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Crise da água causa corrida por poços artesianos

FSP, Cotidiano, p. C1, C3
25 de Ago de 2014

Crise da água causa corrida por poços artesianos
Empresas afirmam que há fila de espera de até 45 dias pela instalação
Custo mínimo para construção é de cerca de R$ 20 mil e licença para uso pode demorar até um ano para sair

LUCAS SAMPAIO DE CAMPINAS

Com mais de 2 milhões de pessoas sob racionamento oficial e rios cada vez mais secos, o interior de São Paulo vive agora uma corrida por poços artesianos --que começa a alcançar também a região metropolitana.
Os poços são uma alternativa viável de abastecimento de água, segundo especialistas consultados pela Folha, mas a expansão enfrenta dificuldades, como alto custo, excesso de demanda e lentidão na análise de licenças.
A procura pelo serviço aumentou, segundo as empresas, e a espera por um poço pode chegar a 45 dias.
"Tenho programação de obras até outubro", diz Hailton Bassan, gerente da Guirado & Guirado, de Indaiatuba (a 98 km de São Paulo).
O número de licenças de perfuração concedidas aumentou 83% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2013, segundo o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão estadual que analisa os pedidos. Foram 178 contra 326 concessões emitidas no Estado.
Um poço não custa menos de R$ 20 mil. As empresas também não garantem que haverá água nem que será de boa qualidade, e dizem que a licença pode demorar até um ano para sair. Apesar de tudo isso, a procura cresce.
"O desespero é grande, o pessoal está querendo fazer poço até em casa", afirma Éverton Antunes, da Prosondas, de Indaiatuba. "Temos recebido muitas ligações de Guarulhos, Itu e Valinhos, cidades que mais têm sofrido com o racionamento", diz.
As águas subterrâneas são utilizadas no abastecimento público em cerca de 75% dos municípios do Estado, principalmente na área do aquífero Guarani (reservatório subterrâneo do Estado), que abrange as regiões de Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto. São 26.462 poços no Estado, segundo o Daee, dos quais 2.701 estão na capital (8%).
"Vai ter uma corrida aos poços, disso eu não tenho dúvida", diz Júlio Cerqueira Cesar Neto, ex-diretor de planejamento do Daee.
Nas regiões de São Paulo e Campinas, as mais afetadas pela crise no Cantareira, os poços artesianos são a quarta maior fonte de água da região, atrás de três represas.

Condomínio faz poço de R$ 60 mil no interior de SP
Construtor não quis ligar conjunto de 10 casas à rede de água encanada
Reservatórios no país operam com 26,1% a menos da capacidade que tinham no mesmo período do ano passado
DE CAMPINAS DE SÃO PAULO
A incerteza sobre o fornecimento de água faz clientes residenciais pensarem em outras alternativas. Foi o que aconteceu em um condomínio em Vargem Grande Paulista (a 44 km de São Paulo).
O construtor Rodrigo Krisciunas está fazendo um conjunto de dez casas e optou por fazer um poço artesiano em vez de ligar o empreendimento à rede de água da Sabesp.
"Os condomínios têm de se virar. Se for esperar o governo, falta água", afirma ele, que gastou R$ 60 mil na obra.
Ricardo Hirata, especialista da USP em águas subterrâneas, estima que existam 12 mil poços artesianos hoje na Grande São Paulo, dos quais 3.000 ou 4.000 são legalizados. Mais 800, afirma, deverão entrar em funcionamento entre o começo deste ano e o fim do próximo.
"Em condições normais, nosso maior cliente é o industrial. Hoje, a procura está em todos os segmentos", diz Fernando Daleffe, da Edisonda, de Campinas. "Muitos condomínios, de casas ou apartamentos, têm nos procurado."
SITUAÇÃO CRÍTICA
Em todo o país, os reservatórios estão com volume 26,1% menor do que no mesmo período do ano passado.
Dados do Operador Nacional do Sistema do dia 15 mostram que o volume está em 46,9%. Em 2013 era 63,5%.
O sistema é composto por reservatórios federais que produzem energia, mas que fornecem água para consumo.
O reservatório Três Marias (MG), na bacia do São Francisco, está com 8,46% de seu volume --há um ano, era 40,24%.Para reter mais água na represa, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) reduziu a vazão sobre o rio, afetando o abastecimento de Pirapora (MG). O município, de 17,8 mil habitantes, foi à Justiça para barrar as reduções.
(LUCAS SAMPAIO, ARTUR RODRIGUES E HELOISA BRENHA)

FSP, 25/08/2014, Cotidiano, p. C1, C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/182369-crise-da-agua-causa-c…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/182371-condominio-faz-poco-d…

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