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Índios yanomami vendem artesanato e pedem roupas nas ruas de Boa Vista

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br
28 de Jun de 2010

Índios Yanomami estão cada vez mais se adaptando aos costumes dos não-índios e tornando-se adeptos à vida capitalista. Quando saem da floresta e vêm à cidade, buscam insumos que não são característicos a sua cultura, deixando para trás os ensinamentos de um povo que aprendeu a viver apenas do que é fornecido pela natureza e andam pelas ruas de Boa Vista vendendo artesanato e pedindo roupas.

Na semana passada, a Folha flagrou três indígenas perambulando pelo bairro São Francisco vendendo cestas fabricadas na aldeia e pedindo roupas. O fato chega a ser um contrassenso a uma população conhecida pela forma livre de viver.

Um dos indígenas se apresentou como professor de língua materna, português e matemática na região de Auaris, na reserva. Ele é o único que fala português, embora com um pouco de dificuldade.

Os outros dois foram trazidos a Boa Vista pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para serem contratados para trabalhar como agente de saúde indígena nas malocas. Os três homens, todos adultos, disseram que estavam hospedados na Casa de Estudo, de responsabilidade da Funasa, instalada no mesmo bairro São Francisco.

Relataram que enquanto aguardam o retorno para a aldeia - feito em aviões contratados pela autarquia federal -, vendem o artesanato e pedem roupas para levar para os familiares.

Em uma das casas visitadas, viram uma bola de futebol e a pediram a um garoto, que era o dono. O objeto foi doado e, de tão felizes, começaram a jogar futebol ali mesmo, em cima da calçada. Os moradores da casa pediram autorização do grupo para fazer fotografias e destacaram a inocência dos índios, que podem ser facilmente enganados. Alertaram ainda para o perigo a que estão sujeitos os indígenas.

Até pouco tempo era mais comum a presença de indígenas de outras etnias não tão tradicionais pela cidade, como os Macuxi. Os Yanomami apareciam mais em Caracaraí, uma vez por ano, onde também pedem insumos pelas ruas, vendem objetos como vassouras e ingerem bebida alcoólica.

A questão é que ao saírem da reserva, ficam vulneráveis às mazelas da cidade e sujeitos a todas as formas de violência. E quando estão com dinheiro, são enganados por comerciantes mal-intencionados, já que na maioria das vezes não têm noção de valores.

Os indígenas que trabalham como agentes de saúde, por exemplo, têm carteira assinada e recebem um salário mínimo. Alguns investem o dinheiro em comida e roupas. Outros vêm à capital para receber seus salários e permanecem por aqui durante um mês, gastando o dinheiro em supérfluos, principalmente bebida alcoólica.

Também comprar aparelhos celulares, máquinas fotográficas e gravadores para utilizar em reuniões com instituições ligadas à tutela indígena e com organizações não-governamentais.

RESPONSABILIDADE - Segundo a Funasa, a Casa de Estudo é utilizada para capacitar os indígenas e abrigar aqueles que estão na cidade por qualquer motivo, desde que não seja doença, pois esses ficam na Casa de Saúde Indígena (Casai).

Lá, permanecem até que um voo seja disponibilizado para levá-los de volta à reserva. A instituição afirma que é responsável apenas pelos indígenas que vivem em aldeias e que embora seja responsável por eles quando são trazidos para Boa Vista, não tem como mantê-los trancados na Casa de Estudo.

A reportagem tentou falar com a Fundação Nacional do Índio (Funai), mas não conseguiu manter contato telefônico.

HUTUKARA - A Hutukara Associação Yanomami também foi procurada pela Folha, mas não se manifestou sobre o caso até o fechamento da matéria.

http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=89260

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