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Após 5 meses, família reconhece corpo de ativista

O Globo, País, p. 7
25 de Jun de 2016

Após 5 meses, família reconhece corpo de ativista

Marlen Couto

RIO - Após mais de cinco meses de buscas, a Polícia Civil de Rondônia encontrou na última terça-feira um corpo que seria da pescadora e ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Nilce de Souza Magalhães, conhecida como Nicinha e assassinada em janeiro. Os restos mortais foram achados no lago da barragem da usina hidrelétrica Jirau, em Porto Velho.
Familiares de Nicinha reconheceram suas vestimentas. Como o corpo está em estado avançado de decomposição, no entanto, um exame de DNA foi solicitado, mas só deve ficar pronto em meados de julho.
Com as mãos e os pés amarrados por uma corda e ligados a uma pedra, o corpo estava a 400 metros da antiga moradia da ativista, no distrito de Velha Mutum Paraná, e foi descoberto por trabalhadores da hidrelétrica. Há cerca de dois meses, Edione Pessoa da Silva foi preso após confessar o assassinato. Ele fugiu da Penitenciária Estadual Edvan Mariano Rosendo, localizada em Porto Velho. A Secretaria de Estado de Justiça de Rondônia informou que ele já foi recapturado. O GLOBO entrou em contato com a penitenciária, e o nome de Edione não consta na lista de presos. Além do homicídio, a polícia investiga a ocultação do cadáver.
Segundo o chefe de Comunicação da Polícia Civil do estado, Osmar Casa, não há indícios de que a morte foi encomendada ou tenha relação com conflitos associados à hidrelétrica. Edione teria realizado furtos na comunidade, e, como liderança do grupo, Nicinha iria denunciá-lo, o que teria motivado o crime.
- O homicídio foi constatado. O suspeito foi preso e confirmou a morte. Não existe demonstração de que o crime foi encomendado. Não está descartado, mas não há indicativo de que seja isso. Quanto à ocultação do corpo, há suspeita de ele que teve ajuda de mais uma ou duas pessoas - afirmou Osmar Casa ao GLOBO.
Filha de seringueiros, a ativista vivia em um acampamento com outras famílias de pescadores. De acordo com o MAB, ela era conhecida na região por ser uma das principais lideranças locais na defesa de populações atingidas pela Usina Hidrelétrica de Jirau e por denunciar violações de direitos humanos cometidas pela Energia Sustentável do Brasil, consórcio responsável pela obra.
João Marcos Dutra, um dos coordenadores do MAB em Porto Velho, critica a condução da investigação policial. Ele destaca que foram abertos dois inquéritos diferentes e ressalta que as motivações de Edione para o crime não estão claras e que seu depoimento já mudou "diversas vezes".
- O corpo foi achado a apenas 400 metros do local do crime. A busca não foi realizada. Foi feita de forma imprudente. Também foram encontrados cartuchos de uma espingarda usada para o crime por garimpeiros ali perto. O local do crime não foi fotografado e a recomposição dos fatos foi precária - disse.
Nicinha foi diretamente afetada pela construção da hidrelétrica e não foi reassentada. Segundo Dutra, a ativista realizou denúncias nos últimos anos e participou de audiências e manifestações públicas sobre os impactos gerados à atividade pesqueira no Rio Madeira. Chegou a ir a Brasília, em reunião com representantes Presidência da República. As denúncias resultaram em dois inquéritos civis movidos pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual.

O Globo, 25/06/2016, País, p. 7

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