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Trump estaria prestes a romper Acordo de Paris

O Globo, Sociedade, p. 27
01 de Jun de 2017

Trump estaria prestes a romper Acordo de Paris
Presidente mantém suspense, mas membros da administração garantem saída dos EUA de compromisso climático

-WASHINGTON- O presidente dos EUA, Donald Trump, mantém o suspense sobre se vai ou não retirar os EUA do Acordo de Paris. Segundo o jornal "Washington Post" a equipe está dividida há meses. Ivanka Trump e o secretário de Estado, Rex Tillerson, pediram ao presidente que permaneça no acordo, enquanto o estrategista da Casa Branca, Stephen K. Bannon, e o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, estão pressionando pela retirada.
Fontes ouvidas pelos principais jornais americanos e agências de notícias como a Associated Press garantem a saída dos EUA do acordo. No fim de semana, depois da reunião da cúpula do G7, Trump anunciou pelo Twitter que daria uma resposta final esta semana. E ontem, repetiu a mensagem e a rede social: afirmou que irá anunciar "sua decisão sobre o Acordo de Paris nos próximos dias". Caso a saída se confirme, os EUA se juntarão a Síria e Nicarágua como os únicos países a não aderirem ao acordo climático, mas existe o temor de que a retirada do segundo maior poluidor do planeta - atrás apenas da China - influencie outros países.
- As ações dos EUA podem ter um efeito sobre outras economias emergentes que estão apenas começando a se preocupar com mudanças climáticas, como Índia, Filipinas, Malásia e Indonésia - disse Michael Oppenheimer, pesquisador da Universidade de Princeton e membro do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), em entrevista ao "New York Times". ESTRATÉGIAS DE RETIRADA Detalhes sobre como a saída será executada estariam sendo discutidos por um pequeno time, que inclui o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt. Segundo as fontes, falta ser decidido se a retirada será formal, num processo que poderia levar três anos, ou se os EUA deixarão um tratado subjacente sobre mudanças climáticas, que seria mais rápido, mas extremo.
O Acordo de Paris reúne 195 países com o objetivo de frear o aquecimento do planeta, limitando as emissões de gases do efeito estufa. Segundo o pacto, os EUA se comprometeram a reduzir até 2025 suas emissões entre 26% e 28% em relação aos níveis de 2005. Para especialistas, a provável decisão de Trump de retirar os EUA do acordo pode prejudicar a credibilidade americana no cenário internacional e enfraquecer a administração Trump em outras negociações além das mudanças climáticas, como questões comerciais e o combate ao terrorismo.
- Da perspectiva de política internacional, é um erro colossal - disse Nicholas Burns, diplomata aposentado que serviu à administração do ex-presidente George W. Bush. - O sucesso da política externa americana depende da nossa credibilidade. Eu não consigo pensar em nada mais destrutivo para a nossa credibilidade que isso.
O diretor de Políticas e Campanhas da ONG ActionAid nos EUA, Brandon Wu, afirma que milhões de pessoas em todo o mundo já são forçadas a viver com uma crise climática que não provocaram e ao dar esse passo, o governo Trump continua a tapar os ouvidos e a dar as costas para o resto do mundo.
- Nos termos do Acordo de Paris, a retirada dos EUA provavelmente não entrará em vigor até dia 4 de novembro de 2020, ironicamente logo após a próxima eleição presidencial. Isso significa que os amigos empresários de Trump permanecerão na mesa nas negociações climáticas, fazendo tudo o que puderem para obstruir os processos - analisa.
Até Trump assumir o governo, os EUA exerceram papel de liderança na construção do Acordo de Paris, com o ex-presidente Barack Obama negociando diretamente com os chineses a participação das duas nações mais poderosas e poluidoras do planeta. O pacto, firmado em dezembro de 2015 em Paris, é considerado um marco no combate ao caos climático e tem como objetivo limitar o aquecimento global em 2 graus Celsius em relação às temperaturas pré-industriais.
Pelo acordo, cada país signatário apresentou seus compromissos de redução de gases estufa. China, Canadá e União Europeia já afirmaram que manterão seus compromissos assumidos, independente da posição americana.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez um forte comentário sobre a possível saída dos EUA do acordo:
"A mudança climática é inegável, não pode ser detida. Soluções climáticas fornecem oportunidades incomparáveis", afirmou em mensagem publicada no Twitter da ONU.
Em entrevista à Reuters, o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, afirmou que caso a saída dos EUA seja confirmada, a Europa está pronta para assumir o protagonismo no combate às mudanças climáticas.
- Existe uma forte expectativa dos nossos parceiros em todo o mundo, da África, da Ásia e da China, que a Europa assuma a liderança nesses esforços e nós estamos prontos - disse Sefcovic.
Durante a campanha presidencial, Trump prometeu "cancelar" o Acordo de Paris nos primeiros cem dias de governo, como parte de um esforço para impulsionar a indústria de óleo e carvão. O presidente americano afirmou que as mudanças climáticas são uma "farsa" inventada pelos chineses para enfraquecer os EUA. Após assumir o cargo, no entanto, Trump passou a ser pressionado pela comunidade internacional, políticos americanos, empresários e até mesmo representantes da indústria de combustíveis fósseis, que temem perder o protagonismo americano nos rumos de políticas ambientais que afetam diretamente seus negócios.

O Globo, 01/06/2017, Sociedade, p. 27

https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/trump-deve-retirar-…

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