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Vazio de Estado (1)

JB, Opiniao, p.A10
21 de Abr de 2004

Vazio de Estado (1)

Os corpos de 29 garimpeiros mortos em Roosevelt, território indígena encravado no município de Espigão do Oeste, em Rondônia, são evidência incontrastável de que a tragédia lá ocorrida não se resume a uma simples corrida por diamantes. Ver as coisas assim é simplificar demais um problema que tem dimensões amazônicas.
O que acontece na selva não é só uma briga feroz entre índios cintas-largas - que matam em nome de sua terra invadida - e garimpeiros, que vivem emparedados entre a necessidade de trabalhar e as limitações legais do uso da terra. Situação bem semelhante à dos camisas vermelhas do MST, que sob o olhar e o discurso complacentes do governo invadem até propriedades alheias acobertados por alegação de miséria. O mesmo governo dá aos garimpeiros tratamento de foras-da-lei. São vistos como bandidos e invasores à margem da proteção da lei.
Essa, pelo menos, tem sido a lógica do presidente da Funai, Mércio Pereira, quando entende - e declara - que as mortes dos garimpeiros são parte do risco da invasão de terras indígenas. A seu ver, os cintas-largas mataram quando viram sua propriedade ocupada. É uma lógica perigosíssima. Se fosse invocada por proprietários rurais sob o mesmo argumento da proteção da terra, poderia levar ao massacre de invasores do MST.
O governo deve tomar cuidado com o que dizem seus representantes e o que acontece na selva e nos acampamentos do MST. Em entrevista publicada hoje no JB, o ministro do STF, Maurício Corrêa, adverte que a leniência oficial com invasões de terra e crimes sem a justa penalização põem em risco a própria democracia. Na selva, o vazio de Estado tem conseqüências dramáticas. Vão da ação internacionalizante das ONGs sem controle até o massacre de garimpeiros. Ou de índios.
JB, 21/04/2004, p.A10

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