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Mais de 70% das cidades dão fim irregular a lixo

OESP, Vida, p. A26
21 de Ago de 2010

Mais de 70% das cidades dão fim irregular a lixo
Levantamento constata descaso com tratamento de resíduos sólidos; coleta seletiva só é adotada em 18% dos municípios

Gabriela Moreira/ Rio

Mais de 70% das cidades brasileiras despejam lixo em locais que não são adequados: vazadouros a céu aberto e aterros controlados. Somente 27,7% dão o destino correto aos resíduos sólidos, em aterros sanitários. A forma mais irregular de destinação, os lixões, foi a que menos cresceu nos últimos oito anos, mas ainda é a opção de cinco em cada dez prefeituras (50,8%).
Entre os municípios com serviço de coleta, o uso dos lixões foi maior nos Estados das Regiões Nordeste e Norte (89,3% e 85,5%). O Estado que mais usa este destino é o Piauí (97,8%), seguido por Maranhão (96,3%) e Alagoas (96,1%). Os Estados que apresentaram menor proporção de municípios que usam lixões são os das Regiões Sul e Sudeste (15,8% e 18,7%).
Embora a opção que mais tenha crescido entre os municípios tenha sido os aterros sanitários, o avanço ainda é muito pequeno. Há 21 anos, apenas 1,1% das cidades usava este tipo de local. Em 2000, aumentou para 17,3% e em 2008, para 27,7%.
"É um absurdo o País ter mais de 70% das cidades sem o condicionamento adequado", afirmou o diretor do Núcleo Interdisciplinar em Meio Ambiente (Nima) da PUC-Rio, o geógrafo Luiz Felipe Guanaes Rêgo. "Despejar lixo em vazadouros polui o lençol freático, entope e provoca o assoreamento dos rios. Para as cidades, entope o sistema de drenagem, além de outras consequências. Ou seja, além de ser um problema para o meio ambiente, afeta a saúde pública. O investimento em aterros sanitários deveria ser prioridade em termos de políticas públicas."
A pesquisa apontou, também, para a existência de catadores de lixo em 27% das cidades que faziam coleta em 2008.
Dos 5.564 de municípios brasileiros, apenas 994 faziam coleta seletiva de seu lixo em 2008 - 17,86% do total. O gerente da pesquisa, Antonio Tadeu de Oliveira, admitiu que o número, se comparado com outros países, é pequeno. "Mas podemos notar que, na pesquisa anterior, realizada em 2000, detectamos que apenas 451 municípios realizavam coleta seletiva", disse.
Economia."O poder público e a sociedade têm de se conscientizar que o produto reciclado é bom para a economia como um todo", emendou Rêgo. "As pessoas se sentem bem quando põem o lixo para fora de casa, mas não pensam no que esses resíduos mal aproveitados podem causar para o meio ambiente e os custos disso. Lixo é insumo, é energia."
Outra preocupação trazida pela pesquisa foi o que as cidades fazem com os resíduos hospitalares. Quatro em cada dez cidades brasileiras despejam esses resíduos em lixões. A Região Nordeste é a que menos faz o controle, destinando 70% do lixo hospitalar para vazadouros. A Região Sul é a que mais se preocupa, destinando 64% dos resíduos para aterros sob controle.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598178,0.php

Catadores recebem até R$ 900 em SC
2% dos catadores trabalham ilegalmente em lixões de SC

Júlio Castro

Em Santa Catarina, há 1 catador de lixo para cada 2 mil habitantes. Apoiados por mais de 30 associações ou cooperativas, eles recebem de R$ 400 a R$ 900 mensais para desenvolver a atividade. Como consequência dessa organização, o Estado tem o menor índice do País de catadores trabalhando ilegalmente em lixões ou aterros sanitários - apenas cerca de 2% deles.
Dados do Instituto Comunitário da Grande Florianópolis (Icom), entidade que apoia organizações sociais, mostram que são cerca de mil catadores oficialmente catalogados. Segundo o secretário estadual do Desenvolvimento Econômico Sustentável, Paulo César da Costa, o governo estadual destina recursos aos municípios para que eles elaborem planos de saneamento.
Neste ano, 179 municípios catarinenses com população de até 10 mil habitantes dividiram R$ 12 milhões para elaborar seus planos. Em 2011, outros 53 municípios de 10 mil a 20 mil habitantes também receberão recursos, chegando a 80% o total de cidades contempladas. "Felizmente, os municípios maiores já têm seus planos", disse o secretário.
"Apesar da importância do setor para a saúde e o ambiente, as administrações públicas municipais ainda tratam a questão de forma periférica", afirma Israel Fernandes Aquino, consultor do Icom, com especialização na área de políticas para a inclusão social de catadores. Segundo ele, a região do Vale do Rio Itajaí, especialmente a cidade de Blumenau, tem investido para combater a informalidade. As prefeituras assumiram a responsabilidade na gestão integrada do lixo gerado em seu território.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598177,0.php

O dinheiro que a gente arruma aqui dá para viver bem''

Clarissa Thomé

Os filhos de Ariana Nunes, de 24 anos, sofrem de problemas respiratórios por causa da fumaça liberada pela queima de material hospitalar e da poeira que sobe do aterro de Itaoca, em São Gonçalo, no Rio. A casa dela tem ratos e rachaduras provocadas pelo trânsito de caminhões pesados. Nem por isso Ariana quer a desativação do lixão.
Desde os 9 anos, é dali que ela tira o seu sustento. São Gonçalo está entre os 27% dos municípios brasileiros que têm catadores de lixo. E o Rio é o pior Estado do Sudeste em relação à destinação correta dos dejetos (33%). "O dinheiro que a gente arruma lá dá para viver bem. Tem gente que cata alimento, mas eu dificilmente pego." Ariana e o marido ganham até R$ 300 por semana.
A secretária de Estado do Ambiente, Marilene Ramos, reconhece que a situação é gravíssima. "Há riscos para saúde e o trabalho é degradante. Catador só é bonito em foto de Sebastião Salgado."

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598179,0.php

OESP, 21/08/2010, Vida, p. A26

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