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Aumenta procura por produtos sustentáveis

GM, Pequenas e Medias Empresas, p. A20
05 de Jul de 2004

Aumenta procura por produtos sustentáveis

Venda de artigos certificados, que respeitam o meio ambiente e as comunidades produtoras, cresce 31%. Produtos provenientes de atividades sustentáveis - cosmésticos e fitoterápicos extraídos de florestas, madeira certificada, orgânicos, artesanato à base de fibras e materiais reciclados - conquistam hoje parcela cada vez maior de consumidores e tornaram-se uma nova oportunidade de negócios para empreendedores. É um mercado em franca expansão no mundo todo: de 2000 a 2002 as vendas mundiais de produtos certificados aumentaram cerca de 20% ao ano. Em 2003, foi registrado um salto de 31%, de acordo com a Fair Trade Labelling Organizations (FLO), conjunto de organizações responsáveis pela certificação e rotulagem de produtos sustentáveis.
O movimento internacional conhecido como Fair Trade (comércio justo) estimula o apoio à inclusão social de trabalhadores marginalizados da economia formal, o respeito à identidade cultural desses produtores e o fomento às práticas ambientais sustentáveis, entre outros pontos. Esse nicho de mercado cresce principalmente nas grandes cidades e busca atingir uma clientela de bom poder aquisitivo e algum grau de consciência ecológica. Pequenas lojas, em ambientes aconchegantes, oferecem artigos diferenciados e com vocação social e ambientalmente correta, fruto de parcerias com comunidades produtoras e organizações não-governamentais.
O Núcleo Arte & Papel, em São Paulo, é um exemplo dessa tendência. Instalado em um sobrado no bairro de Moema, região Sul da capital paulista, o empreendimento comercializa artigos de papelaria artesanal feitos com fibras naturais e com papel reciclável, objetos de decoração feitos com matéria-prima também reciclada (alumínio, vidro, papel).
A loja confecciona brindes corporativos personalizados, que têm registrado boa demanda, é sede de cursos em modelagem de papel e encadernação e possui ainda um café, onde os potenciais clientes podem degustar guloseimas feitas por comunidades da Amazônia e também do sul do País. Em breve, será agregada uma biblioteca especializada em publicações sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
"Queríamos investir em um espaço diferenciado, que só trabalhasse com artigos produzidos com responsabilidade social e baixo impacto ambiental", diz a jornalista Almeri Bolonhezi, que abriu o espaço no ano passado em parceria com a irmã Arlene com investimento de R$ 100 mil.
As sócias proprietárias trabalham com cerca de 50 fornecedores, incluindo 12 produtores de papel artesanal, 30 artesãos, três designers, oito artistas plásticos e dois fabricantes na área de alimentos. Na papelaria, as matérias-primas mais utilizadas são o próprio papel pós-consumo, sisal, fibras de bananeira, palha de café e bagaço da cana-de-açúcar.
Brinde atrai cliente corporativo
Confeccionada com exclusividade, a linha de brindes corporativos inclui agendas, blocos de notas, convites e cardápios e representa, em média, 80% das vendas. Os principais clientes são agências de publicidade e empresas de eventos. Instituições como o Hospital Oswaldo Cruz, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o Centro Universitário São Camilo e a Associação Comercial de São Paulo também integram a lista de compradores.
Recentemente, o Núcleo Arte & Papel firmou parceria para ser representante, em São Paulo, dos produtos alimentícios artesanais feitos pelo Sítio Ecológico Etiel, de Gramado (RS), que agora suprem o café da loja e compõem cestas de presente montadas também comercializadas. O destaque são geléias com sabores exóticos - guabiroba, açaí, pitanga, mirtilo, vinho tinto e champanhe - e cookies fabricados com queijo curado.
Carlos Mendes, proprietário do Sítio Etiel, produz uma vasta gama de produtos artesanais e orgânicos que podem ser encontrados nos hotéis e pousadas da região de Gramado. São 25 tipos de geléias, além de uma linha de laticínios e mel puro em parceria com famílias que moram nos arredores do sítio, localizado em uma área de 27 hectares, com 19 hectares de Mata Atlântica preservada.
