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Liberação de obra do Complexo do Rio Madeira não sai este ano

OESP, Economia, p. B5
14 de Nov de 2006

Liberação de obra do Complexo do Rio Madeira não sai este ano
Licenciamento ambiental de usinas atrasou e fórum boliviano denuncia danos em rios do país

Leonardo Goy, Agnaldo Brito

Dois novos obstáculos surgiram ontem para a construção do Complexo Hidrelétrico do Madeira, em Rondônia. O primeiro é que o diretor de Licenciamento do Ibama, Luiz Felippe Kunz, disse ontem ao Estado que 'não vê mais possibilidade' de o órgão decidir ainda este ano se concede a licença ambiental prévia. O outro vem da Bolívia: o Fórum Boliviano sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento alega que a construção das usinas terá impactos ambientais no país.

A decisão do Ibama, portanto, segundo Kunz, só deve sair em janeiro ou fevereiro de 2007. Sem isso, o governo não poderá leiloar a concessão dos projetos das Usinas Santo Antonio (3.150 megawatts) e Jirau (3.300 megawatts).

Algumas semanas atrás, Kunz previa que a decisão poderia sair até o fim do ano. A mudança decorre de dois fatores. O primeiro foi a liminar da Justiça Federal de Rondônia, na semana passada, que obrigou o Ibama a cancelar duas das quatro audiências públicas para discutir o projeto.

Como a liminar foi derrubada na quinta-feira, o Ibama conseguiu realizar as audiências programadas para sexta-feira (em Jaci-Paraná) e sábado (em Porto Velho). Mas as audiências que deveriam ter ocorrido na quarta e na quinta-feira da semana passada, em Abunã e Mutum-Paraná, tiveram de ser remarcadas para 29 e 30 deste mês. Essa mudança, por si só, já atrasa o cronograma do licenciamento.

Além disso, o Ibama deverá receber do Ministério Público Estadual de Rondônia, em até 15 dias após a conclusão das audiências (15 de dezembro), um estudo que contesta pontos da avaliação do impacto ambiental do complexo. O Ibama só poderá concluir o processo e definir se concede a licença após concluir a análise desse documento do MPE, que tem cerca de 800 páginas.

'É impossível concluir até o fim do ano a análise desse estudo, além dos documentos entregues durante a audiência pública. Assim, não vejo como a licença possa sair neste ano', disse o diretor do Ibama.

NA BOLÍVIA

Segundo Kunz, os relatórios entregues até agora pela estatal Furnas (encarregada do projeto) não apontam impactos na Bolívia. O documento entregue pelo Fórum (que reúne ONGs da Bolívia) será agora estudado pelo Ibama.'O documento está em análise, ainda não temos definição sobre impactos ambientais na Bolívia', disse Kunz.

Segundo o diretor do Ibama, os ambientalistas bolivianos fazem duas acusações principais: que a construção das usinas poderia causar inundações nos trechos bolivianos do Rio Madeira, devido ao acúmulo de sedimentos, além de prejuízos para a atividade pesqueira no território do país vizinho.

Kunz disse que, por enquanto, o Ibama não foi procurado pelos órgãos ambientais bolivianos. 'Apenas a Embaixada da Bolívia no Brasil nos solicitou uma cópia dos estudos de impacto ambiental, mas isso já há algum tempo', disse.

A Furnas e a Construtora Norberto Odebrecht, que tabém assina o projeto, alegam que a Bolívia não será atingida. O reservatório mais próximo do Departamento de Beni, na Bolívia, ficará entre 25 e 40 quilômetros de distância. 'Afirmo, com absoluta certeza, que os efeitos do projeto ficarão restritos ao território brasileiro', afirmou José Eduardo Moreira, engenheiro da PCE, contratada para elaborar o estudo.

José Galizia Tundisi, uma das maiores autoridades brasileiras em reservatórios de hidrelétricas, acha que o Brasil precisa fazer uma avaliação mais detalhada dos efeitos da obra tanto no território nacional quanto no boliviano.Tundisi assinou um parecer sobre o empreendimento a pedido do Ministério Público de Rondônia. Nele, o pesquisador alerta para problemas como a decantação de sedimentos ao longo do tempo.

'Não sou contra o empreendimento, o Brasil necessita do aproveitamento hidrelétrico do Madeira, mas alertei para a necessidade de se fazer grandes experimentos na região para avaliar os reais impactos', diz. Ele não assegura nem descarta a possibilidade de o projeto atingir o território boliviano.

A reação boliviana começou com o Jorge Molina, professor e pesquisador na área de hidráulica da Universidade Mayor de San Andrés, de La Paz. Ele disse ontem que identificou pelo menos sete impactos no lado boliviano. Os principais são: contenção dos sedimentos e conseqüente alagamento, comprometimento da biodiversidade, diminuição da atividade pesqueira e piora da água.

OESP, 14/11/2006, Economia, p. B5

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