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Vagas na UEA para cotistas indígenas não são preenchidas

D24AM - http://new.d24am.com
22 de Mai de 2016

Quase metade das vagas dos cursos de graduação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) destinadas à cota de indígenas não foram preenchidas, em nove anos. O déficit é maior no interior do Estado, onde 550 vagas não foram preenchidas. Os dados da UEA são do período entre 2005 e 2014 e estão disponíveis no portal do Sistema de Informações Governamentais do Amazonas (E-siga). O indígena que consegue cursar a graduação elenca inúmeras dificuldades para conseguir estudar, como a logística do Estado, a falta de empatia com os cursos oferecidos, principalmente, no interior, e dificuldades para se manter em Manaus, onde há maior variedade de oferta de cursos.

Conforme o levantamento da UEA, durante os nove anos, foram 758 vagas para indígenas ofertadas na capital. Dessas, 514 foram preenchidas. No interior do Estado, das 1.035 vagas para indígenas oferecidas, apenas 485 foram preenchidas. O destino das vagas para indígenas tem como base a lei estadual 2.894/2004 que dispõe sobre o oferecimento de vagas de cursos de graduação para indígenas. Segundo o pró-reitor de graduação da UEA, Luciano Balbino, as vagas para índios representam 5% do total, sendo 3% destinadas ao vestibular e 2% ao Sistema de Ingresso Seriado (SIS), em que o estudante faz a prova ao fim de cada ano letivo do Ensino Médio.

Déficit

De acordo com Gersen Baniwa, coordenador do Fórum de Educação Indígena do Amazonas (Foreia), o déficit no número de vagas ocorre devido a diferentes fatores enfrentados pelos indígenas, como dificuldades financeiras e logística entre as comunidades e as sedes dos municípios. Segundo Baniwa, há comunidades em que é preciso dias de viagem de barco para chegar até a sede da cidade, como ocorre com o povoado de Iauaretê em que o indígena precisa percorrer de três a quatro dias de barco para conseguir chegar a São Gabriel da Cachoeira (distante 852 km de Manaus).

Baniwa explica que como a sede da universidade é nos municípios, o indígena precisa morar na cidade para cursar a graduação e muitos não têm condições financeiras de se manter no município. "O jovem não tem como se sustentar. Mesmo com a cota, é inviável a permanência dele na cidade", afirmou o coordenador do Foreia, acrescentando que muitos dos cursos ofertados no interior acabam não interessando a muitos jovens indígenas. "Há muita vaga para ser professor e há também aqueles que acabam escolhendo ser professor por saber que já têm vaga garantida na escola indígena", disse.

Migração

De acordo com Gersen, os jovens que não se agradam dos cursos disponíveis no interior se mudam para Manaus e tentam driblar as dificuldades para conseguir cursar a graduação e se sustentar financeiramente. É o que ocorre com a estudante de Administração Michele Machado, 24, da etnia Tukano de Pari-cachoeira, distante três dias de viagem de barco de São Gabriel da Cachoeira, onde vivem cerca de 3 mil índios Tukanos, segundo Michele que vive, em Manaus, há sete anos. Pagando aluguel, os custos da jovem indígena também envolvem gastos com alimentação e transporte que são pagos com ajuda de amigos e remuneração do estágio e da família.

Michele disse que saiu da aldeia com o irmão por se preocupar em cursar o Ensino Médio em Manaus, visando ingressar em cursos de graduação disponíveis na capital. "Os que tinham na minha cidade não me atendiam. Precisamos muito de cursos na área de saúde, mas há mais vagas para professor", afirmou a jovem Tukano, acrescentando que, quando formada em Administração, pretende criar projetos que incentivem o estímulo ao ingresso em graduação dos integrantes da aldeia. Para a estudante, a cota indígena foi fundamental para o ingresso dela ao estudo de nível Superior.

A realidade de Michele é parecida com a do administrador e estudante de Direito Fábio Cardoso, da etnia Munduruku, em Borba (a 151 quilômetros de Manaus). Ele disse que chegou a Manaus, em 2001, por causa das oportunidades para o ingresso no Ensino Superior. Formado em Administração, pela UEA, Fábio afirmou que identificou a necessidade de ter indígenas que advoguem pela causa indígena e, por isso, cursa Direito, também, na UEA. "Quero dar minha contribuição, porque sei que quem vive a realidade indígena consegue visualizar um contexto diferente", afirmou Cardoso.

Cota

Segundo o jovem da etnia Munduruku, a cota indígena é fundamental para as comunidades. "Muitas vezes, a gente não teve a mesma formação escolar de quem não é indígena e a cota tenta equilibrar e nivelar, dando chance de acesso", afirmou Fábio, acrescentando que foi o primeiro da aldeia, em que morava, a ingressar em uma faculdade. Apesar de ser espelho para muitos jovens, o administrador lamentou que ele seja exceção à regra.

De acordo a pró-reitoria de graduação da UEA, o candidato aprovado em vestibular ou SIS, na cota indígena, deve apresentar registro administrativo da Fundação Nacional do Índio (Funai).

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