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A biodiversidade é a nossa vida

Revista ECO21 - www.eco21.com.br
Autor: Julia Marton-Lefèvre
01 de Mai de 2010

2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade, em reconhecimento à vida na Terra. Oito anos atrás, mais de 190 países concordaram, no encontro da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, em reduzir a queda nos índices da biodiversidade até 2010. Em Outubro deste ano, a Convenção se reunirá em Nagoya, Japão, para avaliar os avanços e propor novas metas para a manutenção da biodiversidade no mundo. Um pouco antes disso, a Assembléia Geral da ONU discutirá, pela primeira, vez a crise de biodiversidade.

Está claro, através de muitos indícios, que o mundo falhou em manter os acordos de 2010 para as metas de biodiversidade. Por exemplo, na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a União Internacional para Conservação da Natureza documentou os índices de risco de extinção de 47.677 espécies: 17.291 delas estão sob ameaça: 12% das aves, 21% dos mamíferos, 30% dos anfíbios, 27% dos corais e 35% das coníferas e cicadófitas.

O rastreamento dos índices de risco de extinção, feito há tempos, revelam notícias ainda mais alarmantes, como a redução dramática da população de diversos grupos, mais precisamente os corais e anfíbios. O Índice Planeta Vivo revelou que as populações de espécies selvagens decaíram em 30% desde 1970; os manguezais perderam um quinto de sua área desde 1980, e 29% das áreas onde cresciam ervas marinhas foram destruídas.
Esta perda de biodiversidade causa consequências negativas à humanidade. De acordo com o estudo The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) de 2009, metade do rendimento econômico das 1.1 bilhão de pessoas mais pobres do mundo vem justamente dos recursos da natureza, através de benefícios que incluem a conservação florestal, a polinização das colheitas, mitigação de desastres, provisões de água limpa e manutenção de culturas locais. O estudo estima que o custo anual íntegro da perda de biodiversidade no mundo, até onde pode ser medido, seja de 1.35 a 3 trilhões de dólares. Além disso, acredita-se que a destruição das florestas tropicais (que diminuem 6 milhões de hectares a cada ano) seja responsável por pelo menos um quinto das emissões de gás de Efeito Estufa, contribuindo para as mudanças climáticas. A perda de biodiversidade impede que nossos descendentes ganhem vastos benefícios atualmente desconhecidos.

Ciente que essa perda impede a humanidade de apreciar as maravilhas da natureza, ela também nos torna cada vez menos humanos.
No entanto, raios de esperança escapam de tais trevas. A conservação tem raízes seculares e já provou que funciona. A recente baixa no número de espécies de aves teria sido 25% maior se não fosse o papel da biologia de conservação. Áreas de proteção ambiental estão expandindo no mundo todo, e elas podem prevenir ou até reverter a destruição de hábitats naturais. Os zoológicos, aquários, jardins botânicos e bancos de genes garantem a sobrevivência de espécies e a diversidade genética.
Em Nagoya o maior desafio será estabelecer um novo plano ainda mais sofisticado, com maior eficácia na disseminação dos avanços.

O plano para manter e restaurar a biodiversidade deve ser de longo prazo, com metas para 2050. Ele deve também estabelecer missões imediatas e prazos que impeçam a perda de biodiversidade até 2020. Para alcançar estas metas em 10 anos, decisões deverão ser tomadas até 2015, paralelas às Metas de Desenvolvimento do Milênio. Essas decisões devem ser explícitas, encarando de frente os grandes propulsores da perda de biodiversidade, as ameaças próximas, os benefícios da conservação, e os mecanismos de resposta social criados pela ciência, política e economia imprescindíveis à luta pela conservação da biodiversidade.

Para ajudar a guiar essa missão, uma interface político-científica reforçada será necessária, como a proposta para a criação de uma plataforma intergovernamental de serviços à biodiversidade e aos ecossistemas. E novas metas para a biodiversidade precisam de apoio financeiro, especialmente nos países em desenvolvimento. Mecanismos inovadores de financiamento da preservação dos ecossistemas - como a redução de mudanças climáticas através da conservação florestal, conhecida como REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation - Redução de Emissões Causadas por Desmatamento e Degradação) - oferecem grandes oportunidades. Mas é preciso fazer muito mais. Por exemplo, cada um dos 30 países-membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) deve contribuir com 0,2% do seu PIB para a conservação da biodiversidade em países em desenvolvimento, junto com o 0,5% de auxílio aos mesmos países. Tais financiamentos seriam possíveis com o deslocamento de subsídios inapropriados da economia para o meio ambiente, gerando trilhões de dólares por ano. Somente cumprindo tais compromissos explicitamente é que será possível assegurar a sobrevivência da biodiversidade, para o benefício de todas as pessoas, e da natureza.

http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=2210

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