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Vou processar diversas autoridades

OESP, Nacional, p. A11
Autor: WERLE, Hugo Scheuer
17 de Mai de 2007

Vou processar diversas autoridades
Hugo Scheuer Werle: ex-gerente do Ibama em Mato Grosso
Professor de universidade federal foi preso em 2005 e, após afastar acusações de corrupção, aponta erros da PF e de procurador

Nelson Francisco, Cuiabá

Preso por 27 dias em 2005, acusado de corrupção, e depois libertado, Hugo Scheuer Werle, ex-gerente do Ibama em Mato Grosso, rebate todas as acusações e promete processar o procurador Elyelson Ayres de Souza, interventor do órgão no Estado em 2005, e o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura, por ter violado o sigilo de sua declaração de Imposto de Renda. "Vou processar diversas autoridades, visto que minha honra e meu nome foram fortemente maculados", avisa.

Em 2005, Werle foi preso na Operação Curupira, da PF, contra quadrilhas de extração e venda ilegais de madeira. Foi acusado pelo Ministério Público de chefiar esquema de arrecadação com madeireiras para o PT nas eleições de 2004, e de participar da falsificação de autorizações de transporte de produtos florestais. Ele se diz indignado com os erros que a PF e a Justiça teriam cometido.

Werle também questiona a política ambiental do governo. Doutor em Geografia Física e professor há 13 anos da Universidade Federal de Mato Grosso, afirma que a corrupção no Ibama é reflexo da sociedade e critica as últimas medidas da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "A decisão de dividir o Ibama é um erro, um retrocesso."

O senhor foi preso em junho de 2005, na Operação Curupira...

Não se comprovou nada, absolutamente nada. Não há o que comprovar, pois não cometi crime ou ilícito. Pelo contrário, já ficou provado que a quase totalidade dos crimes a mim imputados não existiu. Vou processar diversas autoridades, visto que minha honra e meu nome foram fortemente maculados. Uma é o procurador Elyelson. Outro será o delegado Tardelli Boaventura, por ter mostrado na TV minha declaração do IR. Diga-se de passagem, não havia nada errado com a declaração, como foi provado depois.

O PT indicou o sr. para a gerência do Ibama. Após sua prisão qual é o seu relacionamento com o partido?

Continuo filiado, quando possível participo das atividades e campanhas. Não me resta muito tempo para outra coisa, na medida em que voltei a ser professor de planejamento ambiental e geomorfologia no Departamento de Geografia da UFMT.

Existe corrupção no Ibama?

Essa questão da corrupção é endêmica no Brasil, tanto no serviço público quanto nas empresas privadas, provavelmente fruto da estrutura de poder que temos, onde a influência política e pessoal está acima das leis. Por que o Ibama estaria então fora disso? As inúmeras operações policiais têm demonstrado que diversos órgãos, tanto a nível federal quanto estadual, têm problemas com corrupção.

Que nota o sr. dá para a política ambiental da ministra Marina Silva?

Como professor acredito que não é uma situação de dar nota. Deve-se, sim, avaliar os resultados das ações implementadas, e esses são pouco expressivos. Vide a questão da divisão do Ibama: é um erro, e, como tal, é decorrente dos problemas relacionados com os licenciamentos ambientais que estão emperrados, fruto de gestão desinteressada na solução de gargalos.

Então o sr. discorda da divisão?

Não é nada positiva para a questão ambiental brasileira. De certa forma é um retrocesso, visto que houve esforço enorme para unificação das instituições federais da área ambiental, há pouco mais de uma década, e hoje se caminha no sentido inverso. Há dois aspectos relevantes: o primeiro é que se deixa de fortalecer o órgão já existente, o Ibama, e se cria outra estrutura, que necessitará principalmente de tempo para formar uma equipe competente. O segundo é que os processos de análise serão feitos em uma secretaria do Ministério do Meio Ambiente. Ora, o ministério tem como papel a formulação de políticas ambientais e não a gestão e execução, pois essa cabe ao Ibama.

Que ações do Ibama o senhor destacaria como positivas?

São poucas, muito poucas, visto que a incompetência decorrente da gestão do ex-presidente Marcus de Barros grassa generalizadamente. Destaco só a ação dos gerentes estaduais como aspecto positivo. Gerenciei o Ibama por dois anos e dois meses e desenvolvi ações na defesa do meio ambiente e no combate aos crimes ambientais. A maior parte dos gerentes estaduais, como eu, era muito interessada e combativa, e, não fossem as iniciativas desses meus ex-colegas, a incompetência e o desinteresse de gestão do ex-presidente teria reflexos negativos muito mais expressivos ao nível dos Estados.

OESP, 17/05/2007, Nacional, p. A11

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