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Temer vê desgaste político e avisa a ministros que usina será repensada

Valor Econômico, Especial, p. A12
04 de Ago de 2016

Temer vê desgaste político e avisa a ministros que usina será repensada

Daniel Rittner

O presidente interino Michel Temer vê a megausina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, como um desgaste político que deve ser evitado. Em conversas recentes com auxiliares, ele manifestou contrariedade com o impacto socioambiental do empreendimento e avaliou que o debate em torno da obra poderia ter um custo-benefício desvantajoso para o governo. Por isso, demonstrou intenção clara de repensá-lo.
Temer fez esses comentários em reunião do núcleo de infraestrutura, no Palácio do Planalto, e disse que pretende tomar uma decisão em breve. Diante da provável negativa à licença da hidrelétrica, o máximo que poderia fazer é estimular a retomada dos estudos de impacto socioambiental a partir da estaca zero.
A visão do governo interino difere da prioridade dada pela presidente afastada Dilma Rousseff e sua equipe ao projeto amazônico. Dilma deu liberdade ao Ibama e aos órgãos envolvidos no licenciamento - como a Funai - para se pronunciar, mas era uma firme defensora da usina. Tanto que o Plano de Investimento em Energia Elétrica (PIEE), um recauchutado programa de obras no setor lançado em agosto do ano passado sem grandes novidades, tinha justamente o Tapajós como maior destaque. A previsão era fazer o leilão até 2018.
Para assessores diretos de Temer, a construção de mais um empreendimento faraônico na Amazônia geraria desgaste excessivo para o governo, que ainda carece de pontes com os movimentos sociais. Além disso, o sistema interligado nacional trabalha atualmente com folga de capacidade e não se prevê nenhum tipo de restrição até meados da próxima década. Do ponto de vista do planejamento energético, há tempo de sobra para pensar em outras alternativas à perda de 8.040 megawatts (MW), potência estimada do Tapajós.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, avalia que a hidrelétrica é "dispensável" em um contexto de sobreoferta de energia no sistema e crescimento exponencial de fontes renováveis, como usinas eólicas e solares.
Já o novo comando do Ministério de Minas e Energia (MME) tem uma leitura cautelosa do significado de Tapajós para o planejamento energético. Enquanto a presidente afastada via esse tipo de megaprojeto como uma injeção de energia barata no sistema, as novas autoridades do setor argumentam que o valor do megawatt-hora de usinas como Jirau e Belo Monte só ficava em patamar razoável devido à fartura de "motivos artificiais" na equação.
A lista é extensa: financiamento subsidiado do BNDES, incentivos nas tarifas de uso das linhas de transmissão responsáveis pelo escoamento da eletricidade, desconsideração das perdas técnicas provocadas pela distância dos centros consumidores, concordância da Eletrobras e dos fundos de pensão estatais com taxas de retorno deprimidas.
"Não somos intrinsecamente contrários ao Tapajós", diz uma autoridade da área energética. "A questão é saber se o projeto continua parando de pé sem todos os subsídios embutidos na tarifa de Belo Monte.
Talvez faça mais sentido apostar, por exemplo, em térmicas movidas a gás natural perto dos centros de consumo."

Valor Econômico, 04/08/2016, Especial, p. A12

http://www.valor.com.br/brasil/4658285/temer-ve-desgaste-politico-e-avi…

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