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Lider pecuarista defende zoneamento da Amazonia

OESP, Vida, p.A23
30 de Out de 2005

Líder pecuarista defende zoneamento da Amazônia
Fazendeiros ajudam a construir o Pará, como bandeirantes fizeram em SP e MG, diz
Se São Paulo e Minas acabaram com as florestas, há 300 anos, para construir a economia que representam hoje, por que o Pará não pode desmatar suas terras, para criar gado e plantar grãos? O presidente do Sindicato Rural de Redenção, Luciano Guedes, argumenta com o passado dos bandeirantes para justificar a derrubada de árvores seculares para tornar rentáveis milhares de hectares transformados em pastos e plantações de soja.
Mineiro de Teófilo Otoni, onde a família tinha fazenda, Guedes se considera um pioneiro. Chegou ao sul do Pará há 18 anos, após se formar em Veterinária em Belo Horizonte e fazer mestrado em economia rural na Universidade Federal de Viçosa. Vendi as terras que herdei para investir aqui, na década de 80, atendendo ao apelo do governo, que, em defesa da Amazônia, insistia no lema integrar para não entregar, eu e dezenas de empresários do Sul.”
Dono de duas fazendas, Guedes engorda bois e toca projetos de reflorestamento, cobrindo de eucalipto e teca o vazio deixado pela derrubada das árvores. Por que sou considerado um depredador, se estou ajudando a construir o Pará, como fizeram os desbravadores de outras regiões? Países desenvolvidos criaram um conceito de defesa de meio ambiente na base do achismo, em vez de recorrer à ciência em busca de uma solução equilibrada.”
A receita, afirma ele, em nome de sua classe, seria fazer um zoneamento econômico, ecológico e social da Amazônia para estabelecer como, onde, quando e por que explorar a terra, para transformar as riquezas naturais em fonte de renda. Isso inclui a extração de madeira e de minérios, o reflorestamento, novas lavouras e a pecuária. Se o governo gasta R$ 500 milhões para realizar um referendo (sobre proibição de armas de fogo) de resultado previsto, por que não investe R$ 50 milhões, dez vezes menos, para a Embrapa fazer o zoneamento?”
Para Guedes, a reserva legal de 80% das florestas, que devem permanecer intactas, com a liberação de 20% das terras para agricultura e pastagens, não tem fundamento científico. O Ministério do Meio Ambiente estabeleceu essa porcentagem por pressão de organizações internacionais que não defendem o interesse nacional”, disse. Não aceitamos a idéia de deixar de lado um potencial enorme de recursos naturais com um povo pobre.”
O desmatamento no extremo sul do Pará vem de 30 a 40 anos atrás, quando empresários, bancos e multinacionais investiram em projetos agropecuários na região, atraídos por incentivos fiscais da antiga Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). É dessa época a maioria das áreas ocupadas hoje pelo gado – um rebanho de 18,5 milhões de cabeças num Estado de cerca de 6,5 milhões de habitantes. Isso dá três bois para cada paraense; no Brasil, a proporção não chega a um boi por habitante.
Oito frigoríficos abatem 4.500 cabeças por dia, num raio de 200 quilômetros, na área de Redenção. No município, o abate varia entre 800 e mil cabeças”, informa o pecuarista. A carne do gado (nelore e redangus) sai desossada para o Nordeste (60%) e o centro-sul (40%). Em novembro, teremos a inspeção para conseguir exportar”, contou. O gado paraense, que segundo ele tem qualidade e competitividade, está em área de risco de febre aftosa.
Ao defender o zoneamento, os empresários rurais apostam na preservação racional da Amazônia, afirma Guedes. Sou pai de um filho que um dia também será proprietário rural. Acha que vou destruir a terra que vai ficar para ele?” [ASSINAPE]José Maria Mayrink, enviado especial

Quando derrubar árvores é questão de sobrevivência
MATA ABAIXO: Derrubar árvores é questão de sobrevivência para o vaqueiro Manoel Alves Machado, de 45 anos, responsável por uma boiada de 2 mil cabeças na Fazenda Cana Verde, em Redenção. Se dependesse dele, o patrão mandaria pôr fogo na floresta que resta na propriedade para abrir espaço para o gado: Tem mato sobrando, não vai fazer falta, mas o homem deu ordem para não cortar nem um pé de pau, porque tem medo do Ibama.” Mais preocupado que o fazendeiro Felisberto Ramos com a falta de espaço para a criação e engorda de nelore, ele não hesitaria em pôr a mata abaixo para plantar capim.
Já em Santana do Araguaia, o maranhense Osvaldo Ferreira Damascena lamentava ter de serrar as árvores. Todo mundo sente a devastação, mas esse é o trabalho da gente”, disse, na quarta-feira, na Fazenda São José, após ser autuado pelo Ibama, que apreendeu sua motosserra.

OESP, 30/10/2005, p. A23

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