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Cultura indígena representada

Diário do Nordeste - http://diariodonordeste.verdesmares.com.br
19 de Abr de 2016

Das ferramentas de resistência dos movimentos sociais, afirmar-se tem sido a mais necessária. Se outrora era o silêncio que resguardava os povos indígenas da perseguição, dos estereótipos e dos preconceitos diversos, hoje é pela afirmação de sua identidade que eles avançam rumo à conquista de seus direitos. E a cultura, nesse sentido, é uma das principais aliadas.

Neste dia 19 de abril, em que se lembra com ênfase desses que representam a história ancestral do País, o audiovisual aproveita para homenageá-los, com exibições de filmes voltados à temática, no Cine-teatro São Luiz.

Dentro da programação da Mostra "Olhar Nativo", que segue até o próximo sábado, documentários, curtas e longas de ficção abordarão a temática, com foco na trajetória de luta desses povos. A comunidade cearense ganha destaque hoje, com a exibição dos documentários "Espelho Nativo" (2009), de Philipi Bandeira e Henrique Dídimo, às 16h, protagonizado pelos tremembés de Almofala; e "Suaçuamussará" (2015), de Henrique Dídimo, às 19h, inédito em Fortaleza.

Primeiro longa de "etnoficção" a reunir os 14 povos indígenas locais, o documentário de 86 minutos é fruto de pesquisa feita entre 2013 e 2015, em 20 municípios cearenses, com apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc). O projeto, organizado por Paulo Leitão, coordenador estadual da Ação Comunitária do Sesc, também contempla um livro de 250 páginas, intitulado "Herança Nativa", que, junto ao filme, forma um material inédito de pesquisa sobre os povos indígenas cearenses.

O filme já foi exibido no Estado em duas ocasiões, em agosto e em dezembro do ano passado, mas essa é a estreia na Capital, o que o realizador considera de extrema importância. "Fortaleza é uma cidade que está virada para o mar e de costas para o sertão. Esquece de suas origens indígenas, caboclas. O fortalezense não precisa se envergonhar, e sim se orgulhar de nossa cultura: da rede, da tapioca, das palavras, do jeito moleque, do grito indígena. A gente vive o tempo todo com essas referências e não percebe que nós mesmos somos índios", avalia Henrique Dídimo.

Narrativa

O filme "Suaçuamussará", cujo título de origem tremembé afirma que "o tempo antigo, grande, acabou, mas tudo permanecerá" conta a história de duas lideranças desse povo, o Cacique João Venança e o Pajé Luís Caboco, que partem em busca de seus "parentes", os povos indígenas do Ceará. Eles refazem uma trajetória percorrida anos atrás, quando os próprios líderes visitaram os mesmos "endereços" com o objetivo de refazer os laços desatados pela perseguição.

A narrativa foi toda baseada nessas viagens e nos contatos que o Cacique e o Pajé, ambos mestres da cultura do Estado, tinham. "Eles, de certa forma, foram coautores do roteiro e tiveram participação importante nele. Em cada localidade a gente se reunia com os povos, conversávamos com eles, perguntávamos como eles queriam aparecer, que imagem eles queriam projetar. Eu queria que eles participassem, em um método bem colaborativo", destaca o diretor.

As entrevistas, feitas de maneira mais subjetiva, tendo as duas lideranças tremembés mediando cada diálogo, aconteceram principalmente nas escolas indígenas.

Mas o documentário também traz algumas atividades tradicionais desses povos, como o Ritual da Jurema e a festa do Marco Vivo dos povos Jenipapos-Kanindé.

"Viajamos para o interior de nós mesmos. É uma experiência fantástica, em que aprendemos sobre as nossas origens; um mergulho inclusive de espiritualidade, quando participamos dos rituais", observa Dídimo, que, durante os três anos de produção, trabalhou com uma equipe de oito pessoas.

Continuidade

Mais do que se ver na tela, os índios cearenses também querem fazer seus próprios materiais audiovisuais. E é isso que Dídimo já está planejando para o próximo semestre, em uma nova parceria de produção e formação com os tremembés.

"Foram eles mesmos que me convidaram. E agora, além de participarem da construção do roteiro, eles também poderão cuidar da parte técnica", adianta o realizador.

No que depender da vontade dos cerca de 22 mil tapebas, tremembés, pitaguarys, jenipapos-kanindé, kanindés, potiguaras, tabajaras, kalabaças, kariris, anacês, gaviões, tubibas tapuia e tapubas kariris, todos representantes da linhagem indígena cearense, afirmar-se será, a cada dia, uma nova vitória. E o silêncio, este não permanecerá.

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