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Terras indígenas

O Globo, Cartas dos Leitores, p. 6
Autor: VASCONCELLOS, Renato;ABREU, Roberto;LINS, Roberto Hugo da Costa;TROVIZO, Ricardo;LIMA, Wendel Cordeiro de
09 de Jan de 2004

Terras indígenas

Do atual qüiproquó indígena que se instalou em Roraima, deve-se anotar com o devido cuidado as palavras de Jonas de Sousa Marcolino, chefe dos índios macuxi, revoltados com a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, que, em tese, foi pensada para lhes servir. Diz ele em entrevista ao GLOBO: "Estamos integrados, usamos energia elétrica, automóveis, ônibus e temos aldeias produtivas. Queremos ter acesso a esses instrumentos, queremos progredir. 0 problema é que acham que a gente tem que viver na idade da pedra lascada. Acham que a gente tem que sobreviver de caça e pesca." É fato. Os índios brasileiros recebem do Estado o mesmo tratamento de animais da nossa fauna e vivem em zoológicos a céu aberto, presumindo a sociedade que assim eles devem permanecer, estagnados, pois só assim serão felizes. Na história da evolução humana, esse é um parâmetro que jamais foi verdadeiro.

Renato Vasconcellos (por e-mail, 8/1), Niterói, RJ

A propósito de notícias sobre índios invadindo fazendas no Mato Grosso do Sul, veio-me à mente que nós estamos invadindo as terras deles desde 1500. Quem deu o direito aos colonizadores europeus de dizer que as terras eram deles se já havia pessoas morando aqui, conforme foi registrado oficialmente na carta de Pero Vaz? Será que o direito só vale depois que o descumprimos, tal como os EUA fazem em relação às tais "armas de destruição em massa"?

Roberto Abreu (por e-mail, 5/1), Rio

A demarcação de terras indígenas está sendo realizada de maneira equivocada. Fernando Collor, quando presidente, realizou grandes demarcações por pura propaganda e o governo Lula está copiando integralmente essa ação. Existe um romantismo ingênuo por parte dos indigenistas que defendem a idéia de que os índios são os donos da terra brasileira e que foram espoliados. Nada mais falso e ingênuo. Todos os brasileiros natos, depois de cinco séculos de trabalho nesta terra, são tão merecedores de um espaço quanto qualquer um. A demarcação de grandes extensões de terras contínuas englobando grandes áreas de fronteiras compromete a segurança nacional e agride os direitos dos habitantes destas regiões. Os brasileiros em Roraima devem ser ouvidos por plebiscito. Por outro lado, a idéia de manter as comunidades indígenas intocadas no mesmo estágio de desenvolvimento dos idos de 1500, é impraticável, pueril e até desumana.

Roberto Hugo da Costa Lins (por e-mail,Rio)

Sobre a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, o governador de Roraima não tem condições de defender os interesses autênticos de seu estado, pois está fragilizado politicamente em virtude de suas suspeitas de envolvimento no caso dos gafanhotos. Aproveitando-se desse fato, o ministro da Justiça presta um desserviço ao país. Ao demarcar-se,uma megareserva indígena em área contígua à fronteira nacional, sobre um rico subsolo, em uma região de difícil acesso, ainda não completamente integrada ao território nacional, desmontando-se uma esfera de poder de Estado (municipal) já existente, fornecem-se todos os elementos para que, no futuro, interesses contrários ao Brasil e aos próprios índios advoguem, por meio de ONGs e organismos internacionais, a necessidade de ingerência de países "desenvolvidos" para a proteção "humanitária e ambiental" dos "oprimidos povos da floresta'.

Ricardo Trovizo (por e-mail, 8/1), Rio

A questão fundiária sempre foi um dos mais sérios problemas de Roraima. 0 fato é que a maioria da população indígena do estado é contra a demarcação nos moldes do decidido pelo governo federal. 0 braço da União para ajudar os índios, a Funai, pouco faz por estes que estão sob sua tutela, sobrando para o Estado cuidar destes que são os grandes inocentes em toda essa confusão. índio quer fazer faculdade, ter seu carro, TV a cabo e ter seu plantio mecanizado. Não quer ser tutelado por ninguém. A manifestação dos arrozeiros é legítima e conta com apoio de 85% dos índios e 95% de não-índios. Demarcar a reserva Raposa Serra do sol a gosto da Funai é isolar os nativos e favorecer os interesses de uma minoria ligada à Igreja e algumas ONGs e seus respectivos países. Seu interesse não é cuidar dos índios, mas ter acesso à riqueza do subsolo do estado, à sua fauna e flora, sua grande biodiversidade.

Wendel Cordeiro de Lima (via Globo Online, 7/1), Boa Vista, RR

O Globo, 09/01/2004, Cartas dos Leitores, p. 6

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