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Trazer luz de longe é arriscado, diz engenheiro

FSP, Cotidiano, p. C3
18 de Fev de 2011

Trazer luz de longe é arriscado, diz engenheiro
Para José Marangon, levar energia do Norte ao Sudeste não é a melhor opção
Já o engenheiro Carlos Kirchner vê vantagens em dar prioridade a hidrelétricas e ter alternativa a Itaipu

De Brasília

O início da operação das linhas de transmissão que vão escoar a energia elétrica produzida no rio Madeira (na região Norte) para o Sudeste, que deveria tornar mais confiável o sistema no país, pode ter o efeito contrário.
A avaliação é feita pelo engenheiro José Marangon, ex-assessor de diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), e um dos principais especialistas no setor elétrico no país.
De acordo com Marangon, o Brasil fez uma opção arriscada ao escolher pela construção de usinas hidrelétricas na região amazônica, longe dos principais centros consumidores do Sudeste.
O engenheiro explica que a construção de pequenas usinas próximas aos parques industriais, ou mesmo o uso de outras fontes de energia, seriam opções mais seguras.
O motivo é que a construção de usinas na região amazônica exige a instalação de linhas de transmissão em áreas de floresta, sujeitas a intempéries climáticas e de difícil acesso. "Existirá um aumento da exposição ao risco", afirma o engenheiro.
Para o governo, a vantagem da expansão da oferta da energia hidroelétrica é a grande disponibilidade de geração a um custo baixo, se comparado a outras fontes.
Porém, afirma Marangon, como o sistema brasileiro é interligado, um problema nas linhas de transmissão do rio Madeira tem potencial para afetar o resto do sistema na maior parte do país.
"A possibilidade de blecautes tende a aumentar. Se dependemos de sistemas de transmissão cada vez maiores, esse aparato tende a apresentar mais problemas", afirma o engenheiro.
De acordo com Marangon, como essas linhas de transmissão precisam ser mais robustas, por passarem por regiões inóspitas e isoladas, os investimentos também precisam ser maiores do que se estivessem em outros locais.
"Nos EUA e na Europa, existe uma tendência contrária, de aproximar a geração dos centros consumidores, de buscar solução local. Mas, no Brasil, a opção foi outra", afirma Marangon.

VIABILIDADE
A alternativa encontrada pelo governo federal, no entanto, também tem defensores. Um deles é o engenheiro Carlos Kirchner.
Para ele, o país não poderia descartar possibilidades mais baratas e limpas do que fontes como termelétricas.
"Em termos de custo, a energia da região amazônica é viável. E, se Itaipu pifa, teremos outras usinas para jogar a energia no Sudeste".

Saiba mais

Empresas de SP serão "convidadas" a usar geradores

De São Paulo

A pouca "flexibilidade" do sistema de geração e transmissão de energia elétrica e o risco iminente de apagões fizeram com que o governo do Estado de São Paulo recorresse ao auxílio do setor privado.
Como a Folha revelou no último domingo, o Estado vai propor aos maiores consumidores, como empreendimentos comerciais e residenciais, que passem a utilizar seus geradores durante os horários de pico.
O objetivo é que fiquem fora do sistema nesses horários para diminuir a demanda e os riscos de apagões.
O risco de colapso no abastecimento de energia elétrica em São Paulo também é conhecido há pelo menos três anos.
Em 2008, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) -órgão responsável por gerenciar da geração à distribuição no país- apontou que era necessária a construção de 14 obras emergenciais na área de transmissão no Estado.
Na próxima semana, a proposta do secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, será apresentada a empresários de diversos setores em um simpósio.
A proposta é vista pelo governo do Estado como uma saída para evitar um colapso do sistema. No entanto, não se tornará uma medida obrigatória.

FSP, 18/02/2011, Cotidiano, p. C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1802201102.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1802201103.htm

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