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Incertezas afastam multinacionais do Brasil

OESP, Economia, p.B1
19 de Jun de 2004

Incertezas afastam multinacionais do Brasil
RENÉE PEREIRA e IRANY TEREZA
A falta de regras favoráveis aos investimentos e a ausência de perspectivas de crescimento econômico sustentado têm afugentado as multinacionais do Brasil. No momento em que o presidente da República decide ir aos Estados Unidos para seduzir novos investidores, duas empresas estrangeiras, Duke Energy (energia elétrica) e ThyssenKrupp (siderurgia), manifestam descontentamento com o País e decidem rever suas posições no Brasil.
No caso da alemã ThyssenKrupp Stahl AG (TKS), um dos maiores grupos siderúrgicos da Europa, a insatisfação foi às últimas conseqüências. A TKS desistiu da Galvasud e vendeu ontem, por US$ 28,4 milhões (cerca de R$ 89 milhões) a participação de 49% na empresa para a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), que era sócia no negócio. Em 1988, quando foi criada a planta de aço galvanizado, na região sul do Rio de Janeiro, a Thyssen investiu US$ 250 milhões no projeto.Com a saída da Galvasud, a empresa alemã, que há três anos havia vendido, por US$ 566 milhões, a Ferteco Mineradora à Cia. Vale do Rio Doce, se retira do País. Permanece apenas no projeto da Refinaria do Nordeste (Renor), que se arrasta há mais de cinco anos.
Em Frankfurt, Alemanha, o principal executivo da Thyssen, Karl-Ulrich Köhler, atribuiu a desistência "às incertezas quanto ao desempenho da indústria automobilística no Brasil e na região do Mercosul". Ele manifestou dúvidas quanto à manutenção de um crescimento sustentado na região. Mas reconheceu que havia, nesse caso, desentendimento entre os sócios da Galvasud sobre a gestão do negócio.
Já a americana Duke Energy, que tem oito hidrelétricas no País, com capacidade para gerar 2.307 megawatts (MW), vem há algum tempo dando sinais de que as condições brasileiras não são adequadas ao investimento de cerca de US$ 1 bilhão no País. No ano passado, a empresa suspendeu os recursos para construção de três termoelétricas em parceria com a Petrobrás por causa da falta de uma política adequada para o setor.
Crítica do novo modelo elétrico, a empresa não está contente com o retorno dos investimentos nem com os rumos do setor. Por esse motivo, está disposta a vender seus ativos no País. O problema é encontrar comprador que pague o valor exigido. A Hidrelétrica Paranapanema, por exemplo, foi arrematada em 1999 por R$ 1,239 bilhão, com ágio de 90,21% em relação ao preço mínimo fixado pelo governo paulista.
"Se tivesse comprador, muitas outras empresas estrangeiras já teriam ido embora", afirma o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), José Augusto Marques. Ele explica que é preciso restabelecer um ambiente de negócios no País e definir o papel da iniciativa privada nos investimentos em infra-estrutura. "Ainda há pessoas no governo que defendem participação menor das empresas privadas. Mas não há nem haverá recursos do poder público para vencer os gargalos da infra-estrutura." Para Marques, todas as áreas de infra-estrutura - energia, saneamento e transportes e logística - têm problemas com a falta de regulamentação.
Na avaliação do diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, mais importante que o marco regulatório é a falta de horizonte de crescimento econômico do País. "O setor de infra-estrutura vive de planejamento futuro.
Se não há uma boa perspectiva de crescimento da economia, não adianta ter uma boa regulamentação." O problema, afirma, é ter perspectivas sólidas com as taxas de juros no nível atual, de 16% ao ano.

Para consultoria, Brasil vai receber US$ 13 bilhões
Segundo levantamento da EIU, País vai recuperar fluxo de investimentos diretos
WASHINGTON - O investimento estrangeiro direto (IED) vai retomar força em 2004 no mundo todo, após três anos de declínio, e Brasil e México continuarão a ser os países latino-americanos mais beneficiados. O Brasil deve receber este ano US$ 13 bilhões, ante US$ 10,1 bilhões em 2003. A previsão está no relatório "Perspectivas de Investimentos Mundiais", do Economist Intelligence Unit.
O levantamento foi feito com 500 executivos de vários países, que indicaram quais, entre 60 países, são os mais atraentes para investimentos diretos, com base nos critérios: novos mercados de consumo, baixo custo da mão-de-obra, novas possibilidades de parcerias, novos mercados corporativos, mão-de-obra altamente especializada, oportunidades de terceirização e de aquisição, atividades de pesquisa e desenvolvimento, eficiência na cadeia de suprimento.
A China deve receber o maior volume de IED, US$ 58 bilhões; a Índia, terá US$ 13 bilhões. Em 2003, o fluxo de IED para a América Latina caiu 12%, para US$ 50 bilhões, nível mais baixo desde 1996. O fluxo para o México recuou 27% em 2003, para US$ 10,7 bilhões, ante US$ 14,6 bilhões em 2002. Nesse ano, o Brasil recebeu US$ 16,6 bilhões. O relatório assinala que em 2004 a América Latina deve receber US$ 60 bilhões em IED, pois as economias estão crescendo e os lucros corporativos melhoraram e o preço das ações subiu bastante no ano passado.
Um dos motivos de atração do Continente, de acordo com a pesquisa, é o enorme volume de recursos naturais a ser ainda explorado. O Economist Intelligence Group vê um potencial de crescimento para a região, no médio prazo, de 4% a 5% ao ano.

OESP, 19/06/2004, p. B1

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