muito altos em relação à série histórica.

A área desmatada no mês mais do que triplicou em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro. E se manteve muito alta em 2020. Para se ter uma ideia, os 918 quilômetros quadrados desmatados em agosto deste ano representam uma área 75% maior do que a de agosto de 2018, antes do governo Bolsonaro.

Além disso, ao longo do primeiro semestre deste ano, a área sob alerta de destruição na Amazônia foi a maior dos últimos seis anos.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirma que citar só o número de agosto deste ano, que é pontual, esconde a realidade.

"A gente pode dividir o discurso do presidente Bolsonaro para meio ambiente entre hipócrita, fantasioso e mentiroso mesmo. Quando ele fala, por exemplo, que o desmatamento ou dá a entender que o desmatamento está diminuindo, ele pega um mês isolado, mas não faz a conta durante todo o seu período de governo. A verdade é que desde 2018, o desmatamento só aumentou no Brasil. Sob a gestão Bolsonaro, nós temos um incremento de destruição da Amazônia de cerca de 45%, portanto, o desmatamento não está diminuindo", disse.

Bolsonaro disse também que aumentou os recursos para a fiscalização, mas, segundo especialistas, o governo reduziu a capacidade de atuação dos órgãos ambientais, como o Ibama.

"O que o governo Bolsonaro fez foi aumentar o orçamento para fiscalização, mas o governo Bolsonaro não usa. Então é como se você tivesse um carro na garagem, mas não colocasse combustível para ele andar. Não adianta o governo ter autorização para gastar dinheiro e simplesmente não efetivar essa autorização. E o governo não efetiva porque ele não tem nenhum compromisso de colocar fiscalização em campo", disse Marcio Astrini.

E a base do governo apoia projetos no Congresso que podem enfraquecer as regras de proteção do meio ambiente, como o que muda o licenciamento ambiental.

"A pior mentira foi dizer da legislação ambiental brasileira que é a mais avançada do mundo, porque de fato o Brasil construiu um arcabouço legal muito consistente depois da Constituição de 88, mas nos últimos anos ele vem sendo fragilizado e especialmente nesse governo nós tivemos um desmonte de todas as normativas infralegais da política ambiental, e a base do governo no Congresso Nacional segue tentando aprovar propostas que fragilizam a nossa legislação ambiental", afirmou Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental.

Adriana Ramos disse que Bolsonaro usou um dado correto: 600 mil indígenas vivem mesmo em terras que equivalem a 13% do território nacional, mas lembra que o governo já enviou projetos ao Congresso que podem diminuir essas áreas e também permitir atividades privadas de terceiros, como a mineração.

"Sim. Há 600 mil indígenas vivendo nesses territórios, mas não a ideia de que essas terras devem ser colocadas na perspectiva na abertura de uma nova fronteira agrícola não é defendida pela maior parte dos povos indígenas. Elas não podem ser vistas como uma fronteira a serem abertas para atividades de terceiros que estão por fora delas ou para atividades de alto impacto, como é o caso do garimpo, da mineração e da agropecuária de larga escala, que acabam pressionando a sustentabilidade socioambiental desses e os modos de vida dessas populações", afirmou Adriana.

O Jornal nacional pediu a posição do Palácio do Planalto sobre as críticas dos ambientalistas e dos economistas ao discurso na ONU, mas não teve retorno.

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