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Brasil teve 4,31 conflitos por terra por dia em 2020, diz relatório

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade/meio-ambiente
31 de Mai de 2021

Brasil teve 4,31 conflitos por terra por dia em 2020, diz relatório
Sob Bolsonaro, números de conflitos no campo são os maiores já registrados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Jan Niklas
31/05/2021

RIO - O ano de 2020 foi o de maior número de ocorrências de conflitos no campo já registrados desde 1985. Houve 1.576 confrontos por terra, o equivalente a 4,31 por dia. Trata-se de um aumento de 25% em relação aos registros de 2019 e 57,6% sobre o observado em 2018.
Os dados são do novo relatório "Conflitos no Campo Brasil 2020", elaborado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O índice de notificações é o maior desde o início da série histórica, em 1985.
O documento listou 2.054 confrontos no campo, que envolvem brigas por terra, água e disputas trabalhistas. Trata-se de um aumento de 8% em relação ao compilado em 2019 (1.903).
A média de conflitos diários passou de 2,74 em 2018 para 3,45 em 2019 e, no ano passado, chegou a 4,31. Em 2020, as disputas envolveram 914.144 pessoas, um aumento de quase 2% em relação a 2019.
Pressão sobre indígenas
A coordenadora da CPT, Isolete Wichinieski, destaca que os dados são ainda mais assustadores quando analisados apenas os números referentes aos povos indígenas no Brasil - eles equivalem a 656 ocorrências (41,6% do total) e mobilizaram 96.931 famílias (56,5%).
- O próprio governo, o presidente da República, coloca os povos indígenas como inimigos do país. Os dados refletem essa visão - diz Wichinieski.
Dentre os conflitos registrados pela CPT ocorreram 18 assassinatos, sendo sete de indígenas, ou seja, 39% das vítimas. Já entre as 35 pessoas que sofreram tentativas de assassinato ou homicídio, 12 foram indígenas, o equivalente a 34% do total.
Segundo a ambientalista Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA) o presidente Jair Bolsonaro demonstra apoio a agentes que atuam ilegamente na Amazônia ao defender sua ocupação por atividades ilegais, como o garimpo.
Ela alerta ainda para o risco de propostas que estão tramitando no Congresso, como a nova Lei de Licenciamento ambiental e o "PL da Grilagem", que podem acirrar ainda mais a violência na região.
- Essas propostas podem levar à redução de direitos ambientais e territoriais, num flagrante desmonte, assumidamente programático, que faz parte da proposta do governo Bolsonaro - analisa Ramos.
Wichinieski ressalta que as disputas por terra, mesmo sendo um problema estrutural do país, sofreram uma escalada a partir de 2016, após o processo de impeachment (chamado de "golpe" pelo relatório) da presidente Dilma Rousseff .
Foi em 2016 quando, pela primeira vez, houve o registro de mais de mil conflitos por terra - ao todo, foram 1.112, frente a 828 episódios em 2015, que era o recordista até então. A partir daí, o patamar de confrontos não baixou mais.
- Observamos que este processo foi intensificado ainda mais nos últimos dois anos sob Bolsonaro - indica Wichinieski. - As populações camponesas foram pressionados pelo capital e por interesses privados, grileiros e garimpeiros.
Em 2020, o número de ocorrências de conflitos pela água diminuiu cerca de 30% em relação ao ano anterior. No entanto, ocorreram quatro assassinatos nesse tipo de conflito, o maior número de mortes já registrados na categoria. Todos foram vítimas de um episódio conhecido como Massacre do Rio Abacaxis, no Amazonas, quando um indígena e três ribeirinhos perderam a vida após um conflito envolendo a prática de pesca esportiva ilegal no local.
No ano passado também foram registradas 96 ocorrências de conflitos trabalhistas, um índice quase 7% maior que em 2019. É o maior número dos últimos seis anos.

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