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Economia sente reflexos pós-desintrusão

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
Autor: ANDREZZA TRAJANO
22 de Mai de 2009

No final deste mês, completam-se 30 dias que os seis grandes plantadores de arroz do Estado deixaram a terra indígena Raposa Serra do Sol, ao norte de Roraima, onde produziam há duas décadas. Mas os reflexos com a saída deles, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), já são sentidos em diversos segmentos da economia.

No campo agrícola, o presidente da Federação da Agricultura de Roraima (Faerr), Almir Sá, estima que o preço do arroz sofrerá reajuste já na próxima safra. Segundo ele, alguns produtores não conseguiram plantar nessa safra de inverno por ainda não conseguirem terras, enquanto os outros estão produzindo em áreas arrendadas.

"O fato é que eles [arrozeiros] foram desalojados da área indígena e não foram realocados. Um dos caminhos é trabalhar em terras arrendadas, como tem feito o rizicultor Nelson Itikawa, mas isso onera o custo da produção. Ele terá que aumentar o preço do produto. É um trabalhador que tem know how, equipamentos, mas não tem terras para produzir", enfatizou.

No mesmo contexto, ele destacou a situação de outros produtores que têm arroz para escoar fora da reserva, mas que estão impedidos devido a um bloqueio feito pelos índios em uma estrada que liga as fazendas à principal rodovia de Normandia. A estrada em questão está situada na terra indígena.

"Esse bloqueio é uma discriminação, um absurdo. A comunidade indígena já tem terra demais para ficar atrapalhando a vida dos produtores, bloqueando o escoamento da produção", criticou.

Em um aspecto geral, Almir Sá afirmou que os órgãos ambientais igualmente têm dificultado o setor agrícola não só de Roraima, como do país. Conforme ele, os produtores enfrentam dificuldades para renovar licenças ambientais.

"Ninguém está fugindo de cumprir com as obrigações, mas os órgãos ambientais têm que colaborar no sentido de agilizar, viabilizar a produção e não atrapalhar. A tendência é de a produção nacional cair até 10% em decorrência dessas questões ambientais", afirmou, acrescentando que hoje tentará marcar uma reunião com representantes dos órgãos ambientais para discutir o problema.

Empresário de máquinas afirma que vai à falência

Outro setor afetado é o de vendas de equipamentos e defensivos agrícolas. Como o setor de produção sofreu queda, os negócios que acompanham a cultura de grãos também caíram.

A situação do empresário Dirceu Spie representa bem essa crise. Ele vende desde máquinas para plantar e colher grãos a defensivos agrícolas, e ainda pulveriza a plantação. Mas com a saída dos rizicultores da Raposa Serra do Sol, ele já acumula um prejuízo de R$ 2 milhões.

Antes da desintrusão, por exemplo, Spie vendia cerca de três colheitadeiras e 20 tratores por ano. Até ontem, ele não havia vendido nada. Só para se ter uma idéia, uma máquina colheitadeira custa cerca de R$ 500 mil.

Todas as compras feitas pelos arrozeiros foram canceladas e as máquinas adquiridas por ele no mercado exterior estão armazenadas no pátio da empresa. Algumas ele ainda está pagando o financiamento.

"O Governo Federal não pensou nessa crise que estamos enfrentando, não se colocou no lugar da gente, na dificuldade que estamos passando para pagar salário de funcionário. Simplesmente acham que estão fazendo o bem, mas na verdade estão nos levando à falência", desabafou.

"Esta situação pode me tirar do ramo. Se a coisa não reagir, meu negócio vai acabar. Não adianta continuar funcionando se não traz retorno financeiro. Cancelei a compra de avião agrícola e demiti funcionários. Terei que fechar o mais rápido possível para não acabar com minha atividade econômica", lamentou o empresário.

TERRAS - As vendas de terrenos rurais igualmente caíram. De acordo com o corretor de imóveis Dilumberto Soares, antes da definição do litígio da Raposa Serra do Sol, havia procura intensa de produtores do Sul e Centro Oeste por grandes áreas rurais. Hoje, a demanda é só para áreas voltadas para agricultura familiar.

Juiz determina que Federal verifique situação de estrada bloqueada por índios

O juiz federal da 1ª Instância Seção Judiciária de Roraima, Lincoln Rodrigues, determinou que uma viatura da Polícia Federal vá hoje à estrada inserida na terra indígena Raposa Serra do Sol verificar se o acordo verbal, entre o juiz federal Reginaldo Márcio Ferreira e um dos líderes indígena, o tuxaua Clodomir, foi cumprido ou não.

Arrozeiros da região procuraram ontem o juiz Lincoln Rodrigues para informar que a estrada ainda continuava bloqueada. Ele acredita que dois motivos imperam para isto. O primeiro seria o fato de que os índios não sabem que a colheita de arroz dos produtores da região começou. E outrao seria o simples fato do descumprimento do acordo verbal.

O juiz Reginaldo Ferreira esteve na região do Jacarezinho no dia 13 de maio. No acordo, o indígena se comprometeu em liberar o bloqueio da estrada, feito no início do mês por índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), para que os produtores pudessem colher a safra. "Penso que não liberaram porque não estão informados. Vamos verificar isso. Somente amanhã [hoje] terei esta resposta concreta", disse.

A orientação do juiz Lincoln Rodrigues é para que os produtores de arroz não tentem passar à força pela estrada, para evitar o confronto direto com os índios. Nesta situação, a melhor saída é o diálogo entre as partes. "Eu não mandei ir lá para remover nada, apenas para verificar a situação. Espero que o caso se resolva assim que eles [indígenas] souberem que a colheita já começou. Trabalhamos sempre com a hipótese positiva", frisou.

Se os indígenas não desbloquearem a estrada, o juiz orientou que os produtores de arroz formalizem a informação e apresentem ao corregedor-geral da Justiça Federal da 1ª Região, desembargador Jirair Meguerian, na terça-feira da próxima semana. A decisão final será tomada por ele. O retorno do desembargador ao Estado será para concluir os trabalhos pendentes de retirada dos não- índios da reserva.

Na fazenda Casa Branca, do proprietário Plínio Neves, arrendada para o empresário Massao Itikawa, a colheita nos 450 hectares de arroz deve começar em três dias. A produção está avaliada em quase R$ 2 milhões. O proprietário espera que a estrada seja desbloqueada para que os caminhões e máquinas que irrigam a lavoura possam trafegar normalmente.

"A posição do juiz em designar que a PF fosse ao local verificar a situação do bloqueio foi sensata e justa. A colheita de arroz não pode esperar", disse.

Desde o dia 21 de fevereiro, um acordo foi assinado pelo presidente do CIR, Dionito Ferreira, e o representante do Comitê Gestor do Grupo Executivo da Casa Civil, Nagib Lima, para que a estrada que corta a reserva permanecesse sempre aberta. A vicinal 310, a 160 quilômetros da Capital, liga fazendas que ficaram fora da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol à principal rodovia que corta o Município de Normandia, a BR-401.

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