"Adotamos o conceito de sítio ecológico por opção. A entrada no mercado paulistano é um sonho realizado, pois vai divulgar a marca Etiel para além da serra gaúcha", diz Mendes.
A Associação Mundaréu, de São Paulo, organização não-governamental criada em 2001 com o objetivo de promover o desenvolvimento e a geração de renda em comunidades populares em todo o País, também criou um espaço para vender seus produtos.
Comércio justo
"Foi a primeira loja de comércio justo do Brasil", orgulha-se Lizete Prata, presidente da Mundaréu. Localizada na Vila Madalena, em São Paulo - bairro conhecido por seus ateliês de arte e agitada vida noturna - a loja comercializa mais de uma centena de produtos, entre artigos de decoração, utilidades, brindes corporativos, itens de papelaria e escritório, brinquedos e moda. Os artigos são fornecidos por mais de 50 comunidades de produtores de 12 estados brasileiros. Segundo Lizete, 50% do preço da etiqueta volta para o produtor.
A atividade comercial, no entanto, não é suficiente para custear todo o trabalho da organização, que recebe apoio financeiro da Fundação Telefônica, do Real ABN Amro e da Fundação Avina. Foram R$ 600 mil em dois anos, montante investido na montagem da loja e também nas atividades da ONG, que incluem treinamento e capacitação das comunidades produtoras com noções de estilo e design e também know-how administrativo e financeiro.
"Um dos principais problemas desses pequenos produtores é que eles não pensam o produto em termos de consumidor final. Eles se unem, fazem os produtos e tentam vender", explica Lizete. "Nossa missão não é proteger essas comunidades, e sim capacitá-las para uma visão de mercado. O que eles produzem deve ter qualidade, beleza e competitividade", diz.
Fibras e resíduos de madeira
Do outro lado do balcão, a Artes&Eventos , empresa sediada em Macapá, no Estado do Amapá, batalha para colocar no mercado das grandes capitais os produtos feitos a partir de fibras amazônicas, em especial o buriti e o turiri, proveniente da palmeira-buçu, matéria-prima muito utilizada para artesanato na Amazônia. Artigos como pastas, crachás, cadernos, blocos de anotação, luminárias e biombos estão entre os produtos já desenvolvidos. Resíduos de madeira certificada e papel reciclado artesanal e industrial também entram na confecção dos produtos.
A Artes&Eventos está em fase de desenvolvimento de embalagens para comésticos e produtos para casa e decoração feitos com materiais da floresta. "Somos uma empresa que combina design contemporâneo ao uso tradicional dos recursos naturais da Amazônia", explica Fernando Allegretti, sócio-proprietário da Arte&Eventos.
A empresa foi criada em 1999, em Macapá, com investimento inicial de R$ 60 mil. O objetivo de Allegretti, engenheiro agrônomo com mestrado em ciências florestais, era trabalhar com comunidades extrativistas e de artesãos da Amazônia, mas com o objetivo de agregar valor aos produtos em nível local. A empresa é incubada pelo Instituto de Estudos e Pesquisa do Amapá (IEPA) e trabalha ainda em parceria com o Sebrae para o trabalho de treinamento das comunidades. De 1999 até hoje, foram investidos US$ 77 mil na empresa.
A produção começa na Reserva Extrativista do Rio Cajari, a cerca de 180 quilômetros a oeste de Macapá. A coleta, seleção e preparo (com ou sem tingimento) das fibras é feita por uma comunidade de mulheres. A confecção das peças fica por conta de uma associação de artesãos de Macapá. "O diferencial da empresa é a relação direta com as comunidades e o cuidado na aquisição dos materiais", diz Allegretti. A empresa montou escritório em Curitiba, estratégia que faz parte do plano da empresa de entrar em pelo menos cinco capitais. A próxima será São Paulo.

kicker: Mundaréu fez parceria com artesãos, que recebem 50% do preço de etiqueta
kicker2: Artes&Eventos sai de Macapá e leva design da Amazônia para as grandes capitais

GM, 05/07/2004, Pequenas e Medias Empresas, p. A20

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