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Olhando só para o futuro

OESP, Notas e Informações, p. A3
02 de Jul de 2007

Olhando só para o futuro

Ressalvas técnicas podem ser feitas a algumas projeções contidas no Plano Nacional de Energia 2030, que acaba de ser aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Mas deve-se reconhecer que o documento tem uma característica inovadora. Até agora os principais estudos do governo para a área energética, sobretudo os que abrangiam períodos longos, limitavam-se a apenas um componente da matriz energética. Este analisa todo o quadro energético nacional num horizonte de longo prazo.

Elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, o plano tem outro aspecto a ser destacado. Por conterem uma avaliação mais confiável dos problemas e dos desafios a serem enfrentados nas próximas décadas, documentos como esse tornam-se importante referência para a ação do governo e para as decisões do setor privado. São, portanto, de importância fundamental para o planejamento e a programação das ações públicas e privadas de longo prazo numa área essencial para o desenvolvimento econômico.

Por sua magnitude, alguns dados contidos nesse Plano de Energia assustam. Os investimentos em energia estimados no plano, por exemplo, totalizam US$ 800 bilhões no prazo de 25 anos (entre 2005 e 2030), o que significa investimentos anuais de US$ 32 bilhões durante o período considerado. É claro que esse dinheiro não virá apenas do governo, que não dispõe de capacidade financeira para isso. Esse total inclui todos os investimentos, como os da Petrobrás, das empresas estatais e do setor privado, em todas as áreas de energia.

Praticamente a metade desse valor (49%) será destinada ao petróleo. Nessa área, o plano prevê a construção de cinco refinarias de grande porte, das quais três com capacidade para processar 250 mil barris por dia. A energia elétrica continuará a receber pesados investimentos no período, devendo absorver 35% do total, ou US$ 280 bilhões. Com isso, o Brasil aumentará sua capacidade instalada de 87 mil megawatts (MW) para 217 mil MW no período. O gás absorverá 12% dos investimentos totais e a geração de energia a partir da cana, 4%.

O plano da EPE prevê a triplicação (passará de 1% para 3%) da participação da energia nuclear na matriz energética brasileira. Para isso, prevê-se a construção de quatro usinas nucleares de mil MW cada, além da conclusão da Usina Angra 3, cuja retomada já foi decidida pelo governo.

Os técnicos do governo parecem ver com clareza o futuro. "Quando olhamos para além de 2025, 2030, vemos que o País precisará de energia nuclear, pois as hidrelétricas serão cada vez mais escassas", disse o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, para justificar a projeção de aumento da participação da geração nuclear na matriz energética e a redução do peso da geração hidrelétrica.

Pode-se questionar as mudanças na matriz energética nos próximos 25 anos que a EPE está projetando. O futuro dirá se elas foram superestimadas ou subestimadas. Não é essa a questão que incomoda o brasileiro preocupado com a oferta de energia no País no futuro próximo. O que o incomoda é a falta de visão da realidade freqüentemente demonstrada pelo governo do PT.

O estudo da EPE admite como certas, por exemplo, a conclusão de Angra 3 no prazo estimado (2013) e a construção das duas usinas programadas para o Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), a de Belo Monte e de outras que fazem parte da programa do governo. Consideradas por todos os especialistas essenciais para evitar crises de abastecimento de energia elétrica nos próximos anos, algumas dessas obras ainda dependem de licenciamento ambiental, cuja emissão o Ibama vem retardando. Até mesmo no caso de Angra 3, que o governo considera menos complicado, pois a usina nuclear será construída na área onde já funcionam outras duas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sugere que a autorização poderá demorar.

Todos os especialistas vêm advertindo as autoridades federais sobre a ameaça real de apagão nos próximos anos, mas o governo Lula nada tem feito para enfrentar os problemas imediatos, alguns dos quais criados por seus membros. Prefere falar do que pode acontecer daqui a 25 anos.

OESP, 02/07/2007, Notas e Informações, p. A3

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