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O gás de Urucu e sua utilização no mercado

Jornal do Commercio Manaus-AM
26 de Fev de 2005

O ganho de competitividade proporcionado ao PIM (Pólo Industrial de Manaus) com a chegada do gás de Urucu na capital amazonense pode ser decisivo para a sustentação da política de incentivos fiscais da ZFM (Zona Franca de Manaus), cujo término está marcado para 2023.

A avaliação é do geólogo, consultor e coordenador de gestão ambiental do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Jorge Garcez. De acordo com ele, a mudança de matriz energética trará à indústria local uma redução de até 40% no custo de um dos principais insumos do setor.

O potencial da mudança é melhor compreendido quando se observa o perfil de consumo de Manaus. Entre os mais de 400 mil consumidores da cidade, a indústria desponta com 2.537 pessoas jurídicas e é responsável por 40% da demanda de energia. Enquanto a média de incremento de consumo de energia registrada pelo setor em outras capitais brasileiras varia de 3% a 5% por ano, no PIM essa faixa varia de 8% a 10%.

Garcez estima que os segmentos industriais mais favorecidos pela adoção do gás seriam os de maior consumo energético, a exemplo do metalúrgico, duas rodas e químico. Embora em menor grau, subsetores com emprego mais intensivo de tecnologia e menor consumo relativo -como o eletroeletrônico- também devem obter ganhos com a mudança, segundo o especialista.

"Com a viabilização de Urucu, Manaus ficará auto-suficiente em energia, e o gás deixará de ser uma fonte marginal para se tornar um trunfo para a manutenção do modelo, embora os estudos apontem que, no caso do consumo domiciliar, o impacto da mudança não gere além de 5% na redução do preço", declarou.

Diesel deixará de ser matriz energética

Outro benefício decorrente da implementação do gás seria tirar o modelo ZFM da dependência do incentivo federal para o diesel, concedido ao Estado em virtude da política nacional de preços para o setor. Com base nos custos das hidrelétricas, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a ANP (Agência Nacional de Petróleo) estipulam um preço referencial para o kw/hora de energia, válido para todo o país.

No Amazonas, para que o valor seja compatível com a média nacional, o governo federal concede incentivo sobre o preço do diesel, principal matriz energética do Estado, com 95% da geração. O instrumento utilizado é a CCC (Conta de Compensação de Combustível), que cobre 70% do custo de geração energética com o combustível.

"Hoje, seria impossível manter uma estrutura para fornecimento de energia no Amazonas sem o repasse federal, pois aqui as despesas com o serviço estão muito acima do padrão nacional, em virtude da distância dos centros produtores do combustível, localizados no Rio e na Bahia", explicou.

Para o consultor, embora não seja a menos onerosa das matrizes energéticas em termos de investimento em infra-estrutura e manutenção - hidrelétricas, por exemplo, são mais baratas -, o gás oferece vantagens que não se limitam à redução de preços para o consumidor. "O governo da Venezuela acena com fornecimento de energia da usina de Gury para favorecer o desenvolvimento da BR-174. A dúvida é se vale a pena o Brasil se tornar dependente de outro país num quesito tão estratégico, principalmente levando em conta os conflitos políticos em potencial, que poderiam interromper o fornecimento de energia para a cidade", justificou.

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