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'Ninguém tem imunidade no PT'

JB, País, p. A6
29 de Nov de 2003

'Ninguém tem imunidade no PT'
Presidente da Câmara sugere que Polícia Federal investigue Flamarion Portela

Hugo Marques

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e o deputado Chico Alencar (PT-RJ) defenderam ontem a apuração da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o governador de Roraima, o petista Flamarion Portela (RR), suspeito de envolvimento com esquema de desvio de recursos dos cofres do Estado. Alencar chegou a pedir o afastamento do governador do partido durante o período de investigação.
- Não há ninguém imune no PT. Quem estiver envolvido em irregularidade tem de pagar - afirmou João Paulo.
Portela se filiou este ano ao PT em concorrida solenidade na Câmara, com a presença do chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, e do presidente do partido, José Genoino. Ontem, anunciou que, neste fim de semana, afastará três secretários, investigados por participação no esquema de desvio da folha de pagamentos - os da Fazenda, Joci Mendes, da Administração, Waldemar Paracat, e de Realizações Municipais, Vera Regina.
- Vou afastá-los para preservá-los. Não tenho nenhum bloqueio a fazer nas investigações - afirmou o governador.
Desafiou Carlos Levischi, ex-presidente do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), a apresentar provas das acusações. Reclamou que Levischi é seu maior desafeto político e não vai mostrar nenhum dos bilhetes que diz ter recebido para supostamente incluir pessoas no esquema.
- Tirei o Levischi do DER. Ele negava documentos ao Tribunal de Contas. Foi candidato a governador pelo PRTB e ofereci representação contra ele - alegou o governador.
Flamarion afirma não ter conhecimento do esquema quando vice-governador, na gestão Neudo Campos, preso na Polícia Federal. Alegou ter entregue as informações do Estado para o Ministério Público Federal e impedido que se pagasse a procuradores de funcionários laranjas.
- Abrimos o governo para o Ministério Público. Em setembro do ano passado suspendi os pagamentos por procuração. Recadastrei os servidores público - afirmou Flamarion.
Desde o início do ano, quando tomou medidas para sanear o Estado, afirmou o governador, foi alvo de várias ameaças de morte por telefone.
- Era gente avisando que ia me pegar . As ameaças se avolumaram.
Engenheiro eletricista, 49 anos, Flamarion diz possuir apenas uma conta bancária, no Banco do Brasil. Tem uma casa em um conjunto habitacional, dois carros, um terreno na localidade do Banho e três terrenos no conjunto habitacional River Park.
- Paguei os terrenos à prestação. Meu patrimônio é muito pouco. Não tenho conta bancária no exterior. Pode quebrar meu sigilo bancário e fiscal à vontade - assegurou.
Flamarion ocupou a vaga de governador em abril de 2002, quando Neudo Campos se desimpatibilizou. Candidato ao posto, foi eleito e, ontem, assegurou ter gasto R$ 1,1 milhão na campanha, a maior parte doação de empresários. O Tribunal Regional Eleitoral aprovou as contas de campanha, afirmou.
O governador elegeu-se pelo PSL. Convidado por outros partidos políticos, em abril filiou-se ao PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Flamarion diz ter ingressado no PT ''como soldado'' e ''não como estrela''.
- Fui para o PT por acreditar na história do partido. Não quero desonrar o PT.
Ignorando as opiniões de João Paulo e do deputado Chico Alencar, o governador assegurou estar recebendo solidariedade do novo partido. O governador do Acre, Jorge Viana (PT), que Flamarion considera um amigo, enviou emissários a Roraima para aconselhá-lo na crise, revelou o governador. O senador Tião Viana (PT-AC) colocou um experiente advogado à disposição .
- O PT está solidário conosco - disse Flamarion.

Dez hábeas foram negados

O desembargador Plauto Ribeiro negou dez liminares em habeas-corpus propostas pela defesa de acusados de participar do Esquema Gafanhoto. O ex-governador Neudo Campos (PP) está preso com outras 42 pessoas em Boa Vista. Entre os pedidos indeferidos, estava o de Ângelo Paiva de Moura, ex-diretor da Polícia Judiciária de Boa Vista, que se encontra foragido, com mais 12 acusados. Ontem, chegaram à Justiça outros 20 pedidos de hábeas, que também deverão ser negados.
Segundo o desembargador, as decisões contrárias ao relaxamento das prisões preventivas são necessárias para permitir a coleta de provas nesta fase de investigação, já que existem ''fortes indícios'' de que os acusados a têm dificultado. O advogado de Darbilene Rufino do Vale - uma das pessoas presas - alegou que sua cliente, além de primária, está amamentando um filho. Mas o desembargador afirmou que a condição de lactante ''não representa salvo-conduto''. Mandou apenas que ela tivesse tratamento adequado.

JB, 29/11/2003, País, p. A6

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