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Xingu x Usina - Governo pede 15 dias para analisar

Diário de Cuiabá
13 de Jun de 2006

Xingu x Usina - Governo pede 15 dias para analisar

O Ministério do Meio Ambiente solicitou um prazo de 15 dias, a partir da sexta-feira passada, para dar uma resposta às lideranças indígenas do Xingu que foram a Brasília pedir a derrubada da usina hidrelétrica Paranatinga II, em Campinápolis. Conforme a procuradora federal Ana Maria Carvalho, que acompanha os índios desde a invasão da área da usina há mais de dez dias, as autoridades do Ministério precisam se inteirar do assunto antes de tomar decisões sobre o licenciamento da obra, feito pelo governo estadual.

"Estivemos com o chefe geral do DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte) e dois secretários nacionais do Ministério, que pediram aos índios um voto de confiança para analisarem a situação. Mas os índios não querem a usina, são muito taxativos sobre isso. O rio Culuene, além de abastecer o Xingu, passa ainda em seis aldeias xavantes, junta-se ao Sete de Setembro e forma o rio Xingu", alegou a procuradora, informando que 10 índios permaneceram em Brasília para aguardar a posição das autoridades.

Conforme Ana Maria, a preocupação maior dos indígenas é quanto à escassez de pescado que para eles pode deixar de existir se a usina entrar em funcionamento. "Eles vivem de peixe e mandioca, porque fazem o biju para comer com o peixe. Se houver escassez do pescado, como vão sobreviver? Sentem-se ameaçados, sem contar a questão do sagrado", lembrou. A área sob a construção da hidrelétrica é considerada sagrada para os índios por acreditarem que aconteceu ali a primeira cerimônia do Kuarup, em que homenageiam os ancestrais.

De acordo com a procuradora federal, o estudo etnológico realizado pela empresa concessionária da usina, a Paranatinga Engenharia, está sendo analisado pela Funai e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Conforme o resultado, há possibilidade da área ser tombada como patrimônio indígena.

Além dos órgãos federais já mencionados, os cerca de 120 índios também compareceram ao Tribunal Regional Federal, para conversar com desembargadores federais que devem decidir o recurso apresentado pela empresa contra a decisão da Justiça Federal no Estado - de derrubar a obra -; ao Ministério Público Federal e ao Congresso Nacional. Em todos os locais, os xinguanos disseram ter percebido boa vontade com a causa, apesar de nenhum resultado concreto.

"Na Funai, disseram que a equipe de lá está junto e apóia a causa. Com os desembargadores, também fomos bem recebidos, saímos de lá contemplados. No Congresso, os deputados falaram que estariam ajudando na medida do possível, mas que teriam que avaliar de forma democrática. No Ministério Público, a mesma coisa: que estudariam da melhor maneira possível. Agora, temos que aguardar os resultados", contou o líder indígena Marcelo Kanawayuri que permanece em Brasília.

Natacha Wogel

Diário de Cuiabá, 13/06/2006

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