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As unidades de conservação no século 21

Rede Pró-UC - www.redeprouc.org.br
Autor: Ibsen de Gusmão Câmara
24 de Jun de 2009

É fato sobejamente conhecido pela Ciência da Conservação que as áreas destinadas à preservação da biota necessitam ser muito amplas para que as populações das espécies nelas abrigadas não entrem, no decorrer do tempo, em irreversível processo de degradação biológica, como consequência natural da consanguinidade, da deriva genética e de esgarçadura das dependências mútuas inerentes aos ecossistemas.

O Século 21 se caracteriza por ser o último em que vastas áreas naturais do planeta pouco afetadas pelas atividades humanas, tanto em terra quanto nos ambientes marinhos, podem ainda ser destinadas precipuamente a preservar a riqueza biológica da Terra, hoje em acelerado processo de empobrecimento geral. Algumas décadas mais, e a oportunidade para isto realizar estará irremediavelmente perdida.

O Brasil, com enormes regiões quase inalteradas na Amazônia e, em escala algo menor, também nos demais biomas terrestres e marinhos, encontra-se numa situação excepcionalmente favorável para fazê-lo, desde que a proteção se realize com a necessária rapidez, antes de o inexorável avanço da ocupação territorial impedi-lo para sempre.

É justo reconhecer-se que nos últimos anos, e especialmente na Amazônia, o governo federal e alguns estaduais têm tido a necessária visão para cumprir esse dever para com a humanidade e as gerações que nos sucederão. Enormes unidades de conservação vêm sendo criadas, algumas verdadeiramente colossais, ainda que nem sempre hajam sido obedecidos os melhores critérios ecológicos para a seleção das áreas legalmente estabelecidas, e que grande parte delas se refiram a unidades da categoria Uso Sustentável, cuja validade para fins de preservação em longo prazo evidencia-se, por múltiplas razões, altamente discutível.

Seja como for, tais iniciativas conservacionistas são sempre altamente meritórias e sua contribuição incalculável para a preservação da vida certamente receberá no futuro os merecidos encômios, tal como hoje reconhecemos em relação a providências esclarecidas havidas no passado, das quais o magnífico Parque Nacional do Iguaçu, ilhado em um imenso mar de soja, é um exemplo edificante.

Contudo, por elogiável que sejam as diversas iniciativas recentes voltadas para a criação de grandes unidades de conservação, isto não é suficiente. Urge implementá-las sem tardança, com a indispensável regularização fundiária e provendo-as de adequada infraestrutura, continuada manutenção, incremento das pesquisas científicas e indispensável fiscalização, carências crônicas que caracterizam o nosso sistema nacional de áreas naturais preservadas. As razões para tais falhas inaceitáveis e impactantes resumem-se basicamente a três: falta de prioridade nos planejamentos e orçamentos governamentais, privação de recursos materiais e humanos, e baixa pressão popular em prol das unidades de conservação, cuja real importância é geralmente desconhecida pela população brasileira.

Não obstante o complexo de causas motivadoras desta situação insatisfatória, que aqui não cabe analisar, voltemos ao ponto inicial destas considerações, a urgência da criação de novas grandes áreas protegidas em face das perspectivas evidentes no mundo atual, no qual o aumento das populações humanas, a crescente demanda por mais alimentos, o saque incessante dos recursos naturais e a rápida ocupação pelos espaços ainda disponíveis se aceleram continuamente.

Proteger parcelas expressivas da diversidade biológica da Terra, o único astro onde se sabe haver vida, é crucial para que o processo evolutivo do qual resultou a magnífica biodiversidade atual não sofra uma desaceleração catastrófica. É um dever da única espécie que o compreende contribuir para que tal tragédia biológica não se concretize, obrigação claramente exposta na Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, um ato internacional oportunamente ratificado pelo Brasil.

E, quanto a este aspecto, o nosso País, com toda a sua riqueza natural incomparável, tem um papel ímpar a cumprir. Esperemos que este ano de 2009 presencie uma sensível melhoria no panorama conservacionista nacional, com mais ampla conscientização da população e de seus dirigentes quanto aos compromissos que voluntariamente aceitamos e à nobre missão que nos cabe cumprir.

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