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Hora de tirar 'as amarras'

CB, Política, p. 2
25 de Nov de 2006

Hora de tirar 'as amarras'
Lula diz que não adianta chorar o leite derramado e promete mudanças na legislação para acelerar investimentos no país, muitos emperrados no Ministério Público e no Ibama. Ambientalistas reagiram

Gilberto Nascimento
Da equipe do Correio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não adianta "chorar o leite derramado", ao comentar a revisão feita pelo governo da meta de crescimento no país, de 4% para 3,2%. "Vamos esperar as coisas acontecerem.
Se não aconteceu como a gente previu, nós não podemos ficar chorando o leite derramado. Vamos trabalhar para acontecer no ano seguinte aquilo que não aconteceu este ano", afirmou o presidente, depois de participar de comemoração de aniversário dos 50 anos da Daimler-Chrysler no Brasil, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O presidente declarou estar "cansado de fazer previsão".
Pela manhã, na inauguração da primeira fase do Hospital Municipal Pimentas-Bonsucesso, em Guarulhos, na Grande São Paulo, Lula prometeu fazer um segundo mandato "mais ousado" na economia. Para ele, "o Brasil já fez todos os sacrifícios" e "o povo brasileiro já pagou todos os pecados que cometeu".
Em Guarulhos e depois em São Bernardo, também anunciou que adotará medidas até o final do ano para "destravar" a economia e facilitar novos investimentos. Revelou que vem fazendo reuniões quase diárias com a equipe ministerial para buscar formas de "tirar as amarras" da economia. "É preciso desobstruir as amarras que parecem que foram criadas para impedir um salto de qualidade. São penduricalhos da legislação", criticou.
Para ele, são necessárias mudanças na legislação, que deverão ser levadas ao Congresso. "Você tem problemas de legislação que precisa mudar. Estamos trabalhando com todos os ministérios com a idéia de não apenas discutir a desoneração tributária para muitos produtos, mas também para desobstruir aquilo que a legislação obstruiu", reclamou.
O presidente citou como dificuldades entraves criados pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da União e órgãos ambientais. "Temos 34 projetos da Petrobras que estão obstruídos por problemas do instituto ambiental estadual. É preciso saber o que está acontecendo e juntar os institutos com o governo federal para a gente desobstruir essas obras e fazer com que elas comecem a funcionar. A idéia é preparar tudo até o dia 31 de dezembro".
Muitos problemas do Brasil têm como causa "entraves criados por nós mesmos", destacou Lula. "Quando eu fui deputado, certamente eu ajudei a criar", reconhece. "Quando você precisa do licenciamento prévio de uma coisa do Ibama, você impõe na lei que o funcionário que deu o licenciamento, caso seja questionado judicialmente, ele tem os seus bens indisponibilizados. Portanto, está coagindo o cidadão a não fazer o licenciamento prévio", reclamou.
As declarações do presidente provocaram uma dura reação de cerca de 50 entidades ambientais. Em nota de repúdio, os ambientalistas destacaram que "destravar o desenvolvimento não deveria significar a supressão de direitos ou de garantias legais, e sim a superação de fragilidades técnicas dos empreendedores e do governo".
Em seu discurso, o presidente garantiu que anunciará no novo governo a desobstrução de "coisas que impedem o Brasil de crescer fortemente". Segundo ele, se depender do governo federal será feito "o possível" para que haja a desoneração fiscal e medidas que facilitem as vendas nas empresas. "Vamos tomar decisões para facilitar que as empresas possam exportar mais e vender ao mercado interno".
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Lula chegou à fabrica de caminhões da Mercedes-Benz, uma marca do grupo Daimler-Chrysler, num ônibus monobloco cujo modelo começou a ser construído no Brasil em 1958. No seu berço político, onde liderou grandes greves quando era líder metalúrgico no final dos anos 1970, disse estar contente por voltar como presidente e poder agradecer por conseguir o segundo mandato.
No discurso, ao lado do presidente mundial da Daimler- Chrysler, Dieter Zetsche, pediu para os dirigentes da empresa continuarem a investir no País.
Falou também do programa Pró-Caminhoneiro, que permite a motoristas autônomos comprarem caminhões novos, com financiamento do BNDES. "A indústria vai produzir mais com isso. Vai precisar de mais trabalhadores e com mais gente trabalhando, há mais vagas e o salário cresce", observou. O presidente garantiu ainda que seu segundo mandato será marcado pelo "desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade".
Na Base Aérea de Cumbica, na hora do almoço, Lula recebeu das mãos de Nicholas Negroponte, fundador e diretor do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o primeiro laptop funcional de baixo custo projetado pela OLPC, uma organização sem fins lucrativos. A entidade é responsável pelo projeto One Laptop per Child. Lula foi o primeiro chefe de Estado, em todo mundo, a receber esse computador.

Perto Do PT

O presidente Lula participa hoje, às 10h30,da reunião do Diretório Nacional do PT, em São Paulo. Este é o único compromisso oficial de Lula no fim de semana.
Depois de participar da reunião do partido, ele segue para sua residência, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC (SP). A previsão é que Lula permaneça no encontro até o início da tarde. O presidente reeleito retorna para Brasília no fim da tarde de amanhã.

CB, 25/11/2006, Política, p. 2

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