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Nhanuderu Marangatu - A BENÇÃO DOS DEUSES

Cimi MS
Autor: Egon Heck
02 de Nov de 2007

Os Nhanderu, nossos caciques,rezadores estamos puxando o movimento pela posse definitiva de nossa terra sagrada, já homologada, mas onde estamos proibidos de entrar. Agora vamos juntar todas as nossas forças com as forças dos deuses e dos nossos guerreiros que lutaram por essa terra e vida do povo Guarani, para garantir de uma vez por todas nossa terra, nossa vida, nosso futuro. Então vamos passar rezando pelos diversos lugares de uma aldeia a outra, do Campestre ao Marangatu e daí pela estrada até o último marco da nossa terra.

Com essa motivação e disposição os lideres religiosos, juntamente com as demais lideranças da comunidade estão fazendo esse movimento nessa semana na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antonio João, fronteira com o Paraguai. Eles entendem que já esperaram demais, sofreram demais, foram e estão sendo humilhados e pisados demais, nossa terra foi e está sendo destruída demais. Não agüentamos mais. Por isso convidamos os lideres religiosos para essa celebração de posse de nossa terra, e para afastar de uma vez por todas tanto sofrimento e judiação do nosso povo.

Na Aty Guasu da Fronteira realizada na semana passada na aldeia de Sombrerito, as lideranças de Nhanderu Marangatu expuseram detalhadamente o rosário de sofrimentos a que vem sendo submetidos pelos fazendeiros que estão dentro de sua terra, através dos seguranças e capangas. Os participantes da grande assembléia ficaram muito indignados e se comprometeram com a comunidade para por fim a tantos desmandos e violências.

Também falaram dos inúmeros pedidos de providências encaminhados às diversas instancias. No dia 13 de outubro encaminharam uma Denúncia ao Ministério Público Federal de Ponta Porá. No relatório entregue ao Procurador Federal, Dr. Flavio narram os acontecimentos daqueles dias: "Portanto hoje estamos bastante indignados, pois após a declaração que foi feita ao MPF de Ponta Porá ainda não vemos nada a ser feito a respeito". Continuam denunciando mais dois fatos graves. "Enquanto isso vários indígenas já foi espancado e agredido pelos seguranças. Como o de ontem sexta feira que aconteceu com o Sr. Veríssimo Nunes e sua esposa Elisa Ramos, pessoas que foram abordadas por volta das 10 horas da manhã onde os seguranças espancaram ao marido e fe-lo correr deixando a sua esposa sozinha com os seguranças, onde ela sofrei tentativa de violência sexual. Como ela não se entregou eles se irritaram e espancou Elisa Ramos com a ponta do winchester calibre 12 fazendo-a correr até o acampamento sem olhar para trás. No mesmo dia na parte da tarde por volta das 16 horas o Sr. Armindo Fernandes Vilhalva e sua esposa Srª Silvina Romero e uma criança de 09 anos de idade com o nome de Erinaldo Ramos, também foram abordados por estes mesmos segurança que trataram do mesmo jeito que o casal anterior. Espancando Armindo com chutes, socos, ponta pés e tapas de todos os lados Derrubou a dona Silvina com a ponta do winchester calibre 12 dando uma pancada no tórax da vítima a qual hoje se encontra hospitalizado com fortes dores no peito e que também sofre uma tentativa de violência sexual pelos seguranças enquanto o marido apanhava. Como quatro seguranças saíram para levar o Armindo para espancar em outro canto. Ela teve a oportunidade de escapar, e correr mesmo tendo quatro seguranças atrás dela mas ela conseguiu escapar mas já bastante machucada. E a criança presenciou tudo, mas também levou vários tapas de orelha e empurrões. Onde eles tiraram os lagartixa que ele tinha levado para o almoço e seu estilingue e outros bichinho que ele tinha conseguido matar como passarinhos e nambu. Queríamos também saber se os fazendeiro tem direito tem direito de provocar-nos tirando fotos e filmando de longe o nosso acampamento, pois o Sr. Pio Silva toda vez que passa na frente do acampamento passa provocando desta maneira e isso já está esgotando a nossa paciência".Terminam o documento com algumas perguntas: "Até quando a justiça favorecerá os ricos e quando irá atender os mais pobres? Como nós índios que só precisamos de um lugar para viver e criar nossos filhos"...Ou vai esperar que mate mais alguns indígenas para depois tentar nos atender e entregar o nosso território". Portanto estamos relatando esta situação com bastante indignação. Assinam os membros da Comissão de Defensores de Direito Indígenas Teko Porá de TIN Nhanderu Marangatu.

Na Carta de Sombrerito, de 28 de outubro, também foi mencionado esse fato com a informação de que são dezenas de pistoleiros e seguranças que já espancaram mais de dez índios ultimamente.

Os Kaiowá Gurani e a violência

Enquanto nenhuma ação mais efetiva para resolver a questão da terra desse povo for feita o índice de violências não só continua como aumenta. Recente publicação mostra por exemplo que na Terra Indígena de Dourados o índice de assassinatos é 500% superior à media do país, e portanto talvez o maior índice em todo território brasileiro.(Correio do Estado,28/10/07). Na recente conferência popular sobre agroenergia, com a participação de mais de 700 pessoas de vários estados brasileiros e 16 países, foi também pedido ao governo brasileiro a urgente e inadiável demarcação das terras indígenas, em especial dos Kaiowá Guarani do MS. João Pedro Stedile disse ser inadmissível que continue essa situação de genocídio contra esse povo dizendo fazer chegar ao Ministro da Justiça o apelo para a solução urgente desse drama.

Quando fomos à aldeia Limão Verde, município de Amambai, seu Lico, um dos líderes indígenas acampados, não pode ir para a Aty Guasu, pois estava cuidando do caso de um jovem indígena que acabara de ser assassinado. Os anúncios de violências e assassinatos, suicídios ou mortes por desnutrição ou atropelamento são praticamente diários nas áreas indígenas Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul. Mas com a experiência de resistência e sabedoria milenar, com a profunda crença na força de seus deuses e guerreiros, esse povo está profundamente impactado, mas jamais vencido.

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