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Usinas a carvão serão maioria em leilão do governo

O Globo, Economia, p. 22
27 de Ago de 2013

Usinas a carvão serão maioria em leilão do governo
Três projetos que serão lançados esta semana representam 52% da oferta total

RAMONA ORDOÑEZ
ramona@oglobo.com.br

Os três projetos de usina a carvão habilitados para o próximo leilão de oferta de energia para 2018 representam pouco mais da metade (52%) da capacidade de todos que entrarão na disputa - são 36 empreendimentos, que somam 3.535 megawatts (MW). Duas delas estão previstas para o Rio Grande do Sul e uma para o Rio de Janeiro (da MPX, no Porto do Açu), que terá capacidade instalada de 590 MW. O leilão será na próxima quinta-feira, 29. É a primeira vez em cinco anos que participam projetos de térmicas a carvão. A retomada do combustível- que é o segundo mais poluente, só atrás do óleo - foi considerado um retrocesso por especialistas e ambientalistas.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aprovou 16 projetos de térmicas a biomassa, com capacidade total de 919 MW; 16 projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), com 376 MW de capacidade; e a hidrelétrica Sinop, no Rio Teles Pires (MT), com 400 MW.
- A retomada do carvão no Brasil é culpa dos movimentos ambientais, que inviabilizaram as usinas hidrelétricas - afirmou Alexandre Rangel, sócio da área de energia e mineração da consultoria EY (antiga Ernest & Young).
Gás levou ao abandono do carvão
Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, classifica como retrocesso a retomada da construção de térmicas a carvão. Mas, argumenta, a culpa não é dos ambientalistas, mas sim da falta de planejamento, pois o país já deveria ter optado pelas energias mais limpas - como eólica, solar e biomassa - para serem usadas como fontes complementares nos períodos secos, quando os reservatórios das hidrelétricas estão mais baixos.
- É uma incoerência ter usinas a carvão porque não saem as hidrelétricas. Muitas coisas precisam ser revistas no processo de licenciamento - disse.
Já o presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, diz que o Brasil não está na contramão ao retomar usinas a carvão. Elas são, segundo ele, muito competitivas, com um custo entre R$ 70 a R$ 100 o megawatt/hora (MWh). Além disso, conta, as usinas usarão tecnologias mais avançadas - que aproximam de zero as emissões de sulfatos, nitratos e particulados.
- Elas nunca deveriam ter saído dos leilões de energia no Brasil. E o Brasil não está na contramão do mundo. Na Europa, vários países estão desenvolvendo projetos de usinas a carvão .
Apesar dos argumentos, a resistência contra o uso de carvão se repete em âmbito internacional: o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, apresentou, recentemente, sugestão ao conselho do banco para não aprovar financiamentos de usinas que utilizam o combustível.
- As térmicas a carvão estão saindo do mercado por conta do shale gás (gás natural não convencional extraído de rochas), que proporciona fortes excedentes de gás - diz Alexandre Rangeu, da EY.
No Brasil, porém, o fenômeno não se repetirá nem com a exploração do pré-sal, pois não deverá haver muito excedente de gás para ser usado em térmicas. Isto porque boa parte do gás terá de ser reinjetado nos poços para elevar a produtividade.
BNDES facilita financiamento
Conforme a EPE, foram inscritos 12 projetos de hidrelétricas para o leilão de quinta-feira, mas só Sinop possui Licença Ambiental Prévia, exigida para a habilitação. O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, tem dito que o baixo número de hidrelétricas se deve às dificuldades de obtenção de licenças. A EPE espera, contudo, que estes projetos possam ser incluídos no segundo leilão, que acontecerá em dezembro. Nesse grupo está a Usina de São Manoel, também no Rio Teles Pires, com 700 MW.
O BNDES divulgou nesta segunda-feira novas regras para o financiamento de projetos de energia, que valerão para os três leilões previstos para este ano, inclusive o de quinta-feira. De acordo com Antônio Tovar, do BNDES, o banco facilitará os empréstimos, inclusive para as térmicas a carvão, que terão o prazo de financiamento alongado de 14 anos para 16 anos. No caso das hidrelétricas, o prazo passará de 16 para 20 anos. O BNDES também reduzirá a necessidade de capital próprio dos empreendedores nos projetos e facilitará a emissão de debêntures, que terão garantias compartilhadas com o banco. Caso emitam papéis, as usinas poderão adotar a tabela Price ao invés da SAC, o que será mais vantajoso:
- Queremos que as facilidades do banco cheguem ao consumidor final, que possa pagar menos pela energia - afirmou Tovar, lembrando que os três leilões podem gerar investimentos de R$ 100 bilhões.
Colaborou Henrique Gomes Batista

O Globo, 27/08/2013, Economia, p. 22

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