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"Império" ataca Lula via mídia, diz cubano

FSP, Brasil, p. A8
27 de Jan de 2006

"Império" ataca Lula via mídia, diz cubano
Segundo homem de Cuba diz que petista é vítima dos EUA, que controlam os meios de comunicação e não admitem "operário na Presidência"

Rafael Cariello

O presidente da Assembléia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcon, disse ontem durante um debate promovido pela Fundação Perseu Abramo no 6o Fórum Social Mundial, em Caracas, na Venezuela, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é vítima da imprensa e que os meios de comunicação são o mais poderoso instrumento do imperialismo norte-americano no mundo hoje.
Saudado com gritos de "Viva Fidel", o segundo homem de Cuba afirmou que os Estados Unidos não são mais todo-poderosos nem na economia nem na área militar -usou a crise de empresas automobilísticas norte-americanas e a ocupação do Iraque como argumentos-. No entanto, disse que, "no plano da propaganda e da ideologia, são".
"Eles [os EUA] dominam os meios de comunicação. Sabemos os cubanos, sabem disso os venezuelanos e sabem os brasileiros. O império não se conforma que um metalúrgico se torne presidente."
Na opinião dele, a imprensa combate os três presidentes (Fidel Castro, Hugo Chávez e Lula) com mentiras. "Temos sempre de enfrentar a distorção e a calúnia dos que controlam os meios de comunicação", afirmou.
Entidades de defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão criticam os limites impostos por Cuba à prática do jornalismo. Os Repórteres Sem Fronteiras, por exemplo, classificam o país como "a maior prisão do mundo para jornalistas".
Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, que também participava do debate sobre integração latino-americana -um dos assuntos mais discutidos neste ano no fórum, na esteira da onda de chefes de Estado esquerdistas na região-, também tratou da imprensa em seu discurso, enumerando entre os erros da esquerda a "pouca iniciativa no sentido de combater o monopólio dos meios de comunicação, que persistem em poucas mãos".
"Fuzil e voto"
Mais cedo em sua participação, Pomar afirmou que "existe lugar para a luta de massas, para o fuzil e para o voto" na luta da esquerda. "As três formas podem e devem ser utilizadas", disse o petista.
Questionado pela Folha, o dirigente petista disse que as três "formas de luta" são legítimas "dependendo das condições históricas", e que a ONU (Organização das Nações Unidas) reconhece a "rebelião dos povos" como legítima sob um regime ditatorial.
A questão militar fez parte também de outra manifestação, dessa vez do almirante venezuelano Luiz Cabrera Aguirre, também convidado para o ciclo de debates.
De acordo com ele, é necessário estimular em toda a América Latina "uma unidade cívico-militar", ou seja, "que o povo trabalhe unido com as forças armadas" e que receba treinamento, como, segundo ele, já acontece na Venezuela. "Nosso povo já não é um espectador da atividade militar, mas sim participante ativo."
O objetivo, segundo disse, é "defender-se de qualquer tipo de ataque de alguma potência estrangeira". Questionado se os Estados Unidos eram o inimigo ao qual ele se referia, afirmou que sim, "em particular".
"Se nos integrarmos, seremos invencíveis. E se qualquer potência, qualquer imperialismo que queira invadir e se meter com um só, que entenda que meter-se com um é meter-se com todos", concluiu Cabrera Aguirre.

Lula é risco para esquerda, dizem militantes
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Durante um debate ontem sobre integração latino-americana, no 6o Fórum Social Mundial em Caracas, na Venezuela, militantes da América Latina e dos Estados Unidos questionaram o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, participante da atividade, e acusaram o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de ameaçar a esquerda mundial pela "guinada à direita".
A interpelação mais agressiva contra o governo brasileiro partiu do norte-americano Richard Allen, 47, que se identificou como um "militante marxista". Ele questionou o governo brasileiro sobre sua participação na missão da ONU (Organizações das Nações Unidas) no Haiti, a política econômica do governo Lula, a reforma da Previdência e o assassinato da irmã Dorothy Stang no Pará, em fevereiro de 2005.
Mais tarde, em entrevista, disse que havia ido ao local apenas para falar com Dirceu porque "é importante que ele saiba que não está prejudicando apenas seu partido, mas a esquerda do mundo todo". "Já acreditei no Lula, e agora ele é como um novo [Tony] Blair [primeiro-ministro inglês]."
Corda bamba
Também o peruano Alfonso Sánchez, 41, trabalhador da construção civil e integrante do movimento Pátria para Todos, questionou Dirceu sobre os governos da América Latina "obedecerem às ordens de Washington".
O professor venezuelano Gilberto Geraldi manifestou apoio a Lula, dizendo desejar que o brasileiro vença as eleições. Disse depois, no entanto, que o presidente do Brasil "está na corda bamba", o que pode prejudicar a esquerda em todo o continente. "O povo é sábio. Se segue nessa linha, o povo pode castigá-lo, e ele pode cair. Se cair, caímos todos", afirmou.
O americano Allen acusou o Brasil de desrespeitar os direitos humanos no Haiti, "ajudando os EUA a fazerem seu trabalho sujo" por lá e criticou o pagamento antecipado da dívida com o Fundo Monetário Internacional.
Dirceu respondeu aos questionamentos defendendo o governo, argumentando que há limitações reais para mudanças e afirmando que não é possível "criticar sem analisar a realidade do país". O ex-ministro afirmou ver as críticas como "parte da democracia".
O assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, presente ao fórum, disse haver "um nível de desinformação muito grande" em relação ao governo Lula.

FSP, 27/01/2006, Brasil, p. A8

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