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Arco do Desmatamento avança na Amazônia

O Globo, O País, p. 10
26 de Jan de 2007

Arco do Desmatamento avança na Amazônia
Mapas do IBGE sobre a região mostram os caminhos da destruição pelo fogo em pelo menos quatro frentes

Chico Otavio e Sérgio Duran

Ao cruzar, pela primeira vez, dados distintos sobre a ação humana na Amazônia Legal em mapas coloridos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o Arco do Desmatamento começa a avançar sobre a mata fechada em pelo menos quatro frentes. A maior delas concentra-se no eixo da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), passando por uma das mais ricas regiões amazônicas em recursos naturais.

O dado faz parte de um conjunto de dez mapas temáticos sobre a Amazônia Legal, divulgados ontem pelo IBGE, como parte do projeto de macrozoneamento econômico-ecológico da região. Com eles, é possível visualizar a distribuição espacial de várias atividades humanas com impacto no ambiente, como o desmatamento, a mineração, a extração de madeira, a pecuária e as lavouras, principalmente de soja.

- Os mapas formam um conjunto de informações que vão subsidiar o planejamento econômico, social e ambiental da região - disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que esteve no lançamento, ontem, no Rio.

Dados de focos de calor cruzados com desmatamento
O IBGE trabalhou com dados de 2003, fornecidos por fontes como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ibama e Funai. A geógrafa Adma Haman de Figueiredo, coordenadora da equipe responsável, explicou que o trabalho é um retrato inédito e detalhado dos efeitos da presença humana na Amazônia Legal, formada por nove estados e que ocupa 60% do país.

Com o cruzamento de dados como focos de calor e desmatamento, é possível visualizar que o Arco do Desmatamento - uma extensa área que vai do norte de Rondônia até o leste do Pará - se volta para a floresta em pelo menos quatro pontos. Além do eixo da BR-163, há frentes abertas na Terra do Meio (PA), altura de São Félix do Xingu, no sentido leste-oeste, na Boca do Acre (AM), e Humaitá (RO), ambas no sentido sul-norte.

Na BR-163, aberta nos anos 70 como uma das grandes obras do regime militar, o avanço não se dá apenas na direção sul-norte (Mato-Grosso - Pará). O mapa sobre "Fronteira agropecuária e mineral na vegetação natural" mostra frentes de devastação no sentido leste-oeste em mais três pontos.

O processo de desmatamento, como indicam os mapas, começa com a extração da madeira. Em seguida, os focos de incêndio abrem caminho para a pecuária. Só depois é a vez das lavouras. A potencialidade para o cultivo de grãos se dá principalmente nas áreas de cerrado do Mato Grosso, Tocantins e sul do Maranhão, mas as frentes identificadas nos mapas mostram avanços em Santarém, Mará e Redenção, todas no Pará.

O conjunto de mapas do IBGE também localiza a rede urbano-regional, a logística do território, a tipologia da ocupação territorial, a diversidade sociocultural, a estrutura agrária e as fronteiras agrícola e pecuária da Amazônia. Uma das conclusões dos técnicos ao IBGE, com o cruzamento dos dados, é de que nem as áreas já ocupadas pela lavoura não escaparam do vazio demográfico amazônico.

- É a Amazônia ocupada pelas máquinas. São lugares ricos, movimentados pela produção de soja, mas com grandes vazios demográficos provocados pela mecanização do campo. No interior destas cidades, em vez da presença humana, o que se encontra são máquinas - explicou Adma.

Um dos mapas, produzido com base em dados fornecidos por nove estados, mostra a divisão do território da Amazônia Legal em áreas com estrutura produtiva definida ou em definição, áreas que devem ser recuperadas ou reordenadas, áreas frágeis, áreas onde há manejo florestal e as áreas de proteção ambiental já existentes ou propostas.

Para Marina Silva, a elaboração desses mapas ajuda também no processo de fiscalização feito por monitoramento de satélites que orienta as ações do Ibama no território.

Marina comentou que o Plano de Combate ao Desmatamento na região já conseguiu a redução do desmatamento até 52%, contando desde o período de sua implantação há quatro anos. Ela também apresentou números desses quatro anos na Amazônia, entre eles, a prisão de 400 pessoas.

O Globo, 26/01/2007, O País, p. 10

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