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Risco de apagão

O Globo, Opinião, p. 6
13 de Mai de 2007

Risco de apagão

A questão da disponibilidade de energia parece se resumir aos projetos das hidrelétricas do Rio Madeira. Como aumentou a temperatura na discussão sobre as causas de um alegado atraso na definição acerca do licenciamento ambiental das duas usinas, Santo Antônio e Jirau, a construção, a tempo, das hidrelétricas tem sido considerada decisiva para o país não enfrentar mais um apagão, que ocorreria a partir de 2008, a depender do ritmo do crescimento econômico e da hidrologia.

Armamento pesado tem sido acionado para apressar a liberação dos projetos. Num desses ataques foi dito que a alternativa serão termelétricas à base nuclear, de carvão e óleo combustível, fontes de energia de deixar ambientalista catatônico.

Pode até ser, como é possível que todas as opções tenham de ser exploradas, caso a economia decole para um patamar de crescimento sustentado a taxas elevadas.

Há, porém, especialistas que se preocupam com o cenário energético independentemente do futuro dos projetos do Madeira e dos humores de Evo Morales, na Bolívia.

Em sua coluna no jornal "Valor", o economista Fabio Giambiagi, baseado em estudos do Ipea e da UFRJ, alerta para um problema de grande gravidade em potencial: não só a economia acelera o crescimento, como alguns indicadores apontam para o risco de anos hidrológicos ruins. Leia-se, reservatórios com menos água. Giambiagi lembra que o apagão de 2001 foi construído por uma redução contínua nos níveis de chuva a partir de 1997.

Já Adriano Pires e Rafael Schechtman, diretores do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, em artigo publicado no GLOBO, garantem que não serão os projetos do Rio Madeira que resolverão o problema. Como hidrelétricas entram em operação por turbina, máquina a máquina, se tudo correr bem só 500 MW estariam disponíveis em 2012, volume de energia insuficiente para arcar com o aumento de consumo. O nó da questão seriam os atrasos em projetos, não só por ação da burocracia ambiental, mas também por causa de incertezas regulatórias, somadas à falta de gás.

Por este diagnóstico, o governo se depara com um cenário em que precisa demonstrar grande capacidade de decisão e administrativa.

Pelo menos, deverá contar com um Ministério do Meio Ambiente mais bem preparado para avaliar investimentos, feita a reestruturação do Ibama para que projetos sejam analisados à parte da administração de toda a problemática ecológica.

A expectativa é que se ganhe velocidade na definição dos licenciamentos. E ganhar tempo é tudo que se precisa.

O Globo, 13/05/2007, Opinião, p. 6

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