FSP, Cotidiano, p. C8
20 de Out de 2005
Governador diz que seca no AM irá se agravar
Segundo Braga, estudos recomendam evitar desperdício na região; ministro libera mais cestas básicas
Kátia Brasil
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), disse ontem que a seca irá se agravar para a região do baixo Amazonas. O problema será agravado pela vazante do rio. Quatro cidades poderão sentir diretamente as conseqüências da estiagem. São 87.500 moradores nesses locais.
"A nossa principal preocupação vai ser com o baixo Amazonas. Nós daqui da região sabemos: a seca vai se deslocar para o baixo Amazonas. Vamos ter agravamento em Maués, Boa Vista do Ramos, Nhamumdá e Silves. A partir deste final de semana, vamos montar uma operação [lá]", afirmou Braga.
O governador também se mostrou apreensivo com o abastecimento de água na cidade de Manaus, em decorrência da vazante do Negro. Ontem, o rio estava com apenas 15,06 metros. A média, na cheia, é de 23 metros.
"Pedimos à população de Manaus que não desperdice água para que possamos tê-la nos reservatórios do município. Não corremos risco de racionamento de água no momento, mas não custa nada nos prevenir. Faço o apelo para que não desperdicem água porque o Negro continuará uma vazão nos próximos 20 dias."
Na estiagem ocorrida em 1997, por conseqüência do fenômeno climático El Niño, o rio Negro desceu de nível até 14,34 metros em outubro. A Eletronorte racionou energia em Manaus.
Sem fornecimento de energia para fazer as operações, a empresa estatal Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas), responsável à época pela distribuição de água no município, informou que a seca afetou o abastecimento de água em Manaus.
A empresa Águas do Amazonas, que atende atualmente 1,3 milhão de habitantes, descartou ontem racionamento, informando que a captação mínima de água no rio é de 12 metros na estação de tratamento da Ponta do Ismael, responsável por 80% do abastecimento. A capital tem 1,592 milhão de moradores.
O governador do Amazonas também pediu aos agricultores que não façam queimadas. Como a floresta está muito seca, existe a possibilidade de incêndios.
Ontem, nos sobrevôos em Manacapuru e Manaquiri, com o ministro Ciro Gomes, foram localizadas mais de dez queimadas.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil classificou a estiagem atípica de alta intensidade -nível 4 (muito grande porte e com muitos prejuízos à comunidade).
Quando o decreto de calamidade pública foi anunciado, no dia 11 deste mês, a Defesa Civil do Estado tinha classificado a ocorrência em um desastre de causa natural de nível 3.
"É o mais alto grau de desastre que pode ocorrer em algum sítio. Vimos na região Sul uma estiagem muito forte; em Pernambuco, enchentes; mas essa seca aqui [na região amazônica] foge dos padrões a que estávamos acostumados a encontrar", disse José Luis D'Avila Fernandes, diretor da Defesa Civil nacional. Ele disse que a secretaria liberou mais R$ 1,2 milhão para o Exército enviar as cestas básicas para as comunidades afetadas.
Falta de alimentos
O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) anunciou ontem a liberação de 100 mil cestas básicas para atender os atingidos pela seca no Amazonas. Ele visitou duas comunidades em Caapiranga e Manacapuru.
Ao ouvir relatos dos moradores de que as águas dos lagos e dos rios estão contaminadas e que o nível de navegação só chegará à normalidade em dezembro, ele decidiu pela liberação de mais alimentos para que as famílias suportem a falta da pesca e o isolamento na região.
"O que há é um problema humano muito grave porque a malha de rios, igarapés e paranás é que faz a circulação das pessoas e do abastecimento de tudo. A idéia [de liberar mais alimentos] é suprir todas as conseqüências de uma estiagem atípica como essa."
A primeira comunidade visitada pelo ministro foi a de Dominguinho, a 18 km de Caapiranga (222 km de Manaus). O deslocamento foi realizado por um helicóptero do Exército.
No local, no qual vivem cerca de 30 famílias, Ciro visitou a casa da agente de saúde Marcilânia Ramos de Souza, 24, e viu que as cestas básicas já tinham chegado.
Ciro perguntou a Luciana Carvalho, 7, se ela ia à escola. "A escola está fechada por causa da seca, ministro", respondeu a garota.
Pará tem 5 cidades em emergência
Fabio Guibu
A estiagem levou as prefeituras de 5 dos 143 municípios do Estado do Pará a decretar estado de emergência. Outras seis cidades estão em situação de alerta.
A Defesa Civil Estadual começou a fazer ontem um levantamento da situação no local. Um relatório preliminar revelou que, em apenas dois municípios que foram visitados -Alenquer e Terra Santa-, cerca de 50 mil pessoas foram afetadas. O Pará tem 6,1 milhões de habitantes.
De acordo com o assessor da Defesa Civil e chefe do Corpo de Bombeiros do Pará, tenente-coronel Emanuel Lisboa, somente em Terra Santa há 12 comunidades isoladas.
As regiões atingidas são cercadas por grandes lagos. Com a seca, os igarapés dragaram a água, tornando impossível a passagem das embarcações, único meio de transporte em muitas localidades.
Peixes também estão morrendo no oeste do Pará. O governo no Estado teme o surgimento de epidemias e a falta de água e comida.
A Defesa Civil tem utilizado um avião e um helicóptero para sobrevoar as regiões atingidas e ter acesso aos locais isolados.
Em Santarém, em estado de emergência, foi montada uma base para as equipes de socorro.
Cerca de 40 t de alimentos serão distribuídas em áreas críticas. Outras 40 t -doados por torcedores que assistiram ao treino da seleção brasileira de futebol em Belém- também serão doadas.
O governador Simão Jatene (PSDB) disse que, se for necessário, pretende pedir que as Forças Armadas auxiliem a distribuir alimentos e remédios.
FSP, 20/10/2005, Cotidiano, p. C8
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