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Empresa de Afif terá de demolir obra no litoral

OESP, Metrópole, p. A28
08 de Jun de 2013

Empresa de Afif terá de demolir obra no litoral
Justiça diz que condomínio de luxo na Praia da Baleia está em área de preservação

Reginaldo Pupo, especial para o Estado / São Sebastião

Empresas do ministro da Micro e Pequena Empresa e vice-governador do Estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD), foram condenadas pela Justiça de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, a realizar a demolição de construções erguidas irregularmente em uma área de preservação ambiental na Praia da Baleia, um dos locais mais valorizados da costa paulista.
O ministro, que é sócio-proprietário das empresas KPB Empreendimento Imobiliário Ltda e Sunday's Participações Ltda, pretendia construir um condomínio com 50 unidades de luxo na área, que seriam comercializadas a valores estimados entre R$ 5 milhões a R$ 6 milhões cada.
A decisão do juiz Antonio Carlos Martins, da 1.ª Vara Cível de São Sebastião, à qual cabe recurso, atende pedido de uma ação civil pública impetrada em 2011 pelo Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), braço do Ministério Público que investiga crimes ambientais, após denúncia formulada pelo Movimento Preserve o Litoral Norte. Em sua decisão, o juiz determinou a demolição de uma edificação que serve de moradia para o caseiro e um tanque de peixes, que foram erguidos sem o devido licenciamento ambiental.
A Justiça também anulou os licenciamentos ambientais emitidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e a autorização para a construção emitida pelo Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais do Estado de São Paulo (Graprohab).
A suspensão dos licenciamentos ocorreu após suspeitas de favorecimento ao ministro, que também responde a processo na Procuradoria-Geral de Justiça por improbidade administrativa e uso da máquina pública, como pessoa física, por supostamente se utilizar, à época, do cargo de vice-governador para conseguir os licenciamentos. A suspeita, formalizada na denúncia do Movimento Preserve o Litoral Norte, ocorreu porque a Cetesb havia indeferido o licenciamento, mas depois reconsiderou o pedido e autorizou a construção.

Fragmento florestal

A área tem um dos poucos locais com extenso fragmento florestal bem conservado, situado em Zona de Amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar. A área onde seria erguido o Condomínio Praia da Baleia, de propriedade de Afif, tem 128.651,43 m². A prefeitura de São Sebastião também é ré na ação, por ter aprovado a obra na esfera municipal ao liberar o Habite-se em 30 de março de 2008. A ação do Gaema resultou no embargo das obras há cerca de dois anos, por meio de liminar concedida pela 1.ª Vara de Justiça de São Sebastião e confirmada pelo Tribunal de Justiça à época. A decisão desta semana ratifica a liminar e as obras continuam embargadas.
Além do embargo, a Justiça proibiu as empresas pertencentes ao ministro de realizar qualquer tipo de construção no local. O projeto prevê a edificação de 50 unidades de alto padrão (inicialmente eram 70), com dois pavimentos, e é assinado pelas empresas KPB Empreendimento Imobiliário Ltda (ré na ação do Gaema) e Sunday's Participações Ltda (co-ré). O empreendimento tem custo declarado no Cartório de Registro de Imóveis de São Sebastião (em 2005) de R$ 6,3 milhões.
Segundo a advogada Maria Fernanda Carbonelli, do Movimento Preserve o Litoral Norte e autora das denúncias, após vistorias feitas pela Cetesb, o pedido de licenciamento do empreendimento foi indeferido, pois foi constatada a presença de floresta paludosa, que é impassível de supressão, conforme a legislação federal. Para o prosseguimento das obras, havia necessidade de realizar supressão de vegetação. Além disso, segundo o Gaema, há diversas espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção.

Ministro afirma sofrer 'brutal pressão' de ambientalistas

Afif nega ter usado cargo em benefício próprio e diz que até técnicos foram pressionados a não aprovar projeto da obra

O ministro Guilherme Afif Domingos afirmou ontem que sofre "uma brutal pressão" de ambientalistas. "Existe um grupo de ambientalistas que pensa apenas no 'meu ambiente' e não quer que nada seja construído." Ele negou ter sugerido verbalmente à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) que acionasse o Instituto de Botânica para realizar estudo técnico que, posteriormente, embasou o pedido de reconsideração que culminou em aprovação do projeto. Também desmentiu que estivesse exercendo cargo público quando participou de reunião na Diretoria de Licenciamento e Gestão Ambiental da Cetesb, em abril de 2010. "Eu já não era mais secretário (de Emprego e Relações do Trabalho). À época, cuidava de negócios particulares. Jamais me utilizaria de cargo público em benefício próprio", disse, lembrando que até técnicos da Cetesb sofreram pressão de ambientalistas para barrar o projeto.
Edison Kara José, responsável pela KPB Empreendimento Imobiliário Ltda, afirmou que contratará uma empresa para realizar um estudo ciclo sazonal do lençol freático da região e assim atender às recomendações da Justiça. Segundo ele, a promotoria tentou inviabilizar a construção do condomínio ao destacar em sua denúncia a existência de um rio que transformava o local em Área de Preservação Permanente (APP), de vegetação paludosa e com animais em processo de extinção. Mas o empresário ressaltou que o juiz "deixou as portas abertas" para a construção do condomínio. "A própria Justiça sugeriu o estudo e, assim que o concluirmos, poderemos novamente solicitar o licenciamento ambiental. Vamos aguardar o tempo que for necessário."
Kara José informou que o levantamento já havia sido solicitado pela Cetesb. "Mas entendemos, à época, que não havia necessidade. Apresentamos um detalhado estudo do aterro e a Cetesb acabou abrindo mão do levantamento ciclo sazonal. Mas o juiz considerou que o estudo era necessário e, por esse motivo, cancelou o licenciamento."
Demolição. Sobre a demolição da casa do caseiro, determinada pela Justiça de São Sebastião, Kara José, que representa Afif, disse que não conseguiu conversar sobre o assunto com o ministro, mas acredita que ele deverá recorrer da decisão. "A casa não faz parte do projeto, existe desde a década de 1970 e foi utilizada para abrigar os funcionários que trabalharam na abertura da Rodovia Rio-Santos. A casa tem toda a documentação em dia e não provoca nenhum impacto no local."
No ano passado, quando o Ministério Público do Estado instaurou inquérito para investigar a obra, Afif chegou a dizer que, se algum erro fosse diagnosticado, a empresa readequaria o projeto.
Para os responsáveis pelo empreendimento, porém, a área não é irregular, pois não é formada por floresta paludosa. Segundo a KPB Empreendimento Imobiliário Ltda, os técnicos do Instituto de Botânica concluíram que a região é formada por floresta de alta restinga. A vegetação paludosa estaria protegida por uma área de recuo de 30 metros de extensão.

OESP, 08/06/2013, Metrópole, p. A28

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