O Globo, O Pais, p.11
24 de Fev de 2005
CPI aprova quebra de sigilo bancário de Bida
BRASÍLIA. A CPI da Terra aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Vitalmiro Gonçalves de Souza e de mais oito fazendeiros do Pará acusados de envolvimento com grilagens, fraudes com verbas públicas e assassinatos, entre outros crimes. Vitalmiro, conhecido como Bida, é apontado como o principal mandante da morte da freira Dorothy Stang, no último dia 12. Criada ano passado, a CPI da Terra deverá centrar suas investigações, a partir de agora, nos conflitos fundiários do Pará.
Segundo o relator da CPI, deputado João Alfredo (PT-CE), a suspeita é de que Vitalmiro e os demais investigados mantenham fortes laços com políticos e autoridades do Judiciário. Essas ligações serviriam de salvo-conduto para diversos crimes imputados ao grupo. Vários desses fazendeiros também seriam beneficiários de generosos financiamentos da extinta Sudam e do Banco da Amazônia.
Temos a suspeita de que esses fazendeiros contam com a cumplicidade de setores da política e do Judiciário. Vamos ver se essas suspeitas se confirmam com as informações da quebra do sigilo disse João Alfredo.
Investigações apontam para mais de um mandante
Os deputados trabalham com a hipótese de que alguns desses fazendeiros tenham se juntado a Vitalmiro para encomendar a morte da freira.
Foi aprovada ainda a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Laudelino Délio Fernandes Neto, Francisco Alberto de Castro, Lázaro de Deus Vieira, Lourival Santos da Rocha e José Décio Barroso Barroso Nunes. Fazem parte da lista ainda Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, Danny Gutzeit e José Francisco Vitoriano. Taradão e Gutzeit estão sendo investigados pelo Ministério Público por envolvimento com irregularidades em projetos financiados pela Sudam.
O governo federal estuda a possibilidade de antecipar o repasse das verbas previstas no Orçamento deste ano para obras de infra-estrutura no Pará. Ontem, um grupo de 18 prefeitos e oito vice-prefeitos petistas de municípios do estado foram recebidos em audiência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles reivindicaram a transferência dos recursos destinados a obras na região até julho, quando termina o período de chuvas e costuma-se iniciar a construção de estradas.
Lula pediu que os prefeitos negociem seus pleitos com os ministros.
O presidente disse que está disposto a manter a ordem no Pará e compreendeu rapidamente a importância da liberação mais rápida dos recursos contou o deputado José Geraldo (PT-PA), que também esteve presente ao encontro e disse estar ameaçado de morte no Pará.
Entre os participantes da reunião estavam os prefeitos de Santarém, Abaetetuba, Paraupebas e Nova Ipixuba. Para os administradores, garantir a infra-estrutura no estado é tão importante quanto o combate à grilagem de terras e à pistolagem na região. Entre as obras mencionadas para o presidente estão a finalização da usina de Tucuruí, melhorias na rodovia Cuiabá-Santarém, mais apoio aos assentamentos do programa de reforma agrária e o reaparelhamento da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Incra.
O que falta esclarecer
Policiais civis, federais e militares do Exército montam hoje um esquema especial de segurança para fazer a reconstituição do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em Anapu. Eles querem esclarecer algumas dúvidas e confirmar trechos dos depoimentos dos envolvidos no crime.
POSIÇÃO DOS PISTOLEIROS: A reconstituição vai apurar a exata distância entre os dois envolvidos diretamente na morte da missionária e qual a posição deles no momento dos disparos.
CORPO DA MISSIONÁRIA: Os peritos querem confirmar se irmã Dorothy foi assassinada no lugar onde o corpo foi encontrado.
ENVOLVIMENTO DE TATO: Apontado como intermediário do crime, Tato, que negou seu envolvimento no assassinato, afirmou que de onde estava no dia do crime sequer conseguiria ouvir os tiros. Ele estaria trabalhando com uma motosserra no meio da mata. Os peritos vão fazer esse teste na reconstituição de hoje e confirmar ou não essa versão. O crime teria ocorrido muito próximo do local onde Tato vivia.
QUEM PARTICIPA: A reconstituição vai envolver várias unidades. O Exército e a Polícia Militar vão garantir a segurança dos técnicos que vão trabalhar. Os peritos da Polícia Civil e da Polícia Federal vão trabalhar juntos. Os peritos das duas instituições são de Belém e, entre outras funções, são especialistas em balística. Rayfran e Clodoaldo, acusados de serem os pistoleiros, e Tato vão participar. Serão levados em helicópteros. Testemunhas que assistiram ao crime também participarão.
DURAÇÃO: A estimativa da Polícia Federal é que a reconstituição dure cerca de seis horas. Não se sabe a que horas começará. Vai depender da hora em que os helicópteros partirem de Altamira, de acordo com as condições climáticas.
OESP, 24/02/2005, O País, p.11
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