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Córrego na zona norte passa a ter água limpa, mas peixes não voltam

FSP, Cotidiano, p. B9
26 de Jul de 2015

Córrego na zona norte passa a ter água limpa, mas peixes não voltam
Obras da prefeitura e da Sabesp retiraram esgoto de afluente do rio Tietê, no Mandaqui, em SP
Mesmo após ação, moradores reclamam de lixo jogado pela população e lamentam a ausência de peixes

EDUARDO GERAQUE DE SÃO PAULO

O córrego do Mandaqui, na zona norte de São Paulo, está com águas limpas, mostram análises químicas divulgadas pela Sabesp.
O resultado é visível para quem olha suas águas agora límpidas, a alguns metros de desaguar no rio Tietê, passando embaixo das pistas barulhentas da marginal.
A retirada do esgoto do Mandaqui e de seus 33 afluentes, que cobrem uma área de 20 km², é uma ação conjunta da Sabesp e da Prefeitura de São Paulo, com participação da população. A medida faz parte do Programa Córrego Limpo, iniciado em 2007 e atualmente sob ameaça (leia texto nesta página).
As obras já consumiram R$ 18 milhões em uma área ocupada por 457 mil pessoas na capital paulista.
CÓRREGO MORTO
Apesar da limpeza, o morador da zona norte que eventualmente sonhar em pegar uma vara de pescar pode esquecer. Apesar de limpo, o curso-d'água está morto.
Com concreto nas paredes e no fundo, nenhuma forma de vida aquática poderá aflorar no local, mesmo que a qualidade da água seja boa.
Além disso, o vazamento ocasional de esgoto, o entulho, dejetos de gatos e cachorros arrastados das calçadas e o lixo jogado pela população no córrego continuam presentes na região. Esses fatores tornam impossível a utilização do rio para o lazer a curto prazo.
O volume de água que passa pelo córrego também diminuiu, já que muito do que corria pelo canal do Mandaqui era esgoto.
Só mesmo após as chuvas de verão é que ganham volume as águas do Mandaqui, que correm em parte no subterrâneo, espremidas pelo asfalto das pistas da avenida Engenheiro Caetano Álvares.
DE SOFÁS A CACHORRO
O cenário bucólico dos anos 60 não vai voltar mais, diz resignado o morador Fabio da Silva, que sempre viveu nas imediações do córrego Buraco da Onça, um dos afluentes do Mandaqui, que nasce perto do Horto Florestal, parque da zona norte.
"O pessoal da Sabesp, que vem sempre aqui medir a qualidade da água, disse que os peixes até voltariam. Mas, com todo esse concreto, isso nunca ocorreu", diz ele.
Segundo o eletricista, desde que o Programa Córrego Limpo começou, o cheiro de esgoto na rua onde ele mora diminuiu muito. Mas permanece a reclamação da falta de de cuidado com as margens do córrego, de responsabilidade da prefeitura.
"Eles estão vindo, mas só depois de eu ligar".
Mais grave ainda, porém, é o comportamento dos próprios cidadãos, afirma Silva.
"Esses dois sofás que estão aqui [aponta para o quintal do vizinho] eu retirei sozinho aqui do córrego nesta semana. As pessoas jogam muito lixo e entulho por aqui."
Um caso que o morador não esquece ocorreu há alguns meses, durante a noite.
"Cheguei em casa e vi um casal idoso com um rottweiler morto no braço. Eles iam jogar o corpo do cachorro dentro do rio".
O eletricista se prontificou até a enterrar o animal, mas o casal disse que faria isso longe dali, e saíram.
"Na manhã seguinte, encontrei o corpo do cachorro jogado ali na rua de cima".

Sem contrato, programa corre risco de acabar

EDUARDO GERAQUE DE SÃO PAULO

Apesar dos avanços na limpeza dos córregos, o contrato que garante o Programa Córrego Limpo já não existe desde novembro de 2012. A Prefeitura de São Paulo não renovou o contrato com a Sabesp para continuar a parceria.
De acordo com Marcel Sanches, gerente do Departamento de Planejamento da Sabesp, a falta de parceria com a gestão municipal coloca em risco os ganhos obtidos pelo programa.
"Sem o trabalho em conjunto, como era feito antes, os resultados ficam aquém do esperado. Existe uma frustração", afirma o dirigente. "Ocorre uma ausência de zeladoria", segundo Sanches, que é informada pela população que se engajou com a ação.
SOB ANÁLISE
Questionada, a administração do prefeito Fernando Haddad (PT) disse que a renovação do contrato está sob análise. E negou que haja falta de zeladoria nos córregos paulistanos.
A prefeitura não mostrou o cronograma de limpeza dos 148 córregos que fazem parte do Córrego Limpo. Segundo a Sabesp, empresa do governo do Estado de SP, todos esses locais continuam sem esgoto correndo porque existe um monitoramento deles.
A própria Sabesp admite, porém, que o ritmo de investimentos no programa diminuiu nos últimos anos. A estatal afirma que fez o trabalho de saneamento dos 148 córregos até 2014. A manutenção e a retirada de entulho são de responsabilidade da prefeitura.
A área saneada pelo programa soma 202 km² e atinge 2,3 milhões de pessoas, mas representa apenas 13% do total da área da cidade de São Paulo.
Ainda há muito esgoto ilegal, inclusive lançado pela própria rede da Sabesp, correndo no Tietê.

FSP, 26/07/2015, Cotidiano, p. B9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/227398-corrego-na-zona-norte…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/227399-sem-contrato-programa…

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