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Mapas de biólogos paulistas vão guiar políticas de conservação em SP

G1 - Globo.com
Autor: Marília Juste
26 de Nov de 2007

Trabalho é fruto de oito anos de pesquisas do Programa Biota.
Secretário de Meio Ambiente do estado disse que vai utilizar os dados

Mapas elaborados por um grupo de biólogos paulistas serão utilizados pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo como base para futuras políticas de conservação. Se isso de fato for colocado em prática, vai marcar a união entre esforços de cientistas e quem realmente faz a lei ambiental. E mais: o trabalho dos pesquisadores pode se tornar uma arma importante para transformar quem antes degradava a mata em aliado da proteção do meio ambiente.

Os mapas são o resultado de um trabalho de oito anos do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, o Biota/Fapesp. Ao todo, 160 pesquisadores trabalharam com mais de 200 mil registros, de 10.491 espécies de fauna e flora nativas (dessas, 3.326 consideradas ameaçadas), para formular três mapas gerais e oito temáticos.

"São dados científicos que vão servir para assessorar políticas de conservação. Fala-se muito disso, mas é difícil acontecer. E agora isso vai acontecer", afirmou ao G1 Carlos Joly, da Unicamp, primeiro coordenador do Biota.

Em cima dos dados, os cientistas elaboraram duas propostas de ação para a Secretaria de Meio Ambiente. A primeira é a criação de cerca de dez novas unidades de conservação no Estado. A segunda é incentivar os proprietários particulares a proteger as matas que estão em suas terras.

Engana-se quem pensa que a primeira opção é a mais fácil. Para criar uma unidade de conservação, o estado precisa adquirir a propriedade de todas as terras da área - algo que é muito mais tranqüilo na teoria do que na prática. A maioria das terras do estado de São Paulo é ocupada. Adquirir a propriedade depende de muita burocracia.

Convencer donos de terras a fazer sua parte, por sua vez, não é exatamente uma tarefa fácil, mas pode se mostrar uma maneira mais eficiente de tratar a preservação ambiental no estado. Com os mapas do Biota, o governo acredita que vai ser mais fácil mostrar a eles exatamente o que está sendo preservado em cada caso. A lei atual obriga os proprietários a protegerem pelo menos 20% da vegetação nativa em suas terras - mas nem todos cumprem a determinação.

"Algumas áreas que avaliamos compensam o investimento do Estado", afirmou Jean Paul Metzer, professor de Biologia da USP, cujo laboratório elaborou os mapas do Biota. "Outras, é mais inteligente trabalhar com uma unidade privada", diz ele.

Os cientistas sugerem que as novas unidades sejam criadas em locais estratégicos, onde a preservação é crítica para a sobrevivência das espécies. O primeiro é uma área de 15.500 hectares entre os municípios de Itanhaém e Peruíbe. O segundo são os 12.500 hectares da Serra do Japi, próximo a Jundiaí, que são essenciais para ligar a Serra da Mantiqueira ao sul de Minas.

Em terceiro lugar está o cerrado paulista, na região de Bauru, que, segundo os cientistas, não está sendo protegido suficientemente - é o tipo de mata mais degradado do estado. Em quarto, um trecho de 4.200 hectares de Mata Atlântica nos arredores do pequeno municio de Itapeva, no interior.

A quinta área para instalação de uma unidade de conservação fica no município de Bananal, quase na fronteira com o Rio de Janeiro e próximo à Serra da Bocaina. Por fim, o grupo sugere a proteção de uma extensa área de 9.500 hectares de mata na cidade litorânea de Bertioga.

Atualmente, o estado de São Paulo possui 28 unidades de proteção integral, cobrindo uma área que chega aos 800 mil hectares.

O secretário paulista de Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou que os mapas do Biota vão se transformar nas bases de suas políticas ambientais daqui para frente. "Há um ganho evidente na gestão dos recursos naturais", afirmou Graziano. "Os documentos podem subsidiar a elaboração de projetos de conservação e de recuperação de áreas degradadas, apontar as regiões onde devem ser reforçadas ações de fiscalização e de educação ambiental, facilitar a seleção de áreas para compensação ambiental e apoiar, com dados atualizados, as atividades de licenciamento de empreendimentos, facilitando a proteção das áreas mais ricas em biodiversidade", finalizou ele.

Todos os mapas e descobertas do Biota em seus oito anos de existência serão publicados em um livro que será lançado no início de 2008.

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