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Diversificar a matriz energética

CB, Opinião, p. 21
Autor: BERTELLI, Luiz Gonzaga
22 de Jul de 2006

Diversificar a matriz energética

Luiz Gonzaga Bertelli
Diretor da Divisão de Energia da Fiesp, presidente executivo do CIEE e da Academia Paulista de História

Consoante levantamentos da Fiesp, o consumo total de energia no país registrou crescimento de cerca de 40% nos últimos 15 anos. Modernamente, os países mais industrializados duplicaram o consumo de energia elétrica a cada 10 anos. O setor industrial aumentou mais de 3% ao ano, assegurando às indústrias a liderança no balanço energético nacional. Mais da metade da demanda global de energia no Brasil é proveniente de fontes renováveis e limpas, correspondendo: hidroeletricidade, 40%; lenha, 10%; e derivados da cana-de-açúcar, 11%. O restante é suprido por fonte fóssil e não renovável, como é o caso do petróleo (30%), do gás natural (6%) e da energia nuclear (3%).
Dessa forma, a matriz energética brasileira, para nosso orgulho, continua sendo uma das mais ecológicas do universo, com a emissão de aproximadamente 40% menos monóxido de carbono (CO²) do que a média mundial. Contudo, se o potencial brasileiro de biomassa energética, notadamente o bagaço da cana, fosse devidamente aproveitado, teríamos oferta adicional de 15 mil MW, com a adoção de tecnologias modernas e equipamentos produzidos entre nós. As indústrias produtoras de açúcar e álcool já poderiam estar vendendo, neste ano, pelo menos 2 mil MW da eletricidade do bagaço. Contudo, o total não excede 500 MW.

Ao avaliar a cana-de-açúcar como opção para o problema energético, que se agravará, é preciso, ainda, considerar o benefício ecológico decorrente da ampla fotossíntese, que ocorre nos canaviais, que absorvem continuamente o dióxido de carbono da atmosfera, contribuindo, assim, para que não se agrave o efeito estufa provocado pela queima de combustíveis fósseis.

O governo, até agora, concedeu prioridade à construção de plantas geradoras térmicas movidas a gás natural importado da Bolívia (25 milhões de m³), preterindo os projetos de co-geração com o uso do bagaço. A estatal boliviana deseja receber US$ 7,5 por milhão de BTU (hoje o preço médio é de US$ 5,5) para continuar exportando o seu gás para o nosso país. Vários investidores decidiram postergar as iniciativas em virtude das restrições encontradas no financiamento do BNDES, que exige garantias reais de 130%, o que inibe os interessados.

Várias hidroelétricas, igualmente, continuam no aguardo da concessão das licenças ambientais emitidas pelo Ibama e Ministério do Meio Ambiente. Das 27 concessões de novas usinas hidroelétricas (que demoram de cinco a 10 anos para ficar prontas), autorizadas entre 2000 e 2001, nenhuma saiu do papel.

O Brasil aproveita apenas 30% da sua capacidade hídrica. Ainda faltam 70%. O potencial da nação não tem sido aproveitado. No último leilão de energia, o preço médio do MWh para as usinas hidroelétricas ficou em R$ 127, enquanto para as térmicas situou-se em R$ 132. Energia é um insumo cada vez mais escasso e caro. Grandes obras, como a hidroelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, tiveram o seu projeto de viabilidade ambiental vetado pelo Poder Judiciário. A sua capacidade de produção é quase similar à de Itaipu e adicionaria 11 mil MW à matriz energética brasileira. Para crescer mais de 4% ao ano até 2015, o Brasil terá que aumentar a geração de eletricidade em mais de 42%, e a maior parte terá de vir de hidroelétricas.

A produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis é a principal fonte de diversos poluentes, entre os quais: dióxido de carbono, metano e monóxido de carbono. É fundamental, dessa forma, que a matriz energética brasileira limpa, ecológica e renovável seja preservada, o que somente poderá acontecer com a adoção de políticas públicas claras e a fundamental sinergia com outras fontes energéticas.

Para tanto, o Brasil possui a maior reserva de biomassa do universo; terras disponíveis; água abundante; sol; tecnologia e recursos humanos. O mundo quer mais energia para o seu desenvolvimento. O Brasil possui, inclusive, para vendê-la. Não é inexeqüível, pois as fontes de energia renováveis podem com o tempo substituir adequadamente a maioria dos combustíveis fósseis utilizados nos dias atuais. É só querer, com menos intervenção do Estado, tarifas remuneradoras, marcos regulatórios e menos burocracia governamental.

CB, 22/07/2006, Opinião, p. 21

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